A escritora, professora e ativista indígena Eliane Potiguara, de 72 anos, é uma das convidadas para participar do debate sobre o filme “A Última Floresta”, após a exibição na 4º Mostra Brasil de Cinema, que acontece entre os dias 13 e 16 de julho, na Praça Bento Silvério, na Lagoa da Conceição, em Florianópolis.

Eliane vai compor a mesa de debates no evento com Luíz Bolognesi e a liderança indígena Mbya Guarani, da terra indígena Morro dos Cavalos, em Palhoça, Kerexu Yxapyry.
A obra foi adaptada ao cinema com roteiro do líder Yanomami Davi Kopenawa e do diretor Luíz Bolognesi. O filme é parte documentário, parte encenação. Todos os personagens são pessoas reais, membros da mesma comunidade Yanomami.
O livro, em que o filme foi adaptado, foi produzido em conjunto com o escritor e antropólogo Bruce Albert, e recebeu o nome de “A Queda do Céu – Palavras de um Xamã Yanomami”, e mistura crítica social e política, na qual Davi Kopenawa descreve costumes, tradições e a cosmogonia de seu povo.
“De cara, a narrativa pode não parecer ser uma denúncia e sim uma demonstração para o homem branco das dificuldades, dos costumes e da espiritualidade do povo Yanomami, apresentando esses conflitos de dentro para fora”, explica Eliane.
Porém, a escritora reflete que, junto da parte lúdica de se contar uma história, a obra acaba se transformando em um documento de denúncia. “As agruras sofridas por tanto tempo por uma população que quase foi dizimada por tantas ameaças, sua realidade, seu cotidiano, seus hábitos e costumes num pedido de respeito costurado por uma narrativa ao mesmo tempo singela e agressiva”.

Eliane, além de ser companheira de luta, também é amiga do roteirista Davi Kopenawa Ela se diz animada por estar pela primeira vez em Santa Catarina para falar sobre uma obra que ela descreve como “quase poética” e que trás “reflexo de décadas de luta de um povo em defesa de seu território contra diversas ameaças como o garimpo e suas consequências”, assunto que atualmente está sendo amplamente discutido após as invasões de garimpeiros nos territórios yanomami, junto da denúncia de estupro e morte de uma menina indígena durante essas invasões.
“Esse Marco Temporal, pautado pelo Governo Bolsonaro é contra a constituinte de 1988, é um contradição, pois os povos indígenas têm o seus direitos indígenas estabelecidos na carta magna e nas convenções que aconteceram no Plano Internacional, como a Declaração Universal dos Direitos Indígenas, e esses direitos estão sendo extremamente desrespeitados. Isso reflete nas situações que nós estamos enfrentando”, ressalta Eliane.
A escritora exalta a importância de ter duas mulheres indígenas na mesa de debate, e relembra que o filme mostra a “força e a importância do papel feminino nessa sociedade, que são retratadas com grande propriedade e significado, quando elas trabalham com afinco na construção de seus artesanatos e no cuidado com as crianças”.
“Será muito interessante ter uma ânsia indígena como eu, para debater com pessoas mais jovens, sobre uma obra que trás esse debate atual, que precisa ser compartilhado com todas as pessoas, para trazer mais empatia para essa pauta. Estou muito ansiosa por esta data”, finaliza Eliane.
Confira a sinopse do filme: 1i3z1g
“Em a Última Floresta, documentário da Gullane Distribuidora, o xamã Davi Kopenawa Yanomani tenta manter vivos os espíritos da floresta e as tradições, enquanto a chegada de garimpeiros traz morte e doenças para a comunidade, que fica localizada em um território Yanomani, isolado na Amazônia. Os jovens ficam encantados com os bens trazidos pelos brancos; e Ehuana, que vê seu marido desaparecer, tenta entender o que aconteceu em seus sonhos.”
Confira a programação completa da 4ºMostra Brasil de Cinema, neste link.
Quem é Eliane Potiguara ? 32514c
A professora, Eliane Potiguara, foi considerada a primeira escritora indígena do Brasil e já publicou seis livros, todos relacionados com a cultura indígena, além de escrever incontáveis artigos. Eliane fundou em 1988 o GRUMIN (Grupo Mulher-Educação Indígena) (1988) e é membro fundadora do ECMIA (Enlace Continental de Mujeres Indígenas).
A ativista foi indicada para o Projeto internacional Mil Mulheres Para o Prêmio Nobel da Paz e titular da Ordem ao Mérito Cultural do Ministério da Cultura (2014) Formada em Letras (Português-Literatura), licenciada em Educação pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, e especialização em Educação Ambiental pela UFOP. Participou de vários seminários sobre Direitos Indígenas na ONU, organizações governamentais e Ong´s nacionais e internacionais.
De 2000 até os tempos atuais, Eliane tem participado de centenas de seminários, Feiras literárias, Bienais do Livro, atividades e palestras do Sesc, universidades, escolas pelo Brasil afora.
Confira algumas de suas obras:
- Em 1989 lançou o livro “A Terra é a Mãe do Índio”, pelo GRUMIN, premiado pelo Pen Club da Inglaterra;
- Em 1994 lançou a cartilha de alfabetização “AKAJUTIBIRÓ, Terra do índio Potiguara”, pelo GRUMIN, apoiada pela UNESCO;
- Em 2004 a Global Editora lançou o seu carro-chefe ‘Metade Cara, Metade Máscara”, atualmente já na 3ª edição pela GRUMIN Edições (2018);
- Em 2012 lançou o livro infantil “O Coco Que Guardava a Noite” pela editora Mundo Mirim;
- Em 2014 lançou o livro infantil “O Pássaro Encantado” pela Editora Jujuba;
- Em 2015 lançou “A Cura da Terra pela Editora do Brasil”;
- Em 2018 alguns livros no prelo;
- De 2000 até 2018 participou de várias antologias poéticas e coletâneas de textos.
Para o segundo semestre de 2022, além de inúmeras presenças em bienais e palestras em universidades, Eliane Potiguara vai lançar uma coletânea, com texto já publicados em sites e matérias novas, com crônicas, contos , citações e poesias, que tem foco na violação dos direitos da mulher indígena, do fortalecimento do movimento indígena no Brasil, e das demarcações de terras. Ainda sem poder divulgar o título e a data de lançamento, sua nova obra já está em fase de edição.