O Espaço Estético do Colégio de Aplicação da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina) recebe nesta terça-feira (5) a exposição “A Arte como Conhecimento de Si”, da artista plástica catarinense Tercília dos Santos, 70 anos, com mais de 30 deles dedicados às artes, como referência da arte naïf.
A exposição, contemplada pelo Prêmio Elisabete Anderle de Estímulo à Cultura, da FCC (Fundação Catarinense de Cultura), é resultado do trabalho realizado pela artista com estudantes das turmas do 4º e 9º ano das oficinas de artes visuais do Aplicação, com auxílio de Nicy Tânia Costa Carvalho, e fica em exibição até dia 21. Dia 19, Tercília e o artista plástico convidado, Sérgio Adriano H., proferem palestra.

De acordo com a curadora Juliana Crispe, trata-se de um manifesto dos afetos presentes na vida e obra da artista, que espera que sua arte chegue às crianças e às escolas e crie desvios dos espaços institucionalizados da arte, possibilitando que outras crianças possam, também, sonhar em serem artistas.
Tercília dos Santos frequentou os ateliês de pintura e desenho do CIC Centro Integrado de Cultura) nos anos 1990. “Tive aula com o Fernando Lindote, um artista que logo me incentivou a pintar do meu jeito, como eu via o mundo”, conta. Para ela, a arte remete a autoconhecimento, à infância ada com a família em Piratuba, no Oeste catarinense, onde nasceu.
Atualmente, mora no bairro Forquilhinha, em São José. Expõe regularmente em espaços nacionais e até internacionais. Recebeu duas vezes premiações na Bienal de Arte Naïf em Piracicaba, em 2005, e o Sesc/SC realizou exposição de suas obras em 2009, adquirindo todas para seu acervo.
Ela também é citada no livro “Arte Naïf no Brasil”, editado pela Galeria Jacques Ardies, de São Paulo. Já expôs no Museu Cruz e Sousa e no Masc (Museu de Arte de Santa Catarina) e vem expondo regularmente na Galeria Jacques Ardies, na Galeria André Cunha, em Paraty (RJ) e na Euearte, de São José.
O protagonismo do povo negro 6f3b3u
A pintura de Tercília remete à infância e traz, em seus quadros, o protagonismo do povo negro. Com grande riqueza de cores, traz cenas do universo rural, rituais religiosos, brincadeiras infantis, a escola como espaço de afeto, manifestações das culturas locais do Brasil e tradições. Sua escrita se faz por meio da pintura em sua essência e não pela palavra em sua grafia.
Criado por Conceição Evaristo, o termo “escrevivência”, junção das palavras escrever e vivência, está na genealogia da ideia, a que experiências étnica e de gênero está ligada. Segundo a escritora e educadora, ela carrega a vivência da coletividade.
Trabalhar a infância e os movimentos que nos constituem é, também, desejar trabalhar a autoestima, como diz a artista. “Pensar suas histórias e as belezas de infância, além das belezas do contato com o outro e do universo escolar, é algo que marca a vida da artista e, por isso, a importância em realizar este projeto no contexto escolar”, frisa a curadora Juliana Crispe.
Tercília desenvolveu o projeto a convite das professoras Angelica D’Avila Tasquetto, Michele Pedroso do Amaral e Sheila Luzia Maddalozzo. A produção é de Célia Maria Antonacci.