
Eles foram para a folia, mas muita gente nem percebeu. Enquanto o trio ava, a banda tocava e os foliões agitavam, eles estavam lá, marcando de perto o descarte das latinhas de alumínio. Na verdade, é só por esse motivo que este bloco foi para a rua. Atentos, com os olhos voltados para o chão e lixeiras, é no Carnaval que os catadores de reciclado conseguem de fato um incremento na renda. A estimativa é de que o volume de alumínio recolhido na cidade durante os dias de folia cresceram 50%.
Muitas vezes marginalizado pela opinião pública, o trabalho dos catadores autônomos é um dos principais motores da indústria recicladora no Brasil e no mundo. Exemplo disso está nos índices de reciclagem do alumínio, principal produto dos recicladores autônomos. No Brasil, o reaproveitamento das latinhas que são colocadas no mercado é de 98,4%, colocando o país no topo do ranking dos que mais reciclam o metal.
Numa noite de trabalho durante o Carnaval, um único catador pode chegar a recolher até 30 quilos do metal, dependendo das condições que ele tem para armazenagem e otimização do espaço. Muitos amassam o material para conseguir ganhar espaço nas galhetas —como é chamado o tradicional carrinho dos catadores.
Há 14 anos envolvido com reciclagem, Jefferson Carlos Cardozo, diz que a expectativa do setor, com a crise, era de pouco volume, mas a realidade foi oposta: “Em três dias de Carnaval nós já tínhamos chegado a três toneladas de latinhas”, afirmou. Para Jefferson, a crise, na verdade, fez aumentar o número de catadores nas ruas. “O pessoal viu que a latinha dá alguma coisa e está catando mais. Tem gente que compra dos catadores e chega aqui com 70 quilos, 100 quilos, de uma só vez”, contou.

Sem dados oficiais
Na quinta-feira, após o Carnaval, Edson Kalfeltz, 55, aproveitou para vender o saldo do último dia. Ele trabalha como vendedor de cerveja, mas não perde a oportunidade de também recolher as latinhas depois do consumo. “Ajuda com os custos, paga a gasolina”, afirmou enquanto entregava 15,5 quilos de material na recicladora, que lhe renderam R$ 54.
O volume arrecadado pelos mais de 350 catadores informais da cidade —que no Carnaval devem ter pelo menos dobrado—, não são computados pelos dados oficias do município, que não tem nenhum tipo de controle ou vínculo com esses catadores.
A ACMR (Associação de Coletores de Materiais Recicláveis), que recebe o material da coleta de reciclados da cidade, é o único registro que o município tem. No entanto, na ACMR, o volume de latinha de alumínio nos dias de Carnaval não sofreram alterações: “Tem muito catador nessa época do ano e eles recolhem tudo antes do caminhão ar”, afirma Moacir Rodrigues dos Santos, presidente da ACMR.
Atualmente, Florianópolis consegue reciclar 7% de todo o volume de lixo arrecadado na cidade (192 mil toneladas por ano). A coleta seletiva no município, custa, em média, R$ 1,9 mil por tonelada.
98,4 % das latas são recicladas no país
Dados do Cempre (Compromisso Empresarial para a Reciclagem) mostram que o preço da latinha de alumínio custa o dobro do preço da garrafa PET, do plástico rígido e do plástico filme, cinco vezes o preço do papel branco, oito vezes o preço do vidro, 14 vezes o papelão e 17 vezes o preço da embalagem longa vida. O índice brasileiro de reciclagem de latinhas é de 98,4%, praticamente tudo que sai da indústria retorna em forma de matéria prima para reciclagem, enquanto o índice mundial é de aproximadamente 75%.