Um mês de enchente no RS: paratleta volta de Mundial e descobre casa destruída 6j1n71

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Wallison Fortes retornou para Eldorado do Sul com a medalha de ouro e o sonho de dar um novo lar para a mãe.

A dúvida entre seguir o próprio sonho e não abandonar a família em um momento difícil quase impediu que Wallison Fortes, de 27 anos, conquistasse o Mundial de Atletismo Paralímpico, na modalidade 200m T64, para atletas com amputação unilateral abaixo do joelho, e a vaga direta para os Jogos Paralímpicos de Paris, que começam em agosto.

Wallison Fortes retornou para Eldorado do Sul com a medalha de ouro - Arquivo Pessoal/ND
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Wallison Fortes retornou para Eldorado do Sul com a medalha de ouro - Arquivo Pessoal/ND
Wallison Fortes retornou para Eldorado do Sul com a medalha de ouro - Arquivo Pessoal/ND
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Wallison Fortes retornou para Eldorado do Sul com a medalha de ouro - Arquivo Pessoal/ND

Morador de Eldorado do Sul, na grande Porto Alegre, viu a água invadir a residência onde vive com a família pouco antes da viagem, situação que o fez pensar em desistir da competição.

“Foi muito complicado decidir isso no momento em que tudo estava um caos. Se colocar o título mundial e a minha família em uma balança, o mundial acaba virando em nada, minha família vale muito mais”, conta o paratleta.

O sentimento foi compartilhado com o amigo e protesista, Vinícius Saramento, que não apenas o incentivou a viajar, como o levou de carro até Florianópolis, de onde voou rumo à São Paulo, de onde partiu para Kobe, no Japão.

A família já havia ado por uma situação parecida, então, naquela semana, retirou os eletrodomésticos e os levou para a casa de um familiar.

“Meus pais ficaram na casa do meu irmão, também em Eldorado. Quando eu vi que ficaram em segurança, eu optei por ir para o mundial. Eu sabia que eles estavam desalojados, mas sabia que eles estavam bem de saúde, que não corriam riscos, isso me motivou a viajar”, afirma.

Esta foi a segunda vez, em um intervalo de seis meses, que a família precisou sair de casa em decorrência das enchentes.

Parte do treinamento de Wallison Fortes – Vídeo: Arquivo Pessoal/ND

A prova foi realizada no dia 25 de maio. O gaúcho terminou como segundo colocado, mas o italiano sco Loragno, que liderou os 200 metros, acabou pisando na linha da raia e acabou desclassificado. Com isso, Wallison, que se jogou na chegada para ficar na frente dos adversários, trouxe o Ouro para o Rio Grande do Sul.

“Eu sou hoje a forma da minha família ter uma alegria” t5238

Em novembro de 2023, a casa do paratleta foi tomada pelas águas, em meio à outra enchente que atingiu o Rio Grande do Sul. À época, a família precisou deixar a residência com água na altura do joelho. “Foi a primeira vez que aconteceu, em vinte anos que a gente mora lá, foi um baque muito grande”, destaca. Mais de 2,4 mil pessoas ficaram desalojadas naquele período.

O fenômeno ado fez com que a família se preparasse para deixar a residência, novamente, em decorrência de mais uma elevação dos rios Jacuí e Guaíba. A evacuação do ano anterior ocorreu no mesmo período dos Jogos Parapan-Americanos, para os quais Wallison não havia sido convocado. Desta vez, a situação era diferente.

“Eu sabia que estar ali não iria resolver nada, então eu pensei que tinha que ir porque eu sou, hoje, a forma da minha família ter um escape, a ter uma alegria pelo menos, então foi isso que eu fui buscar lá no Japão e deu certo, né?!”, comemora.

Recomeçar é a palavra 5u1819

Enquanto estava em Kobe, sede do Mundial, o paratleta recebeu informações superficiais sobre as enchentes que atingem o Rio Grande do Sul. Mesmo tendo noção de que algumas cidades já sofriam com grandes estragos, jamais imaginou que a casa em que vivesse tivesse sido arrasada da maneira que foi.

“Eu fazia chamada de vídeo com a minha família e, dois dias antes da competição, eu liguei e eles não quiseram me atender porque eles estavam lá na nossa casa. Aquilo ali já mexeu muito comigo porque eu vi no semblante deles a tristeza, mas até nisso eles me ajudaram porque foi mais importante eu ver a realidade aqui, podendo ajudar de alguma forma, do que ter visto lá no Japão e não poder fazer nada. Acho que isso teria me causado um desespero grande”, acredita Wallison.

Situação da casa do paratleta – Vídeo: Arquivo Pessoal/ND

O campeão mundial desembarcou na Base Aérea de Canoas e foi recebido por amigos e familiares. De lá, foram até Eldorado do Sul e Wallison viu a casa onde cresceu, completamente destruída.

“A parte debaixo toda foi perdida, móveis, a maioria das coisas não dá pra recuperar. Os eletrodomésticos que levamos pra casa do meu irmão também perdemos porque lá foi alagado também. No momento a gente não sabe se vai voltar para lá, futuramente, talvez, a gente volte, mas isso é uma incógnita ainda. Agora é recomeçar, essa é a palavra”, destaca o paratleta. Um dos patrocinadores já se comprometeu em auxiliar nesta retomada, doando toda a parte de eletrodomésticos para a família.

Preparação para o sonho paralímpico 4l371o

O Centro Estadual de Treinamento Esportivo (CETE) é o local onde Wallison treina seis vezes na semana, mas desde que as enchentes começaram, o espaço vem sendo utilizado como abrigo pelo poder público, as atividades foram transferidas para a Sociedade de Ginástica de Porto Alegre (Sogipa), um clube privado que abriu as portas para receber o paratleta.

“A Sogipa é uma instituição vinculada ao esporte desde a sua fundação, há mais de 150 anos, então, consideramos a nossa obrigação ajudar os nossos atletas, mas também aqueles precisam da nossa ajuda. Por isso, convidamos o Wallison a treinar aqui”, afirma Fernando Girard, diretor de atletismo da Sogipa.

Parte do treinamento de Wallison Fortes, paratleta de atletismoParte do treinamento de Wallison Fortes – Foto: Arquivo Pessoal/ND

Wallison Fortes e a família estão morando em um apartamento alugado, próximo ao Clube. Com esta preocupação a menos, o foco de Wallison se volta para o principal desafio na carreira até aqui, que acontece em pouco mais de dois meses: os Jogos Paralímpicos de Paris 2024.

“Já era meu objetivo principal, mas agora mais ainda porque não é uma conquista pessoal. A Paralimpíada é o que nos dá mais recurso se a gente for medalhista, então acredito que lá também está a chave da casa da minha mãe”, diz Wallison.