Antigamente, tudo era só mato. Na base da enxada, do carrinho de mão e de muita paixão pelo esporte, porém, o campeão nacional Marco Aurélio Tocha juntou um grupo engajado de atletas e transformou um terreno baldio em Palhoça, na Grande Florianópolis, em uma pista de bicicross ível à comunidade.

Os trabalhos começaram há cerca de cinco anos. Agora, as 10 rampas, com duas curvas, convidam a criançada de toda a região – e quem mais queira – à prática do esporte. Tudo isso de forma gratuita e segura, já que a estrutura foi pensada para abrigar atletas amadores, sem técnicas rebuscadas e arriscadas.
A pista fica na avenida das Torres, no bairro Pagani. A ideia, inclusive, é transformar o local em uma escolinha de BMX (sigla para bicicross) daqui a um tempo. O atleta já apresenta palestras sobre a modalidade em escolas da região.
O processo leva tempo, já que o projeto foi quase todo executado com dinheiro dos próprios colaboradores. A prefeitura até chegou a disponibilizar uma máquina, “mas a maior parte foi feita no braço mesmo”, afirma Tocha. “Um vereador ajudou a gente também com algumas ‘carradas’ de barro, para dar uns retoques”, completa.
Além de Tocha, como é conhecido no bicicross, ajudaram na construção da pista os chamados “Dinoussauros da BMX”, um grupo de esportistas das duas rodas “das antigas” – relata o medalhista, com mais de 20 títulos brasileiros.
“A gente andava junto na década de 80, quando tinha uma pista de BMX no shopping Itaguaçu. A gente se reúne ali com uma vaquinha, cada um ajuda com R$ 50, R$ 100, R$20, e fazemos o que tem que fazer”, conta.
Projeto conquistou a vizinhança 3c654m
A vizinha da pista, Miria Juttel, de 61 anos, é testemunha do esforço dos atletas. Incentivadora do esporte, mas sem tanta força para colocar a mão na massa, ela decidiu contribuir como pôde. Desde o início das atividades, Miria guarda as ferramentas dos pilotos na própria casa, assim que eles acabam o trabalho do dia.
“Minha ajuda é insignificante perante os esforços deles, que fazem a pista com carrinho de mão, pás e enxadas. Sei da luta e sacrifício para terminar a pista sozinhos”, afirma.
Miria ainda é a provedora oficial do coffee break com Coca-cola gelada e água fresca dos finais de semana sob o sol. “Ela é testemunha de tudo que a gente já fez na pista”, garante Tocha. Ele colecionou bons amigos nesta empreitada.
Atletas de todo o lugar 1e2s4z
O bicicross consiste numa corrida em pistas de terra. Começou timidamente entre os anos 60 e 70, nos Estados Unidos, quando as crianças imitavam os ídolos do motocross nas bicicletas.

No caso da pista de Palhoça, a galera jovem também é responsável pela maior parte das manobras. O pequeno Rafael, de 7 anos, por exemplo, vem do Sul da Ilha, em Florianópolis, só para arriscar umas corridas com o pai, Vinicius Bredariol. Ele participou de competições de mountain bike entre 1985 e 1990.
“O único lugar que ele tem para praticar na grande Florianópolis”, revela Vinicius.
Tem dado tão certo que o esporte se tornou uma das grandes alegrias da dupla. Os dois descobriram o local em 2019 e logo aram a treinar juntos na cidade vizinha. “A pista de BMX tem uma importância muito grande para o Rafael”, conta o pai orgulhoso.
A estrutura tem cantos arredondados para que todas as pessoas possam se divertir em segurança. “Ali, aparece criança de cinco anos e tem velhinhos de mais de 50”, conta Tocha.
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Ele explica que não tem muita regra para entrar na brincadeira. A orientação, contudo, é usar capacete com queixeira e roupas compridas, para evitar lesões no caso dos tombos inevitáveis.
Já o modelo da bike costuma ser o de BMX mesmo, que é menor em relação àquelas bicicletas de mountain bike, por exemplo. “Essa não é indicada para andar ali, porque a geometria dela é diferente”, explica. “Dá para andar. Só não dá para fazer as loucuras que a gente faz. Tocha migrou para as competições de mountain bike nos últimos anos.