BAR DO CHICO JOACA 1980

Falar do Bar do Chico, o templo mais festeiro da cidade nos anos 80, estabelecido na Praia da Joaquina, não é tarefa fácil. Desculpem, mas o reduto merece um livro, não minhas mal traçadas linhas, ainda mais numa tarde de segunda-feira de vento sul, 24 de setembro de 2007, primeiro dia útil da Primavera e com uma preguiça monumental para escrever sobre qualquer coisa. Apressando, e com espaço limitado para relembrar fatos e fotos, vou apenas instigar a imaginação do leitor que viveu aquela época de rock, surfe e brotos no grande palco da Ilha, a nossa Joaca, antes da fama mundial de Florianópolis.
Aquela era ainda uma época em que a cidade não tinha sido invadida. Iam a praia as mesmas turmas que iam às festas do Paineiras, do Doze e que se encontravam à noite no Big Bravos, Iron Bar, Agapito… A cidade na verdade era uma turma só.
Não tinha dia. Todo dia, dando sol, todo mundo dava. Um pulo até a praia da Joaquina. De onde saiam todos de porre. Porque, na Joaquina, a única praia das décadas de 70 e 80 que bombava em Floripa, tudo começava e terminava num único bar, improvisado na branca e fina areia daquele que já estava pintando como o grande point do surfe no Brasil. Torpedo de siri e cerveja gelada a qualquer hora. E assinando a nota. Foi lá que fizemos, eu e Ricardinho, o lendário Rock, Surfe e Brotos. Foi lá na Joaquina que convenci, numa festa no hotel do meu pai, o indicado prefeito de Florianópolis, Esperidião Amin, debutando no cargo, a pavimentar a estrada da Joaquina. Foi para lá que levei o Tim Maia, o Serguey, o Edu K, o Evandro Mesquita, o Pato Bantom, o Cidade Negra… Foi na Joaquina que vimos um monstruoso HangLoose Pro Contest, feito por um manezinho, Flávio Boabaid.
Fui daqueles que por muitos anos chegava na praia antes das 9 horas da manhã para jogar uma pelada a beira-mar, muitas vezes com craques do Avaí e do Figueirense. A moçada do surfe ia pegar onda, os do frescobol davam show na frente do bar do Chico, enquanto a turma das caminhadas ava pra lá e pra cá. Todo mundo era sério ou sóbrio até lá pelas 14 horas. Depois ia caindo um por um. No final da tarde tínhamos meninas e meninos de quatro. Muitos ficavam por lá mesmo, dormindo na areia a espera do dia seguinte, onde tudo se repetia.
A praia era pretexto para encher a cara no Bar do Chico, onde também rolava um peixinho frito muito conceituado. Os bêbados transformavam a Joaquina no maior pinico do mundo. Mulheres mergulhavam em grupo e, claro, urinavam. O banheiro do bar não dava conta. Jorge Coral descarregava ali mesmo, nas mesas, no calção, na calça. Era da turma que ia à praia, mas pouco mergulhava. Sentava e ficava. Agenor Medeiros, Tolozinho, Miro e o então delegado da Polícia Federal, David de Castro faziam parte da mesma mesa. E tinham aqueles que davam escândalos. O cabeleireiro Giovani era hour-concurso nesse quesito. Chegava a desmaiar. Já era álcool com boleta.
Uma festa
Imagine um lugar onde todos os dias, as melhores e mais conhecidas pessoas da cidade – de 15 a 50 anos, se encontravam para conversar, beber, dançar, mergulhar, jogar futebol, frescobol, surfar e até fumar maconha. E de barrigas e pernas de fora. A Joaquina foi a cópia mais fiel do Pier de Ipanema, no Rio. E o Bar do Chico era a nossa Pizzaria Guanabara, o point da moçada no Baixo Leblon.
Mas como tudo que é bom um dia acaba, o Bar do Chico também acabou. A Joaquina ainda resistiu mais um pouco. E nós trocamos de praia. E de vida. Daquele reduto, ficaram, quero crer para sempre, inesquecíveis recordações.
Texto: Cacau Menezes
Foto: Marco Cezar