O cinema de ação sempre esteve atrelado a figuras masculinas, cheias de virilidade, como Bruce Willis, Arnold Schwarzenegger e Sylvester Stallone. Eles continuam em cena até hoje, mas agora dividem espaço também com as mulheres. Felizmente, elas estão cada vez mais presentes.

No cenário atual, são vários os exemplos de produções desse gênero protagonizadas por mulheres. Scarlett Johansson em Viúva Negra e Lucy, Margot Robbie em Esquadrão Suicida e Aves de Rapina, e claro, a musa Charlize Theron – em The Old Guard e Atômica.
Esse último, aliás, é uma das maiores referências de Jolt – novo filme do Amazon Prime Video – que estreia nesta sexta-feira (23) na plataforma de streaming.
A trama conta a história de Lindy, uma mulher que sofre com um distúrbio neurológico incurável. Ela tem instintos assassinos quando se depara com alguma situação de estresse ou quando presencia uma pessoa cometendo atos agressivos contra outra.
Depois de ar por um experimento, ela consegue controlar esse problema com eletrodos colocados em seu corpo. Assim que o instinto surge, ela clica em um botão e recebe eletrochoques – interrompendo o rompante de raiva.
O pontapé que faz a narrativa andar é quando a personagem se apaixona por um homem misterioso, que é assassinado poucos dias após eles se conhecerem. Assim, ela inicia uma caça aos culpados enquanto é perseguida pela polícia.
Só pela sinopse já é possível perceber o roteiro mirabolante. Se você desapegar de alguns critérios e exageros, Jolt pode ser um excelente entretenimento.
Com 90 minutos de duração, o longa apresenta uma história frenética, com diversas cenas de ação intercaladas por momentos de investigação e diálogos bastante expositivos – apesar de clichês, conseguimos aprender mais sobre a protagonista e ficamos intrigados com o ado da moça.
Os eventos do ado de Lindy não são explorados a fundo, mesmo que boa parte do primeiro ato se dedique a contar os primeiros anos de vida da protagonista.
Ao final do filme, na verdade, entendemos a falta de explicação. Uma vez que fica claro a intenção de criar sequências para essa produção – o que vai depender, claro, do sucesso dentro da plataforma.

Kate Beckinsale, a eterna estrela da franquia Anjos da Noite, mais uma vez comprova porque é escalada para produções de ação – entrega muito carisma e desenvoltura nas cenas de luta. No auge de seus 47 anos, a atriz parece não ter envelhecido um dia sequer na última década.
Os outros personagens, em graus diferentes, também são interessantes – apesar de boa parte das atuações estar caricata demais. Fica a impressão de que o elenco precisava de uma direção de atores melhor trabalhada. Laverne Cox e Jai Courtney estão bastante exagerados; Stanley Tucci, na contramão, atua da mesma forma como em seus tantos outros trabalhos.
Talvez isso se explique pela falta de experiência das pessoas envolvidas na produção. A diretora, Tanya Wexler, possui poucos trabalhos, já o roteirista é estreante e nunca havia trabalhado no cinema ou TV.
Ritmo do filme 463v3f
O longa sofre um problema sério de tom – a narrativa, às vezes, se leva totalmente a sério, mas em outras faz piada consigo mesma. Pode ser interessante para o ritmo do filme, mas é visível a falta de direcionamento conciso.
As coreografias de luta soam mecânicas demais, falta naturalidade nas sequências mais importantes da história. Essas cenas também são feitas com enquadramentos muito fechados e com excesso de cortes – o que dificulta visualizarmos o que está acontecendo em tela.
Apesar dos pesares, Jolt é uma excelente opção de entretenimento. Diverte, provoca tensão e é totalmente dinâmico. Mesmo abusando dos clichês do gênero, é possível sentir um frescor diferente.
*Mikael Melo é jornalista da NDTV e produz conteúdo exclusivo sobre filmes e séries em página do Instagram: https://www.instagram.com/omikaelmelo/.