O episódio da morte da estudante Ana Clara Benevides após ar mal durante o show cantora Taylor Swift, na madrugada de sábado, no Rio de Janeiro, é a crônica máxima da negligência e da ganância.
Da produtora às autoridades municipais e estaduais fluminenses, todos falharam miseravelmente.
Infelizmente a história da música pop é repleta dessas tragédias, desde o fatídico show dos Rolling Stones em Altamont (EUA), em 1969.
E isso precisa servir de alerta também o que acontece em Florianópolis e no Estado (falarei mais à frente).

Sabia-se das condições adversas do clima de calor extremo no Rio. Era preciso agir na prevenção, a começar pela capacidade de abrigar tamanho público.
O estádio Nilton Santos virou um caldeirão com dezenas de milhares de pessoas confinadas sob um calor cuja sensação térmica beirava os 60º.
Não há esquema de segurança e emergência que dê conta para tamanho volume de pessoas.
Eu falo aqui com a experiência de fã e também nas dezenas de coberturas em quase 30 anos de atividade jornalística.
Em shows dessa natureza a maior parte do público tem que se submeter a horas de espera em filas até a abertura do local. Pessoas vindas de outras cidades e Estados, que am a noite, até dias viajando.
Fã viajou 1,7 mil quilômetros para ver Taylor Swift 175t2p
Ana Clara, por exemplo, enfrentou uma jornada de 1,7 mil quilômetros do Mato Grosso até o Rio para ver Taylor Swift. Como muitos e muitas estava ali em busca de realizar um sonho.
Uma vez lá dentro, são mais horas e horas até começar o show. O clímax é o espetáculo, com lotação máxima, a maioria das pessoas exaustas e desidratadas após uma espera que pode superar 10 horas.
Desde antes mesmo do show da Taylor Swift, fãs já reclamavam nas redes sociais sobre as condições impostas pela produção.
Não foi permitida a entrada de garrafas com água, não havia fornecimento de água gratuita para que as pessoas se hidratassem, sendo sujeitas a pagar preços exorbitantes por um copo, e local sem área de ventilação.
Quem já participou de eventos dessa natureza sabe o perrengue que é comprar uma água, alimento, enfim. Não só pelos preços, mas porque os espaços disponibilizados não dão conta da demanda.
É um inferno. Há desabastecimento e quando se repõe os preços sobem! Eu já vi muito disso.
A verdade é que já vem de anos que produtoras, promotores e autoridades legais não estão nem aí para proporcionar o bem-estar de fato ao público.
É o lucro pelo lucro, quanto mais melhor. O resultado é um confinamento.
A tal “experiência” pode funcionar nas redes sociais e nos “posts merchand” dos “influencers” que estão lá, pagos, para maquiar a realidade – o que é outro desserviço.
Proibição é comum também em festivais e shows em SC e Floripa 5w5a6r
Isso ocorre com shows e festivais, sob a leniência das autoridades. Vejo muito disso aqui em Florianópolis e em Santa Catarina.
Virou uma regra entre os festivais e eventos pagos a proibição da entrada de garrafas com água ou para repor.
E pior: o público tem que se submeter a preços exorbitantes, diria até criminosos. Uma garrafa de água mineral (de menos de 500 ml) não sai por menos de R$ 8,00 e não é incomum até ar dos R$ 10.
Você não pode levar sua garrafa porque será barrado e uma vez lá dentro não há escolha, o preço é único. Por vezes também tem que alugar os copos reutilizáveis.
Meu colega jornalista e parceiro de coberturas, Marcelo Siqueira, há tempos alerta sobre isso e com razão.
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A situação vai na contramão do que se vê em muitos outros festivais, principalmente fora do país, onde não só é permitida a entrada com garrafas, copos ou refis de água, como isso é estimulado.
Também há a distribuição de copos de água logo na entrada dos shows e festivais, além de disponibilizarem pontos de abastecimento gratuito de água para o público e espaços para circulação de ar e descanso.
Está mais do que na hora das autoridades locais, principalmente o Procon e Ministério Público, atentarem para essa situação que acontece em eventos dessa natureza.
Se pegarmos o Código de Defesa do Consumidor, muitas casas de show e festivais vão gabaritar nas irregularidades.
Produzir um espetáculo requer excelência em garantir boa iluminação, um palco bem montado, som perfeito, segurança e principalmente o bem-estar de quem paga – e muito caro – para estar lá.
Só que a lógica está invertida e no caso do show da Taylor Swift chega a ser bizarro.
A pessoa sai de casa, viaja milhas de quilômetros, para assistir seu ídolo, em busca daquele momento que marcaria de forma feliz a sua vida, mas encontra a morte.