Conheça o poder nutritivo das PANCs 3c13

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As Plantas Alimentícias Não Convencionais são pouco usadas no dia a dia pela maioria da população, mas podem ser aproveitadas em várias receitas

Em Santa Catarina, ninguém entende mais de Pancs (Plantas Alimentícias Não Convencionais) do que o manezinho Alésio dos os Santos.

Apesar dos seus 71 anos, o Bruxo das Plantas, como é carinhosamente conhecido, não para. Ele viaja pelo mundo reando conhecimento e em busca de plantas para aumentar a sua coleção. 

O manezinho Alésio dos os Santos é referência em Santa Catarina quando se fala em Plantas Alimentícias não Convencionais – Foto: Leo Munhoz/NDO manezinho Alésio dos os Santos é referência em Santa Catarina quando se fala em Plantas Alimentícias não Convencionais – Foto: Leo Munhoz/ND

Ambientalista há mais de 20 anos, graduado em licenciatura plena em estudos sociais e especialista em plantas medicinais, o morador da Lagoa da Conceição exibe uma coleção de mais de 700 plantas medicinais, dentre elas em torno de 200 Pancs, dos mais diversos países do mundo no quintal de casa. 

“As Pancs são plantas rústicas, que vivem em um ambiente natural escolhido por elas, não am por melhoramentos. Atualmente devemos utilizar em torno de 20 plantas durante a vida. E a gente tem muita carência de ômegas, principalmente o ômega 3, e essa carência a gente encontra nas plantas espontâneas. A beldroega, por exemplo, que está nas calçadas, nas ruas, é alimento no mundo todo, é rica em ômega 3”, destaca.

Atualmente, Alésio coordena o Projeto Farmácia Viva Itinerante, visitando mais de 200 municípios só em Santa Catarina para divulgar o uso adequado e os benefícios das Pancs.   

A nutricionista Suzi Barletto Cavalli acredita que a alimentação saudável também visa valorizar alimentos dos biomas brasileiros de produção que fazem parte dos nossos hábitos alimentares.

“E, ainda, resgatar alimentos que deixaram de ser produzidos e comercializados ou que não são tão conhecidos, como as Pancs, que fazem parte da regionalidade e têm na sua composição uma qualidade importante de nutrientes”, finaliza.

Tradição antiga, mas esquecida 2l5s1i

Alésio comenta que as Pancs viraram moda, mas a maioria das pessoas ainda têm poucas informações sobre elas. Algumas são utilizadas há 2, 3 mil anos em outras culturas. 

“Então a gente precisa conhecer como eles usavam naquela época. Essas plantas têm um grande potencial para o futuro da humanidade. Embora a gente esteja perdendo os ambientes naturais com a capina utilizando herbicidas, grandes roças, avanço das cidades, a gente está perdendo praticamente todo esse patrimônio. Temos que resgatar o uso dessas plantas na cultura. Quanto mais as pessoas conhecerem sobre essas plantas mais possibilidades a gente tem de uso”, afirma ele. 

Para Alésio, é preciso ter oficinas de gastronomia com degustação dessas plantas e trabalhar com diversos profissionais, com uma equipe multidisciplinar.

“São profissionais que precisam estar envolvidos. É um grande movimento que está junto com a agroecologia e a agrofloresta. Nós temos plantas muito interessantes que podemos trabalhar na agroecologia. Tem algumas que são repelentes de insetos para não precisar usar veneno na roça. Na Europa, por exemplo, a beldroega já faz parte das feiras orgânicas e, para nós, é mato”, relata Alésio.

O manezinho também ressalta a importância das sementes crioulas como um grande patrimônio da humanidade.

“Porque são sementes rústicas que não aram pelo melhoramento genético e não são transgênicas. São sementes muito mais fáceis de se adaptar ao ambiente natural onde vivem”, completa. 

O especialista também faz um alerta. Embora as Pancs sejam fáceis de se encontrar no ambiente natural de Florianópolis, é importante colher em local seguro de poluição.

“Elas podem estar contaminadas com as capinas, com herbicidas, coliformes fecais de animais, metais pesados de descarga de carros. O bom é cultivar no seu ambiente local”.

Menu completo no Natal  6t81i

Cléa Bregue Daniel, gastrônoma, trabalha com reaproveitamento total de alimentos orgânico e Pancs. Ela também concorda que as Pancs são uma tendência até pelo baixo custo. “Por ser espontânea, tem em abundância e dá para substituir por tudo que uma alimentação normal tem. Eu fiz uma ceia de natal com entrada, prato principal e sobremesa só com Pancs”, diz ela.

Ao ser questionada sobre a fome e o desperdício a gastrônoma comenta que pessoas não sabem reaproveitar. “Elas comem mal por que não sabem reaproveitar os alimentos. A maioria dos alimentos dá pra aproveitar tudo, principalmente os orgânicos. A comida que sobrou de um dia para o outro pode fazer um prato melhor do que o primeiro”, explica.

5 PANCS mais comuns no litoral  29562l

  • 1    DENTE-DE-LEÃO (Nome científico: taraxacum officinale): O prazer de todas as crianças é dispersar suas sementes soprando o pompom. Suas flores brilham como o sol. Planta europeia, mas encontrada em nossos ambientes. Usada em sucos, saladas, refogados. As suas raízes secas são usadas no substituto do café. É preciso fazer uma ou duas vezes ao ano uma depuração, pois contém muitas impurezas. 
  • 2    BELDROEGA (Nome científico: portulaca oleracea): Essa planta está nas nossas calçadas e é muito rica em óleo graxo ômega 3. Temos carências de ômegas por causa do tipo de alimentação industrializada. Os ômegas são marcantes em alguns peixes de alto mar e águas frias. Podemos comer a beldroega em sopas, colocar no arroz ao final do cozimento, em omeletes, recheios de pastel.
  • 3    TANSAGEM/TANCHAGEM (Nome científico: plantago major): Essa planta é mais conhecida como uma planta medicinal para dor de garganta, picada de inseto, banho íntimo para cistite e mioma. É um anti-inflamatório poderoso. As sementes podem ser deixadas descansando em um copo de água de um dia para o outro, formando um gel laxante, que protege a parede do intestino. Suas sementes podem ser usadas em cobertura de pães e saladas, já suas folhas podem ser usadas em sucos. 
  • 4    CARAGUATÁ/ GRAVATÁ-DA-PRAIA (Nome científico: bromelia antiacantha): Panc muito utilizada pela medicina no ado. Era xarope que ajudava na cura de tosse, bronquite e asma. O princípio ativo da bromelina é anti-inflamatório usado para as vias respiratórias, pois ajuda a soltar o muco. Além de servir de comida para as aves e indígenas, dá excelentes doces e geleias.
  • 5    PICÃO-PRETO, CARRAPICHO (Nome científico: bidens pilosa): Quem nunca saiu no mato e ficou com a roupa cheia de picão? Na medicina popular ela é usada em banhos para crianças que nascem com amarelão. É usada contra hepatite e cirrose hepática proveniente do uso de álcool ou cigarro. Indicada para os diabéticos para diminuir a taxa de açúcar no sangue. Também pode ser feita infusão de todas as partes da planta e lavar as feridas de difícil cicatrização dos diabéticos. Na culinária pode ser usada em risotos, omeletes e outros pratos, sempre usando os brotos mais novos.
Tempurá de chaya e crispy de folha de chuchu é um dos pratos feitos por Alésio com as PANCs – Foto: Leo Munhoz/NDTempurá de chaya e crispy de folha de chuchu é um dos pratos feitos por Alésio com as PANCs – Foto: Leo Munhoz/ND