Em 300 anos de escravatura, o Brasil acumulou uma série de costumes que se caracterizam como racismo estrutural. Mesmo dentro da língua portuguesa, importada pelos brancos, há uma série de palavras que eram associadas aos negros de forma pejorativa e ainda hoje são usadas no país.

Esses termos podem ar despercebidos pela maioria da população, mas dizem muito sobre a história de um país marcado pela escravidão, explica Paulo Sergio Gonçalves, coordenador do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros e Indígenas da universidade Estácio e doutorando em Literaturas Africanas.
“As pessoas usam certos termos, convivem com atitudes racistas e nem percebem. Em um país em que mais de 50% da população é negra, isso é muito grave”.
Para o professor, além de entender que existem expressões racistas na língua portuguesa, é preciso combatê-las.
Palavras e expressões com conotações racistas 61174
O primeiro o para combater o racismo na linguagem, segundo Paulo, é disseminando conhecimento em todos os espaços, das escolas aos veículos de comunicação.
No núcleo que coordena, foram mapeadas sete expressões com conotações racistas. São elas:
1 – Mulata
O termo é uma referência ao animal “mula”, filhote do cruzamento de um cavalo e uma jumenta ou de jumento com égua. A palavra era usada como adjetivo para mulheres negras frutos de relacionamentos mestiços.
Segundo o professor, o termo não é mais aceito por ser considerado pejorativo e, quando necessário se referir à cor ou etnia, pode ser substituído por mulher negra.
2 – Denegrir
O verbo denegrir, em sua etimologia, significa tornar negro. A expressão faz uma relação entre a negritude e algo maldoso ou negativo, aponta o professor. “O português é a língua do colonizador, que é cheia de termos racistas”.
3 – Fazer nas coxas
Apesar de existirem divergências sobre a origem da expressão, Gonçalves explica que pode ter surgido de uma técnica utilizada por escravizados enquanto faziam telhas no Brasil Colônia.
Por serem artesanais e seguirem formatos dos corpos, as peças não se encaixavam bem e, por isso, eram consideradas mal feitas.
4 – Doméstica
A palavra faz referências às mulheres negras que trabalhavam nas casas das famílias brancas. Elas eram consideradas domesticadas quando a maioria dos negros recebiam o título de selvagens.
“Eu cresci ouvindo as minhas irmãs sendo chamadas de domésticas. Este era um termo muito popularizado no Brasil dos anos 80”, relembra o docente.
5 – Meia tigela
A expressão é herança da época em que os negros que não conseguiam cumprir as tarefas recebiam meia porção da comida, ainda no período escravocrata. A quantidade reduzida foi apelidada de “meia tigela” e nos dias de hoje se refere a algo sem valor.
6 – A dar com pau
A história por trás deste termo se a nos navios negreiros, onde as pessoas que seriam escravizadas pelos brancos eram transportadas. Ali, aqueles que não obedeciam recebiam uma alimentação medida por colher de pau. O termo significa “pouco” ou que alguma pessoa não é digna de consideração.
7 – Inhaca
Desde o Brasil Colônia, o termo se refere a algo com cheiro forte e desagradável. Por trás da expressão está a ilha moçambicana de “Inhaca”, na África Oriental. O preconceito está na associação da ilha, onde a maioria da população é negra, a algo desagradável e nojento.