A tão esperada quarta temporada de “Stranger Things” finalmente chegou ao fim. Com nove episódios (sendo um deles de 2h20) lançados em duas partes, a série produzida pelos irmãos Duffer, entre pontos altos e baixos, se desenvolve com um mistério interessante, mas algumas tramas fracas, que fazem a temporada não acabar da forma mais satisfatória possível.

*Essa crítica contém spoilers da 4ª temporada de “Stranger Things”
Como dito anteriormente, a trama realmente tem seus tropeços nesta penúltima temporada, sobretudo em seus últimos dois episódios. Mas para não ser totalmente injusto com a série, inicialmente o mistério por trás de quem é o Vecna, qual o objetivo dele e como descobrem ele, é interessante e prende quem assiste.
Com visual e poderes referenciando Freddy Krueger, o vilão de fato é um acerto da temporada, dando um tom de terror oitentista. Tudo isso combinado a sua criação, feita da união de efeitos práticos e computador, que fizeram ele parecer mais real e assustador.
O problema é que quando acaba o mistério sobre quem é o Vecna – no episódio final da primeira parte – as falhas de roteiro am a se evidenciar. Já que com exceção do núcleo diretamente envolvido na missão de descobrir quem é o monstro, composto por Dustin (Gaten Matarazzo), Lucas (Caleb McLaughlin), Max (Sadie Sink), Nancy (Natalia Dyer), Robin (Maya Hawke), Steve (Joe Kerry), Eddie (Joe Quinn) e Erica (Priah Ferguson), o restante das tramas são fracas e pouco adicionam a temporada.
Núcleos Rússia e Califórnia e suas jornadas desinteressantes 2uh1r
O núcleo de personagens da Califórnia pode ser considerado junto com o núcleo da Rússia, a parte mais desinteressante da série. Composto por Mike (Finn Wolfhard), Jonathan (Charlie Heaton), Will (Noah Schnapp) e Argyle (Eduardo Franco), esse núcleo mostra-se pobre dramaticamente. Isso porque são personagens que têm pouco a contribuir.
O objetivo dessa parte da trama é o grupo achar a Eleven (Millie Bobby Brown) – que está treinando para recuperar seus poderes – e então poderem ir para Hawkins para poderem ajudar seus amigos. Mas em nenhum momento eles são úteis para que a trama avance, as coisas simplesmente vão acontecendo ao redor deles.

Não seria um problema eles não avançarem a trama se o drama ou as interações existentes no grupo fossem interessantes ou divertidas, mas não acontece isso. Mike é um poço de falta de carisma e o drama que criam para discutir a amizade dele e de Will é fraco e não comove.
Talvez se for tirar algo positivo desse núcleo, pode-se citar o fim do queerbating em cima do Will, ao deixarem mais evidente que o personagem gosta do Mike, e não ficar nas “entrelinhas” como estava sendo feito anteriormente.
O núcleo da Rússia é um problema à parte, começando pela forma atrasada com que retratam o país, que alguns podem defender falando que estão referenciando a forma que os filmes dos anos oitenta retratam, eu prefiro acreditar que foi mais mau gosto mesmo.

Além disso, o único intuito do núcleo é unir Hooper (David Harbour) e Joyce (Winona Ryder). Algo que vem a acontecer, e claro todos devem ter vibrado com o casal. Mas uma pena que teve que acontecer com um desenvolvimento tosco e entediante.
Núcleo de Hawkins salva quarta temporada e proporciona momentos épicos 53w36
Apesar dos erros com alguns personagens nesta temporada, os irmãos Duffer sabem muito bem como criar diferentes dinâmicas na interação entre atores e criar tanto momentos comoventes quanto hilários. Diretamente envolvido com o mistério de Vecna, o núcleo de Hawnkins é o certo dessa temporada, com ótimos momentos e trama envolvente
E não se pode falar de bons momentos de personagens sem falar de uma das melhores adições das últimas temporadas da série, Eddie Munson. Inspirado no guitarrista Eddie van Halen, o ator Joe Quinn hipnotiza em toda cena que está desde o primeiro momento em que aparece, na qual aparece subindo em cima da mesa do refeitório e tirando sarro das pessoas que menosprezam seu grupo só por jogar Dungeons & Dragons.

Eddie também protagoniza um dos melhores momentos dessa temporada, trazendo os metaleiros de plantão à loucura, quando o personagem toca nada mais do que Master of Puppets, da banda Metallica, no mundo invertido.
Outro destaque da temporada, com certeza é a atriz Sadie Sink, que mostra-se cada vez mais capaz de ir muito longe na indústria cinematográfica, com um grande alcance dramático. Ao interpretar Max em seu luto, a raiva e dor de Sink ficam claras em seu olhar cabisbaixo ao andar pelos corredores da escola. Sua jornada de aceitação da morte de Billy (Dacre Montgomery) comove, sendo responsável por um dos melhores episódios da temporada: “Querido Billy”.
Não dá para deixar também de falar da cena responsável por colocar Running Up That Hill, da cantora Kate Bush, nas paradas mundiais. Junto ao momento de Eddie, esse é um dos poucos momentos em que você vê o potencial de qualidade que a série pode chegar. Ver Max fugindo do Vecna ao som de sua música preferida é épico, instigante e te faz vibrar quando ela alcança seu objetivo.
Mais cinema do que o próprio cinema 1m542a
A existência destes momentos épicos só foram possíveis devido ao orçamento astronômico de R$ 270 milhões, da quarta temporada da série. Isso se reflete muito nos efeitos especiais, que estão com uma qualidade superior a de muitos filmes blockbuster atuais.
As cenas no mundo invertido, por exemplo, são grandiosas e imponentes, parecendo que os irmãos Duffer criaram a temporada para que fosse exibida num cinema.
As cenas de ação, então, são ambiciosas e de tirar o fôlego. Apesar de ser um núcleo dispensável dramaticamente, o grupo da Califórnia tem cenas dignas de grandes filmes de ação do cinema, com um plano sequência de uma troca de tiros totalmente inesperada.
Apesar de não finalizar da forma mais satisfatória, a temporada não frustra, divertindo e entregando uma experiência cinematográfica digna ser vista na maior tela que tem disponível e deixando os fãs ansiosos para o que aguarda Hawkins na quinta e última temporada da série.