Os restos mortais de humanos contam histórias. Com eles, é possível determinar há quanto tempo viveram, como morreram e se os ossos encontrados são de um homem ou de uma mulher.

As metodologias e técnicas são diversas. Para realizar esse tipo de trabalho, o arqueólogo deve conhecer as ciências humanas, as biológicas, as da terra e até mesmo as ciências exatas.
Somente em Florianópolis, são mais de 200 sítios arqueológicos registrados. Esses sítios mostram que tanto a Ilha de Santa Catarina quanto a área continental têm sido ocupadas há mais de 5.000 anos por grupos humanos de diferentes origens e culturas.
No ano de 2018, durante as obras do elevado do Rio Tavares, no Sul da Ilha, um esqueleto sambaqui foi encontrado.
Ele foi encaminhado ao MarquE/UFSC (Museu de Arqueologia e Etnologia Professor Oswaldo Rodrigues Cabral da Universidade Federal de Santa Catarina) e ou por análises da empresa Geoarqueologia Pesquisas Científica.

Segundo os estudos na época, o esqueleto era de um homem. Mas afinal, como é feita essa identificação? A arqueóloga do MarquE/UFSC, Luciane Zanenga Scherer, destaca que a estimação de sexo em adultos pode ser feita por meio de diversas metodologias.
Métodos mais utilizados 686z4p
“Existem várias metodologias para estimar sexo em adultos. Elas podem ser tanto morfológicas quanto métricas. O primeiro osso que a gente usa é do quadril, que na realidade são três ossos que se fundem na vida adulta. Então, esses ossos podem nos informar se são de um homem ou de uma mulher”, ressalta Luciane.
Ela descreve que por se tratar de um osso “bem visível”, é possível identificar a presença de algumas características específicas, se são mais acentuadas ou não e a partir disso fazer a identificação do sexo apenas olhando.
Além da visualização de características morfológicas, existem os métodos métricos. “A gente faz medidas nesses ossos do quadril, e, a partir dessas medidas, a gente joga numa fórmula de regressão e ela vai dar um percentual ou probabilidade do quanto pode ser masculino ou feminino”, evidencia.
Crânio também é importante 1nu2b
Os ossos do crânio são igualmente importantes para os reconhecimentos. Não é necessário medir, apenas visualizando os estudiosos conseguem fazer indicações do gênero.
“Vemos algumas características específicas do crânio que podem indicar se é mais masculino ou mais feminino”, afirma a professora.
Quadril e crânio são os principais. No entanto, quanto mais completo o esqueleto, melhor é para os arqueólogos estudarem. De acordo com Luciane, os homens têm os ossos mais robustos e as áreas onde se fixam os músculos, tendões e ligamentos, entre articulações, são mais marcadas.
Esses detalhes também podem estar presentes em ossadas femininas, mas a arqueóloga reforça que é mais presente nos restos mortais masculinos. Outra medida complementar utilizada é verificar o maior osso do corpo humano: o fêmur.
“A gente mede o diâmetro da cabeça do fêmur e, dependendo dessa medida, apontamos para mulher ou homem. A mesma coisa acontece com a cabeça do úmero, osso do braço. Ou seja, quanto maior esse diâmetro, a tendência é que o indivíduo seja masculino”, revela.
Medidas indeterminadas 582s9
Durante as análises, em algumas situações, é possível que essas medidas sejam indeterminadas, não identificando o sexo do esqueleto.
Mas, Luciane salienta que as principais formas de realizar essa diferenciação é por meio dos ossos do quadril e do crânio. Fêmur e úmero são utilizados em análises complementares.
“O esqueleto completo nos faz ver o maior grau de precisão para conseguirmos estimar o sexo”, afirma.
Quando não é possível identificar? 6s3x73
Analisar restos mortais de crianças é ainda mais complicado. Segundo Luciane, como os ossos infantis ainda estão em formação, não é possível estimar o sexo. “Em criança não dá para ver o sexo”, diz.
O DNA Humano Antigo pode ser uma alternativa para fazer essa avaliação em crianças e adultos, além de fornecer graus de afinidade populacional entre os indivíduos.
A arqueóloga esclarece que todo esse estudo é uma estimativa e que, em alguns casos, não conseguem determinar o sexo.
“Podem aparecer características naquele indivíduo ou nos ossos, por exemplo, que deixam dúvidas, que estão num meio termo, algumas características são mais masculinas outras mais femininas e não conseguimos dizer o que realmente são”, conclui.
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