A Conselheiro Mafra chamou-se, antigamente, “Rua do Príncipe”, bem ao gosto dos monarquistas. Mas a Felipe Schmidt, talvez para fazer o contraponto dos republicanos, chamou-se “do Senado”.
Em todo caso, era muito raro, naqueles tempos, meados do século 19, uma rua levar o nome de batismo de algum político. A Praça XV de Novembro chamava-se, simplesmente, Largo da Matriz. A rua Saldanha Marinho era “das Rosas”.

Pensando nesse bucolismo perdido, deparo ali, na “Rua do Príncipe”, com o “pincez-nez” do autor de Os Maias, O Primo Basílio e A Relíquia, desfraldando um daqueles seus olhares encharcados de ironia.
Rir é o melhor remédio, receita o mestre Eça de Queiroz, adepto de um velho adágio:
– O riso é a mais útil forma de crítica porque é a mais ível à multidão. O riso dirige-se não ao letrado e ao filósofo, mas à massa. É o desprezo da massa que devemos dedicar aos políticos dissimulados e corruptos.
Eça valia-se do bom humor para respirar melhor. Açoitou a sociedade do seu tempo com a matéria prima da mais pura sátira. E não pouparia o Brasil, é claro:
– O brasileiro é um português dilatado pelo calor…
E recomendou:
– Brasileiro, vota bem, porque políticos e fraldas devem ser trocados de tempos em tempos, pelo mesmo motivo…
Eça alvejaria a “obra” dos políticos que transformaram a atividade num “hospício”. Na política nacional, tudo muda para que continue a mesma coisa.
O que se poderia esperar do Brasil, com esta sua “República” juristocrata e este Supremo de sentenças prontas? Só podia mesmo dar nesta Câmara e neste Senado!
Quando chegar o momento do dito “horário eleitoral gratuito” – que de gratuito não tem nada – veremos partidos em profusão ocupando o horário nobre na tevê e o voto proporcional transformando a sua região numa pescaria para aventureiros.
Só o voto distrital, majoritário em cada região, apresentará o candidato ao eleitor e, assim, melhorará a democracia representativa. Por mais que o eleitor “capriche” no voto – e escolha a dedo alguém conhecido para deputado e senador – acabará elegendo algum “Frankenstein” pelo ônibus da legenda e da errática aritmética do “quociente eleitoral”.
Dois “impeachments” em menos de uma geração e partidos de aluguel com direito ao fundo partidário é o desenho acabado da falência de um modelo eleitoral carcomido pela corrupção.