A Helena Fretta Galeria de Arte celebra 30 anos no mercado em Santa Catarina. Instalada na rua Presidente Coutinho, 532, em Florianópolis, Helena responde por um dos mais importantes elos do sistema de arte do Estado, com amplas conexões com artistas, colecionadores, curadores, historiadores, gestores, museólogos, críticos e jornalistas.
A sua atuação aglutina memórias valiosas que estão inseridas na história da arte e das mulheres como alguém que se integra na sociedade e na economia. Comemorativa, a exposição “Constelações em Acervo – Trinta Anos de Memórias” sustenta-se no conceito de quatro curadores e faz um mergulho na mapoteca da galeria.

Helena Fretta confere uma , dá o próprio nome ao empreendimento localizado no Centro da Capital. Criciumense, nascida em 1948, casada com Arnaldo Fretta, mãe de quatro filhos e seis netos, ela instala-se em 1991 na avenida Beira-Mar e, em 1997, na rua Presidente Coutinho, desde então um ponto de venda e de encontro, onde estabelece uma rede de comunicação, estudo e pesquisa que há mais de 30 anos projeta a arte.
Além dos sentidos femininos, da construção da identidade de gênero e dos papéis sociais, seu trabalho está vinculado às noções de circulação de obras artísticas, à formação e à criação no campo curatorial. Em um ambiente minado de dificuldades para o exercício e o reconhecimento da produção, no comando de um espaço de comercialização, Helena realiza exposições individuais e coletivas, feiras, eventos, leilões, edita publicações e, assim, instaura um lugar de vitalidade pelo qual viabiliza carreiras e mexe com autoestimas de profissionais de diferentes regiões do Estado.
Sem nunca ter pensado em ser galerista, começa com um modesto escritório de arte, em um conglomerado de lojas. Num segundo momento, em agosto de 1991, no mesmo endereço, vai para uma sala mais vistosa, com vitrine, o que Helena considera o ponto inaugural da galeria. Em maio de 1999, abre uma galeria em Curitiba, onde atua por sete anos na rua Sete de Setembro, nº 6.240. Em dois anos no Paraná, a Hemma Becke Galeria de Arte, nome da avó, a a ser a Helena Fretta Galeria de Arte.
“Ninguém pode fazer nada sozinho! Precisa-se de todo um envolvimento porque a venda de uma obra de arte pede conversa, às vezes demora um ano ou dois anos”, conta Helena, que tem enorme lista de gratidão aos que a ajudaram nesta trajetória. Os visitantes, os colecionadores, os artistas são recebidos como amigos. Para ela é um prazer trocar ideias, porque, afinal, sabe que “não é qualquer pessoa que gosta de arte”.

Ampla cartografia
A exposição “Constelações em Acervo – Trinta Anos de Memórias”, que marca as três décadas da galeria, reúne cerca de 52 artistas e mais de 150 trabalhos selecionados pelos curadores Andrey Parmigiani, Anna Moraes, Kethlen Kohl e Rafaela Martins, com coordenação de Thays Tonin. Aberta até o dia 29 deste mês, ela traça uma cartografia com expressivo arco temporal integrando representações dos séculos 20 e 21, como os modernistas Hassis (1926-2001), Martinho de Haro (1907-1985), Meyer Filho (1919-1991), Pléticos (1924-2020) e outros, até os contemporâneos como Luiz Henrique Schwanke (1951-1992) e Paulo Gaiad (1953-2016). Entre pinturas, fotografias, desenhos, esculturas e instalações é possível dimensionar a força desta articulação no campo artístico e mercadológico. A exposição, entre outros ditames, situa a evolução ao longo de 30 anos, sem esquecer, é claro, as turbulências econômicas de um país complexo e as transformações de toda uma rede que envolve o mercado e os conceitos da arte.
Serviço
O quê: exposição ““Constelações em Acervo – Trinta Anos de Memórias”
Quando: até 29/10/2022, segunda a sexta, das 10h às 18h30 e sábados, das 9h às 13h
Onde: rua Presidente Coutinho, 532, Centro, Florianópolis (SC)
Quanto: gratuito
Artistas participantes da exposição
Adriana Füchter, Aldo Beck, Ana Sabiá, Beatriz Harger, Beta Monfroni, Betinha Trevisan, Boris Kossoy, Caio Borges, Cassia Aresta, Clara Fernandes, Dirce Körbes, Eli Heil, Elke Hering, Glaucia Olinger, Hassis, Ilca Barcellos, Jair Martins, Jairo Valdati, Janaína Corá, Janor Vasconcelos, Joyce Mussi, Juliana Falchetti, Juliana Hoffmann, Kamilla Nunes, Katia Canton, Letícia Cardoso, Leticia Ichnaz, Lindote, Lucas Flygare, Luciana Knabben, Luciana Petrelli, Lucila Horn, Malinverni Filho, Martinho de Haro, Meg Tomio Roussenq, Meyer Filho, Paloma Gomide, Paulo Gaiad, Pléticos, Priscila de Carvalho, Rodrigo Cunha, Rodrigo de Haro, Rubens Oestroem, Sara Ramos, Schwanke, Suely Beduschi, Susana Bianchini, Vecchietti, Vera Sabino, Walmor Corrêa, Willy Zumblick e Yara Guasque.
Um cosmos para a arte contemporânea
Como galerista, Helena Fretta ajuda a estruturar carreiras, dá atenção e incorpora cuidados com a produção e os artistas visuais em amplo espectro. Preocupa-se sobretudo com os jovens e seus anseios, razão pela qual sempre parte do princípio de que deve incentivar tudo. “Não posso tirar as ilusões!” Um divisor de águas nesta jornada é o professor Otto Francisco de Souza, que vem semanalmente de ville para dar aula para um grupo de estudos de história da arte.
Com amplo conhecimento, parceiro há 12 anos, Helena diz que ele abriu um horizonte e intui que não alcança com exatidão a sua importância na história da galeria. Certa de que ninguém faz nada sozinho, enaltece outras pessoas estruturantes de suas relações fraternas, familiares e profissionais.

Em Rodrigo Cunha, por exemplo, viu o futuro, um excelente artista, apesar de saber que não teria de imediato tantas condições de desenvolvê-lo por se tratar de uma pintura muito forte. Ela ainda não tinha uma clientela que pudesse respeitar o trabalho. “Eu não poderia coloca-lo na galeria e não vender nada, iria desestabilizar talvez emocionalmente”, diz ela, que o coloca na lista dos mais cotados em Santa Catarina.
Reinvenção e simbiose
Rodrigo Cunha lembra do primeiro contato em 2000. Meses depois, a parceria se consolidou, sem interrupções, até hoje. “Sempre me chamou a atenção o modo como ela esteve atenta, procurou se reinventar e atualizar. Abriu as portas para jovens artistas, buscou novas formas de apresentar os trabalhos, em consonância com a arte contemporânea. Elo fundamental entre a academia e o mercado, inclui na cadeia produtiva, artistas, críticos e historiadores, numa relação de simbiose que tem dado certo”, diz ele.
Para o colecionador Marcelo Collaço Paulo, Helena tem importância fundamental, pois transcende o papel de uma marchande, transformando-se, em 30 anos, em uma ativista cultural. “Ela adota artistas e os promove, acolhe os colecionadores e os estimula, abraça curadores, abre espaço para se falar sobre arte. Alunos, crianças circulam na sua galeria para treinar o olhar. Ímpar, nossa amiga, uma das responsáveis por estabelecermos esse vínculo e a paixão pela arte. Temos todos muito a agradecer a ela”, afirma ele.
A fotógrafa e artista visual Luciana Petrelli situa Helena como uma pioneira que merece comemorar 30 anos de história e acervo. “Sem medo de se expor, ela se reinventa e revela um novo espaço na galeria. Penso na referência que existe entre a abertura do porão e o texto “A Casa. Do Porão ao Sótão”, de Gaston Bachelard (1884-1962)”, diz ela, ao mencionar a reforma realizada na parte inferior da casa, no tempo agudo da pandemia. O espaço interior, conforme o filósofo francês, engloba unidade e complexidade, um lugar que abriga o sonho e o devaneio. Com estilo e coragem, Helena instaura um cosmos, uma espécie de refúgio – necessário e bem-vindo – para a arte contemporânea.
Para colecionar arte – Orientações de Helena Fretta
– Ajustar o coração e o cérebro na hora da compra
– Buscar singularidades para a coleção
– Fazer pesquisa, conhecer os artistas
– Estudar sobre arte, períodos, movimentos e estilos
– Pensar em qualidade e não quantidade
– Visitar museus, galerias e feiras de arte
– Diferenciar um bem de um investimento
– Adotar cuidados técnicos na guarda das obras