A amante é sempre a mulher infeliz, vilã e que quer destruir o casal e a família? p6g2c

E quando ser amante faz parte dos desejos femininos que não condizem com as normas ditadas pelas sociedades? 561e2v

Nas últimas semanas diversas notícias têm sido veiculadas nas mídias sobre traições conjugais. Isso reafirma que a relação entre duas pessoas ou mais é algo tão íntimo, mas também social.

O tema infidelidade tem diversas camadas e definições. E hoje vou te convidar a refletir sobre um recorte deste tema. Como a condição de amante está sempre relacionada à traição, eu vou falar sobre infidelidade pela identidade da mulher amante. E quando os desejos femininos não condizem com as normas ditadas pelas sociedades?

Amante é sempre vilã E quando os desejos femininos não condizem com as normas ditadas pelas sociedades? – Foto: Pexels / ND

Eu vou trazer aqui reflexões da minha prática clínica e na plataforma Sexo sem Dúvida, afinal, são 25 anos no lugar de escuta enquanto psicóloga, além de diversas leituras científicas sobre o tema. E sigo recebendo os mais diversos relatos de mulheres que escolhem ser amantes em uma relação afetiva.

Será que existe uma identidade da mulher heterossexual amante de um homem casado?

Casos amorosos entram para a história. Se pensarmos na história do Brasil, temos a memorável história de Carlota Joaquina, que foi apontada como amante do comendador. Quer saber se ela foi vítima de conspiração ou realmente adúltera? Então sugiro que você assista ao filme “Carlota Joaquina”, de Carla Camuratti (1995), e conheça uma das mais odiadas personagens da história colonial brasileira.

Lembrei de outra personagem para ilustrar essa conversa. O clássico filme Atração fatal (1988), com Glenn Close e Michael Douglas, que traz a representação da amante como vilã. Alex retrata a mulher fatal e perigosa que ameaça a família. Se não assistiu, fica aqui mais uma dica. Eu, particularmente, tenho medo da Alex, mas sei que ela não representa todas as mulheres amantes.

Qual costuma ser o destino da amante? 324p4i

Será que o destino da mulher amante é sempre infeliz? Com a morte, a velhice ou a solidão? A amante é sempre uma vilã, a mulher fatal que tem por objetivo destruir o casal ou a família?

Odiada e invejada. Sempre oculta. Na relação, ela não exerce a função socialmente desejada e esperada de esposa e mãe. Tem ali outros papéis. Mas muitas são mães e esposas em suas relações “oficiais”. Sim, há as mulheres amantes solteiras e as mulheres amantes casadas. Estas desafiam duplamente as normas sendo amante e infiel ao mesmo tempo.

Bom, aqui vamos conversar sobre a mulher amante sem julgamentos. Sei que é polêmico e incômodo, já que mexe em valores e estruturas. Mas, é necessário refletir sobre a outra sem as acusações que delimitam esta mulher, já que ela pode ser você, sua mãe, sua irmã ou sua amiga.

Sabemos que as sociedades constroem as relações sociais de gênero, ou seja, o que se espera do homem e o que se espera da mulher, e como devem se relacionar. Com isso, qual seria o papel da amante e quais as consequências provocadas neste lugar?

Não existe um papel único que se aplique a todas as mulheres amantes e precisamos falar sobre isso.

Difícil falar sobre a amante e não trazer a pesquisa da antropóloga Mirian Goldenberg, que nos presenteou com o livro “A outra: Estudos Antropológicos sobre a Identidade da Amante do Homem Casado”, de 1990.

Através das narrativas das próprias mulheres amantes, a autora revela a existência de um mundo de fantasias e segredos vividos por algumas amantes e relações que podem ser rápidas e também duradouras. Mostra ainda que não é regra essa mulher vilã destruidora de lares, que muitas vezes a mulher amante nem quer que o homem se separe, mas vive a culpa de estar nessa relação. Mostra também que na maioria dos relacionamentos extraconjugais, o vínculo é emocional.

Logo, a condição de amante  é um lugar de ambivalência, ou seja, de conflito entre sentimentos contraditórios. E ter de guardar um segredo define uma fronteira entre o que é público e o que é estritamente privado neste caso. Esse segredo em comum pode ser um fator de coesão.

Há algumas mulheres que se apaixonam e só depois ficam sabendo que o homem é comprometido, uma vez que muitos escondem a sua condição deixando a mulher à mercê de promessas de separação. Enquanto outras estão plenamente conscientes da escolha de estarem junto a um homem comprometido. E temos ainda as mulheres que tem questões de autoestima e financeiras para resolverem.

Existem as mulheres que se envolvem por interesse financeiro, poder ou questões sociais. Porém, é preciso não aderir ao senso comum de traçar um perfil de mulheres que são amantes como pessoas com baixa autoestima e carentes, que têm dependência emocional e querem segurança e atenção do homem, geralmente mais velho.

A vida e as pesquisas também nos revelam que na tão condenada condição de amante podem haver sentimentos verdadeiros, paixões, verdade de sentimentos. Não escolhemos por quem vamos nos apaixonar. Mas lembro que amar é uma escolha.

Quais seriam as motivações para fazer a escolha de ser amante? Há um lado bom em ser a outra?

Há um fascínio por esse amor proibido. Os encontros escondidos, a adrenalina do perigo, as memórias criadas. Geralmente são relacionamentos intensos e desprovidos de “boletos”, o que facilita a manutenção do romance.

Mas não está imune a sentimentos diversos. Podem ser uma fuga às dores e frustrações da vida. Podem durar anos. Podem gerar proximidade emocional e sexual. E, ainda, ser fonte de outras dores e frustrações. Somente a dimensão do amor, mais uma vez, não dará conta de toda a relação.

Interessante trazer também aqui que são relações em que a fidelidade também é um valor. Não a fidelidade obrigatória da nossa sociedade, mas a fidelidade amorosa, aquela que valoriza a sinceridade, a cumplicidade e a autenticidade. Espera-se ser um lugar desprovido de mentiras, já que vivem juntos um segredo. Preza-se pela satisfação, também sexual, do casal e não de vínculos obrigatórios. Como é uma relação sem compromisso formal, a relação é construída dia após dia, como todas deveriam ser.

Não seria melhor se pudéssemos viver nossa sexualidade e nossos relacionamentos de maneira mais livre, sincera e saudável? As conquistas dos movimentos feministas e os estudos sobre a não-monogamia ainda não foram suficientes para superar o preconceito contra as mulheres que não seguem os padrões sociais.

E os homens que estão com estas mulheres? Toda honra e glória a sua masculinidade? Sim, muitos os têm sido dado na trajetória de igualdade de gênero, mas a infidelidade ainda tem diversos resquícios morais, sociais e pessoais.

O preconceito não recai sobre o homem que está traindo e sim sobre a mulher amante. A sociedade é tolerante com traição masculina. E a monogamia feminina? Onde entra nessa história? Mas essa é uma conversa para outro momento.

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