Há 62 anos atuando como médico, o cardiologista Antonio Silveira Sbissa, 85, é um dos mais antigos que ainda trabalha em consultório na cidade de Florianópolis. Ele já foi presidente do Conselho Regional de Medicina de Santa Catarina e da Academia Catarinense de Medicina, além de ter sido fundador e presidente da Sociedade Catarinense de Cardiologia.
O médico é pai de quatro filhos, sendo três do primeiro casamento – o advogado Marco Antônio Mendes Sbissa, o psicólogo Pedro Paulo Mendes Sbissa e a nutricionista Silvana Mendes Sbissa – e Gustavo Sbissa, 43, médico clínico geral e filho da médica cardiologista Loisiane Anacleto Sbissa, com quem o cardiologista é casado desde 1976. Ele, a esposa e o filho de ambos trabalham juntos na Clínica Sbissa, localizada na Avenida Mauro Ramos, referência em cardiologia no Estado.

O doutor Antonio também é avô de dois netos, Giovana, 12,e Marco Antônio, 4, o caçula querido da família. “Para mim, ser avô é uma doçura, como já dizia uma expressão conhecida: ‘Neto é filho com açúcar’”, declara carinhosamente.
Antonio conta que, na visão de sua mãe, ele tornou-se médico por causa da iração pelo Dr. Djalma da Costa Moellmann, criador da Casa de Saúde São Sebastião. Mas em conversa com a jornalista especial do Grupo ND, Sbissa revela a sua paixão pela cardiologia: “Sempre tive interesse pelas doenças do coração e pela história dos fundadores da cardiologia mundial”.
Em meados dos anos 1950, Antonio Sbissa era um jovem de 17 anos que tinha um sonho: ingressar no curso de Medicina. Mas para isso precisou mudar de cidade, pois ainda não existia faculdade nessa área em Santa Catarina. “Naquele tempo, não havia faculdade de Medicina aqui, por isso eu e meus amigos Mario Gentil Costa, Nei Luiz Gonzaga, Murillo Capella e Roberto Carneiro Rila decidimos prestar vestibular na Universidade Federal do Paraná, em Curitiba”, relembra.
Ao ingressar no curso, Sbissa ou apenas alguns semestres morando em uma pensão de estudantes junto com os amigos. “Logo no segundo ano de Medicina, meu pai, o jornalista, Antonio Telles Puccini Sbissa, faleceu e, por isso, minha mãe, Jandyra Silveira Sbissa, foi morar em Curitiba junto comigo, pois sou filho único”, conta.

Assim que se formou, em 1960, Sbissa foi para a capital paulista fazer o curso de aperfeiçoamento em Cardiologia na Universidade de São Paulo. “Mas em seguida voltei a Florianópolis para, junto com o médico cirurgião Dr. Isaac Lobato Filho, dar início ao primeiro Instituto de Cardiologia do Estado”, explica.
No o início da década de 1970 ele e seu amigo médico anestesista Danilo Freire Duarte ficaram aproximadamente quase um ano em Virginia Commonwealth University, nos Estados Unidos, cada um se aperfeiçoando em sua respectiva área médica. Além de já atuar como médico, em meados da década de 1960 Sbissa também ingressou na primeira turma do Curso de Medicina da Universidade Federal de Santa Catarina como assistente do professor Polydoro Ernane de São Thiago, na disciplina de Semiologia Médica. E em 1980, tornou-se professor titular na UFSC, onde atuou durante 30 anos. Também foi professor na Univali e na Unisul.
No curso de Cardiologia, em São Paulo, Sbissa aprendeu muito com os ícones da cardiologia brasileira Dr. Luiz Venere Décourt e Dr. Euryclides de Jesus Zerbini. “O professor Décourt dizia que a Medicina é ciência, docência e assistência. A nossa vocação é o desejo de tratar os pacientes, ensinar a nossa ciência e participar em seu aperfeiçoamento científico. Ensinar, portanto, é uma importante parte da nossa vocação”, avalia.
Para o cardiologista, apesar dos avanços da Medicina, há uma parte que precisa ser mantida: a relação humanizada entre médico e paciente. “A tecnologia é muito importante para o diagnóstico, porém os exames são ‘complementares’ e devem ser realizados após completa anamnese, interrogatório sobre os sintomas do paciente e do exame físico. E por fim, é o raciocínio clínico que orienta essa complementação,” explica.
Além da Medicina, Sbissa é apaixonado pelo escritor argentino Jorge Luis Borges, do qual possui todas as obras, e também já esteve presente no museu dedicado ao autor, em Buenos Aires. Além de um leitor assíduo, o médico é fã do cinema clássico francês da nouvelle vague, como os filmes de François Truffaut e de Jean-Luc Godard.
Ainda na mocidade, Sbissa desenvolveu outro hobby: andar de motocicleta pela cidade nos finais de semana com os amigos. “Eu ainda me sinto um guri, mas a minha família, por segurança, prefere que eu não ande mais de moto”, explica. Apreciador de boa gastronomia e de um bom vinho, o médico foi um dos membros fundadores do Clube dos Gourmets e lá desenvolveu a sua amizade com o fundador do Grupo ND, Mário José Gonzaga Petrelli. Além disso, é membro do Clube de Vinhos dos Médicos, que ficou parado durante a pandemia e deve retomar as atividades em 2023.
O hábito de viajar também faz parte da trajetória de vida do médico. No final da entrevista, ele revela a viagem que mais o emocionou na vida: “Meu avô era de origem croata, mas morou muitos anos em Trieste, no nordeste da Itália, antes de vir para o Brasil, casar com a minha avó e constituir família. Contudo, pouco antes de falecer, ele decidiu voltar para a cidade italiana. Quando estive lá e visitei o seu túmulo, foi uma emoção que não pude conter”, declara o cardiologista mais querido da cidade e de coração generoso.