Desde 1871, quando o espaço do TAC (Teatro Álvaro de Carvalho) ou a ser utilizado, diversos e até estranhos usos se deram por lá.
A história começa por volta de 1854, quando um movimento de pessoas ligadas à cultura se deu conta de que Desterro, a Capital da Província de Santa Catarina, estava desfalcada de um teatro amplo e moderno.

A narrativa com os “usos e desusos” do TAC foi contada pelo projeto “Histórias do Patrimônio” produzido pela FCC (Fundação Catarinense de Cultura). A iniciativa traz histórias e curiosidades sobre os patrimônios que abrigam os espaços culturais istrados pela fundação.
O TAC teve sua pedra fundamental lançada em 29 de julho de 1857, mas a inauguração oficial só ocorreu em 7 de setembro de 1875. Houve percalços, paralisações e desistências de acionistas.
Mesmo antes disso, entre 1871 e 1872, o teatro já era utilizado, com o nome de Santa Isabel, em homenagem à princesa Isabel, filha do imperador do Brasil Dom Pedro II.
O número 46 do jornal Opinião Catharinense, publicado no dia 9 de setembro de 1875, discorre sobre a inauguração.
“Para solenizar o memorável dia 7 de setembro, a sociedade dramática – Recreio Catharinense -, composta de alguns moços desta capital, levaram à cena o drama ‘Amor e Infâmia” no teatro de Santa Izabel, que neste dia foi inaugurado. […] O teatro estava literalmente cheio.”
Calcula-se que mais de mil pessoas tenham prestigiado a abertura, segundo histórico da prefeitura de Florianópolis.

Em 1894, o prédio ganhou o atual nome de Álvaro de Carvalho (1829-1865), em homenagem ao tenente e comandante da Marinha brasileira. Ele foi também o primeiro dramaturgo catarinense. Pouco antes da mudança, no mesmo ano, Desterro ou a chamar-se Florianópolis.
Nesse mesmo período, poucos anos depois de entregue, o teatro já exigiu as primeiras ações de restauração. Num período bastante conturbado na Ilha de Santa Catarina, entre 1893 e 1894, o palco do Santa Isabel recebeu poucas apresentações.
Em outubro de 1893, o prédio foi designado como quartel da Guarda Nacional, opositora ao governo provisório da nova República do Brasil.

Mais tarde, com a retomada do poder pelo Exército, muitos presos políticos do coronel Antônio Moreira César (1850-1897) foram levados e detidos no prédio.
Primeira exibição de cinema 91m2o
O TAC também foi o local da primeira sessão de cinema de Florianópolis. Em 3 de novembro de 1901, o inédito cinematógrafo pertencente a Mr. Kaurt exibiu a Guerra do Transwaal, Funeral do Rei Humberto 1º e as Festas em Paris, conforme anúncio divulgado na edição do jornal O Dia, de 1º de novembro de 1901.
No fim da mesma década, foi o cinematógrafo ambulante do italiano José Julianelli que exibiu filmes no TAC. Nas décadas seguintes, a característica de cinema perdurou e em 1920 e 1930, o Teatro virou Cine Odeon e Cine Royal.
Mágicos, ventríloquos, ilusionistas e telepatas subiram ao palco do TAC em bailes oferecidos por políticos. Outras festas celebravam as debutantes. Numa época em que não havia cadeiras fixas, o amplo salão do Teatro era ideal para esses eventos.

No dia 22 de abril de 1935, a edição do Jornal O Estado anunciava as apresentações de Cantarelli, “um dos maiores e mais famosos mágicos do mundo”.
A nota acrescenta que “os espetáculos de Cantarelli, no Teatro Álvaro de Carvalho, alcançarão, sem dúvida, indescritível sucesso”.
Reuniões políticas, leituras de manifesto e até visitas de presidentes também foram realizadas no espaço. Festivais beneficentes foram feitos no TAC, como em prol de tradicionais times de futebol da cidade.
O Jornal O Estado traz na edição do dia 18 de junho de 1935, nota sobre a realização do “Festival do Avahy Futebol Clube”, que traria exibição de filme e “mais vários sambas, canções e valsas”.
Tigre morto 6c11a
Um uso curioso do TAC foi relatado pela imprensa em abril de 1902. Por causa do mau odor no local, descobriu-se que o zelador do prédio, um caçador, mantinha um tigre morto num dos corredores do Teatro.
“Em um dos dias da semana ada foi retirado de um dos corredores do teatro, um colossal tigre, já em adiantado estado de putrefação – e que era o terror dos frequentadores do referido teatro. Consta-nos que o bicho fora morto há muitos dias, pelo ativo zelador do Álvaro de Carvalho, que lhe dera um tiro em uma das ventas. Não foi sem tempo!”, diz a nota publicada pelo jornal O Binóculo da edição do dia 15 de abril de 1902.
Mudança radical 1w6g2a
Em 1955, o TAC ou por uma reforma polêmica, que alterou integralmente o desenho interno da casa. Antes, no entanto, foi levantada a hipótese das cortinas serem fechadas definitivamente e o prédio demolido.
Pouco restou da antiga estrutura. A reforma acompanhou a evolução da arquitetura e da decoração, procurando-se uma adequação entre a forma e a função.
Desde a década de 1970, o TAC é palco exclusivamente de espetáculos artísticos e culturais que celebram a cultura catarinense. O imponente prédio ocupa hoje lugar de destaque não só como peça arquitetônica, mas como legítimo patrimônio cultural, uma vez que foi tombado em 1988, sob guarda da FCC.