Seria o poliamor uma nova forma de conjugalidade ou uma expressão velada do machismo para privilegiar os homens em relação à poligamia? Este é um questionamento recorrente em meus atendimentos no consultório e na plataforma Sexo sem Dúvida, com a qual colaboro, e fundamental para pensarmos as novas formas de amar e seus desdobramentos.

O poliamor é uma forma de conjugalidade que envolve mais de duas pessoas que se relacionam afetiva e/ou sexualmente ao mesmo tempo. Por definição, são relações baseadas em respeito, ética e consentimento, independe de identidade de gênero e orientação afetiva e sexual. Logo, relações poliamorosas não devem ser resumidas a um homem e várias mulheres.
Há muitos estudos e vivências sobre ser não-monogâmico(a) em curso. A psicanalista Regina Navarro e sua clínica de sexualidade vêm nos mostrando que, tanto o amor romântico quanto a monogamia, têm sido repensadas. E a tendência, é sim, de mudanças nas formas de se relacionar, apesar do modus operandi.
Mas podemos dizer que a resistência às novas formas de amar vêm muito da concepção do amor romântico que aprendemos culturalmente, em que o casal é formado apenas por duas pessoas, de gêneros diferentes, ou seja, heterossexuais, que se complementam e são fiéis. E quando falamos em amor romântico como conhecemos, também falamos em machismo, em fidelidade basicamente feminina e em ciúme como prova de amor.
Por isso é tão importante diferenciar poliamor de poligamia, uma vez que são vivências bem distintas.
No poliamor a decisão de incluir mais pessoas na relação é tomada por todos os envolvidos. Com respeito, ética e consentimento, os poliamoristas acreditam que é possível amar e se relacionar com mais de uma pessoa ao mesmo tempo e vivenciam estes sentimentos.
Não é suruba, pois a relação vai além do sexo em si e nem todas as pessoas se envolvem sexualmente. Há amor, vivências afetivas voltadas a todos que estão na relação. O ciúme pode acontecer, porém, quando o sentimento aparece, deve ser conversado como forma de superar o desconforto.
Poliamor também não é traição, pois as pessoas se identificam como não-monogâmicas, ou seja, permitem-se vivenciar amores múltiplos. Tampouco é libertinagem, pois há regras, ética e acordos.
Na poligamia, definida por múltiplos casamentos ou relações, as decisões são unilaterais. Uma pessoa, geralmente o homem (poliginia) é quem decide se casar ou se relacionar com outras mulheres, independente de consentimento e equidade nas relações.

Raras são as sociedades que permitem à mulher o direito unilateral a ter outros parceiros (poliandria). Perceba que aqui também não há fluidez nas vivências da sexualidade. É pautada no homem e na mulher. O machismo impera. Vale lembrar que os múltiplos casamentos heterossexuais não são permitidos por lei no Brasil.
Se você se sente bem sendo monogâmica, tudo bem. Você não precisa mostrar-se “não travada, moderna e atual” (adjetivos geralmente impostos por homens) se isto não te faz bem. E saiba que isto não te define. E, se você adora novas possibilidades de relacionamentos também está tudo bem, desde que a decisão de estar em uma relação poliamorista seja sua, de livre e espontânea vontade.
A liberação sexual feminina é para além de bem-vinda, é necessária. Porém, o empoderamento sexual de mulheres não deve servir aos desejos sexuais masculinos.
É preciso tomar cuidado com a verdade única. Ou seja, não existe uma única forma de se relacionar. Existem pessoas monogâmicas que vivem e se relacionam bem e têm prazeres em um relacionamento a dois (duas). Bem como há pessoas não monogâmicas que vivem bem também.
Precisamos abrir espaço para as diversas formas de se relacionar e estilos de vida para que todos tenham escolhas, boas relações e vida sexual prazerosa. Respeito às diversas formas de amar é fundamental.