Os bois de Parintins: Caprichoso e Garantido – Foto: Michel Amazonas/boicaprichoso.com; Júlio Miyazaki/garantido.com.brDe um lado, o vermelho; do outro, o azul. Durante três dias, é assim que o público se divide no festival amazônico por causa dos bois de Parintins. Garantido e Caprichoso são as grandes estrelas da celebração cultural — e, por lá, não existe meio-termo: ou se torce por um, ou pelo “contrário”.
Rivais, suas origens remontam ao ano de 1913, há mais de um século. Conheça a seguir as histórias dos bois de Parintins.
Os bois de Parintins 3y1x3k
Os bois de Parintins representam duas agremiações folclóricas que competem anualmente entre si – Foto: Festival de Parintins/Divulgação/NDO boi Garantido s2p2x
O Boi Garantido foi fundado em 1913, ano reconhecido oficialmente como o início da agremiação, apesar da ausência de registros formais. Seu criador foi Lindolfo Monteverde, figura central na história do bumbá, que hoje acumula 32 títulos no Festival de Parintins.
A inspiração para o nome surgiu na infância de Lindolfo. Aos 11 anos, ele pediu à mãe para criar uma brincadeira de boi, mas ouviu que era algo “de adultos”. Diante disso, prometeu que, um dia, faria seu próprio boi — um em que todas as crianças pudessem brincar — e o chamaria de “Garantido”.
Anos depois, já adulto, Lindolfo enfrentou uma grave doença e fez uma promessa a São João: se fosse curado, criaria um boi-bumbá para sair às ruas todos os dias 24 de junho, em celebração ao santo. Curado, cumpriu a promessa, e a tradição se mantém viva.
Até hoje, uma missa em agradecimento é realizada anualmente no curral antigo, seguida pela saída do Garantido, com sua batucada e vaqueirada, pelas ruas da Baixa do São José — reduto histórico e cultural do boi, localizado na parte oeste de Parintins.
As cores vermelho e branco do bumbá também remetem às cores de São João. A Baixa do São José é o berço do Garantido, onde ocorrem até hoje festas tradicionais como as de Santo Antônio e São João, refletindo a forte influência da religiosidade católica na cultura local.
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Mais que uma manifestação folclórica, o Boi Garantido carrega o legado de uma comunidade afro-indígena, formada por pessoas humildes. Suas apresentações exaltam temas como diversidade cultural, intolerância religiosa, igualdade de gênero, racismo e etnocentrismo.
O Boi Garantido valoriza a rica herança da Amazônia e a luta por justiça social por meio da arte.
O boi Caprichoso 494z2c
O Boi Caprichoso nasceu em 1913, no local conhecido como Reduto do Esconde, nas proximidades do Urubuzal, em Parintins. A criação é atribuída aos irmãos Roque, Antônio, Beatriz e Pedro Cid, naturais de Crato, no Ceará, que deixaram o Nordeste em busca de melhores oportunidades.
Durante a jornada, Pedro permaneceu em Belém, enquanto os demais seguiram para Parintins. Recém-chegados e ainda longe de realizar os sonhos de prosperidade, os irmãos ouviram falar de um boi chamado Caprichoso, que animava festas na Praça 14 de Janeiro, em Manaus.
Inspirados por essa história — e impulsionados pelo desejo de integrar e alegrar a comunidade — decidiram criar seu próprio boi Caprichoso.
Foi assim que surgiu o bumbá que ficaria conhecido como o Touro Negro de Parintins, no local onde hoje está a Travessa Sá Peixoto. A cor preta do boi foi escolhida de forma simbólica, como uma afronta às elites locais e em homenagem ao povo negro e humilde da cidade.
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Ao longo de mais de um século de história, o Boi Caprichoso consolidou-se como um símbolo de resistência e cultura popular, exaltando em suas apresentações a ancestralidade afro-indígena, a preservação da Amazônia, as lutas dos povos originários e a valorização das raízes amazônicas.
Seu reduto tradicional fica na zona Sul da ilha de Parintins, onde está localizado o Curral Zeca Xibelão.
A disputa entre os bois de Parintins s2m2u
Os bois de Parintins são avaliados em 21 itens, entre categorias individuais e coletivas – Foto: AmazonasTur/Divulgação/NDSegundo a Agência Petrobras, os bois de Parintins têm cerca de duas horas e meia por noite cada para se apresentar, totalizando três apresentações distintas e inéditas, mas sempre alinhadas ao tema escolhido para aquele ano. O bumbá deve contar uma história de forma envolvente e criativa.
A disputa é acirrada: os bois de Parintins são avaliados em 21 itens, entre categorias individuais e coletivas.
Um grupo de jurados analisa quem conseguiu transmitir melhor a lenda amazônica central e sua relação com o tema proposto. A trilha sonora é composta pelas tradicionais toadas, interpretadas pela marujada de guerra, no caso do Caprichoso, ou pela batucada, se for o Garantido.
Os espetáculos incluem recriações de lendas, rituais indígenas e encenações míticas, sempre ambientadas no universo cultural da Amazônia.
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Uma lenda amazônica diferente costuma estar presente em cada noite, como parte da narrativa.
Entre os personagens de destaque estão a Cunhã-Poranga, a guerreira que representa a força da floresta; o Pajé, responsável por conduzir os rituais; e o Apresentador, que tem a missão de manter a energia ao longo de toda a apresentação e guiar o público pela simbologia de cada ato.
Ao longo de mais de cinco décadas de festival, houve apenas um empate na disputa entre os bois de Parintins, no ano de 2000.
