Houve uma época em que a pesca da baleia era liberada no Brasil e, comercialmente falando, essa foi uma atividade de destaque em Florianópolis durante um bom tempo. Foram quase 200 anos entre a primeira e a última baleia mortas na Ilha de Santa Catarina.
Até o final do século 19, as baleias eram usadas principalmente para fornecer combustível para iluminação de casas e ruas, como lubrificante e na fabricação de sabão e até mesmo margarina. A caça das baleias foi tema de uma reportagem especial do projeto Floripa 350.

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Muitas são as histórias acerca desses cetáceos. Tem até aquelas bem antigas, de pescador, que am de geração em geração e que permanecem sendo contadas até hoje.
Uma delas é a de que os ossos de baleia já foram utilizados como método para ‘curar’ as dores no corpo. Mito ou verdade, é o que conta Alesio dos os Santos, de 73 anos.

Morador da Lagoa da Conceição, em Florianópolis, os relata que o avô Manoel Severino de Oliveira utilizava um osso do animal como ferramenta para melhorar as dores corporais.
“Meu avô tinha um rancho e tinha bastante ossos de baleia guardados. Tinha um osso, aquele da cartilagem da baleia grande, que a gente sentava em cima para aliviar as dores no corpo”, relembra Alesio.
Além disso, ele conta que o avô, que também participava das pescas de baleias, utilizava a barbatana do animal para produzir agulhas: “A barbatana é como se fosse um plástico, então ele fazia as agulhas para remendar as redes de pesca com essa parte da baleia”.
Atividade econômica 2w288
Segundo artigo de João Rafael Moraes de Oliveira e Denílson Carignatto intitulado ‘A pesca da baleia no Brasil: um estudo de história e meio ambiente’, a exploração econômica da baleia foi uma importante atividade na América portuguesa e no Brasil.
A carne da baleia, usada como alimento, era salgada para ser conservada por mais tempo. A língua, importante iguaria, era vendida à nobreza e ao clero. As barbatanas eram utilizadas na confecção de vestimentas femininas e masculinas, como os espartilhos, saias, chapéus e em artefatos de batalha.
Os ossos eram usados para a construção civil e produção de móveis. O óleo de baleia serviu, especialmente, para a iluminação dos engenhos, de casas e fortalezas, a calafetagem de barcos nos estaleiros e ao preparo argamassa para construções mais sólidas.
Óleo de baleia na construção civil 2s1016
Algumas construções erguidas em Florianópolis há mais de 200 anos contaram com a mistura do óleo de baleia. Uma delas foi a casa da avó de Valmir Osmar Ferreira, 58 anos, na Armação do Pântano do Sul, no Sul da Ilha.
Rozália Paulina Ferreira contava ao neto que a casa onde morava foi construída com areia da praia, pedra bruta do morro e óleo de baleia.

“A vó contava que essa casa foi construída pela avó dela, de maneira bem rústica. A casa serviu de escola e quando veio a gripe espanhola, foi abrigo para as pessoas que eram encontradas vivas”, revela Ferreira.
Famosa na região, Rozália dá nome a uma rodovia na localidade, também conhecida como estrada da Costa de Dentro. Todos os seus 80 anos de vida foram vividos nesse lugar.
O óleo de baleia agia como impermeabilizante hidrofóbico (não absorve água). Tem um poder de impermeabilização e alto brilho, podendo ser usado em telha de fibrocimento, concreto, ferros, couro, telhas de barro, pedras de ardósia e mármores, transformando todas as superfícies hidrofóbicas.
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O projeto Floripa 350 é uma iniciativa do Grupo ND em comemoração ao aniversário de 350 anos de Florianópolis. Ao longo de dez meses, reportagens especiais sobre a cultura, o desenvolvimento e personalidades da cidade serão publicadas e exibidas no jornal ND, no portal ND+ e na NDTV RecordTV.