Você já imaginou se o seu trabalho fosse lidar com cobras e outros animais silvestres diariamente? Para algumas pessoas, só de pensar no assunto, já bate a agonia. Mas para um biólogo de Jaraguá do Sul, lidar com as serpentes é apenas mais uma parte da rotina do cuidado com os animais.

Desde o início do trabalho na Fujama (Fundação Jaraguaense de Meio Ambiente), Christian Raboch já resgatou 371 animais dessa espécie. Mas se hoje é fácil para ele resgatar e ainda fazer graça com as cobras, nem sempre foi assim. Formado em Ciências Biológicas em 2017, ele conta que no início da carreira ainda havia um certo medo das bichinhas. “Apesar dos cinco anos na faculdade, eu saí de lá com muito medo de cobra. Só fui perder depois de seis meses trabalhando com elas”, relembra.
E para ele, muito do medo em relação a esses animais vem de um estereótipo criado em volta delas. “Desde pequeno, a gente aprende que cobra boa é cobra morta. Mas em Jaraguá do Sul, por exemplo, 90% das cobras resgatadas não são venenosas, são inofensivas”, destaca.
Se as cobras ainda assustavam Christian no início da carreira, o amor pelos animais, no entanto, vem desde criança. “Meu vô tinha sítio e eu tinha muito contato com bichos. Com dez anos, eu já cuidava de arinhos que caíam do ninho de toda a vizinhança. Desde pequeno, havia algo que me aproximava dos animais”, conta o biólogo.
Embora as cobras e os gambás sejam as espécies resgatadas com mais frequência na Fujama, muitos outros animais já aram pelas mãos de Christian. É o caso de um gato-maracajá, que está ameaçado de extinção e foi devolvido ao seu habitat natural pelos biólogos da equipe.

Além disso, outros resgates também marcaram o trabalho do profissional, como o caso de uma cobra caninana de quase dois metros de comprimento resgatada em um banheiro e o de uma outra cobra que “pegou carona” no motor de um caminhão e chegou a Santa Catarina.
“Os bichos se enfiam em lugares de difícil o. Já houve casos de gambá em máquina de lavar, em motor de carro e até cachorro do mato no Centro da cidade. O resgate de fauna é dinâmico e sempre acaba trazendo surpresas”, conta Christian.
Resgate tem aumentado e gerado conscientização 4a3f1s
Em 2017, 136 animais foram resgatados em Jaraguá do Sul, número que aumentou para 440 em 2020. O crescimento, segundo Christian, é resultado de um aumento da conscientização da comunidade, também gerado pelo próprio trabalho de resgate.
Antigamente, o resgate de animais era feito por um profissional da agricultura e pelos bombeiros da cidade. Foi a partir de 2017 que a Fujama ou a ser responsável pela captura e devolução dos animais aos seus habitats naturais. Desde então, já foram cerca de 1.100 resgatados.

“As cobras são o que chama mais atenção porque há muitos mitos criados sobre elas. Às vezes, é uma dormideirinha inofensiva e as pessoas pensam que é uma jararaca. Então, no resgate a gente já trabalha a educação ambiental”, destaca o biólogo.
Segundo ele, o retorno da população tem sido muito positivo e, se antes as pessoas optavam por matar os animais, hoje ligam para pedir que eles sejam resgatados. A orientação de Christian é que, ao ver uma cobra, sempre mantenha a calma, deixe os animais domésticos longe e chame o resgate. Depois de resgatados, os animais são levados ao seu habitat natural em um dos 15 pontos de soltura em Jaraguá do Sul.
“Eu falo que às vezes nem parece que é trabalho. O dia é dinâmico, você está na rua pegando um animal e, de repente, está na hora de ir embora”, conta. A rotina de Christian e todo o trabalho com as cobras e outros animais pode ser conferida no Instagram do biólogo.