O Procon de Santa Catarina proibiu nesta terça-feira (5) a venda de ossos de origem animal em Santa Catarina por ser considerada uma prática abusiva. A restrição foi adotada após oito mercados e açougues no Estado serem identificados nesta semana comercializando os alimentos, cuja procura aumentou em função do encarecimento da carne.

Os estabelecimentos ficam localizados na Grande Florianópolis: dois em São José e em Palhoça, três em Florianópolis e um em Biguaçu. Os locais costumavam realizar a doação de ossos, mas com o aumento do preço da carne e a maior procura, aram, então, a vendê-los, segundo o diretor do Procon, Tiago Silva.
“Recomenda-se que as empresas se abstenham de cobrar pelos ossos de bois, mas que apenas efetuem doações à população, sob pena de incorrer em afronta a legislação consumerista”, informa a recomendação também assinada por Francisco Antonio Crestani, presidente executivo da Acats (Associação Catarinense de Supermercados).
Apesar do valor gastronômico e do uso em diferentes pratos, a procura por ossos ganhou um novo contorno em razão do empobrecimento da população e o consequente aumento da fome, condição a qual estão submetidos 19,1 milhões brasileiros, segundo dados da Penssan (Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional).
As pessoas também buscam osso para buscar restos de carne, produto que registrou aumento de 15,3% no último ano.
“Pagamos pelo osso” 6l1p3s
“Nós sempre vendemos o osso, nunca foi doado até porque pagamos por ele. Vendemos pela metade do que foi pago”, afirma Paulo Corso, proprietário do Açougue do Bairro, no Pantanal, em Florianópolis. Ele conversou com a reportagem na tarde desta terça, antes do anúncio da proibição.
O local não estava entre os fiscalizados e vendia o quilo pela média de R$9. Com o aumento acentuado no valor carne vermelha, Corso percebe que os clientes procuram mais carnes de frango e porco, mas não os ossos. Apesar de também terem sofrido aumento, elas são mais baratas que a vermelha.
Essa migração entre proteínas é comum durante as crises, segundo Jorge Luiz de Lima, gerente-executivo do Sindicarne. Ele não percebeu nenhum aumento na procura de ossos, produto normalmente utilizado para uso em diferentes receitas, principalmente por conta do tutano. Pratos como caldos e sopa de ossos também levam o ingrediente.
Uso como sabor, mas sem valor nutritivo 1055v
O uso dos ossos é destinado para agregar sabor e engrossar caldos, sopas e feijões. No aspecto nutritivo, não há como substitui-los pela carne, pois eles não possuem valor nutricional confirmados em estudos científicos para humanos, explica a nutricionista Maria Eduarda Zytkuewisz Camargo. “É uma atitude vista somente no reino animal”, ressalta.
Um ser humano saudável com idades entre 31 a 50 anos precisa consumir cerca de 0,8g de proteína por kg diariamente. Para isso, um homem com 82 kg precisaria comer 65,6 gramas por dia, por exemplo. O tradicional músculo do boi, corte popular no Brasil, possui pouco menos da metade necessária em um pedaço de 100g, ilustra Zytkuewisz.
Também membra a TearSAN (Teia de Articulação pelo Fortalecimento da Segurança Alimentar e Nutricional), ela ressalta que para combater o cenário da fome é necessário criar restaurantes populares e locais “para que a população tenha o regular a todos os grupos alimentares necessários para manutenção da saúde física, mental e dignidade humana”.
O consumo de ossos, produto usado principalmente na produção de rações, conversa também com a realidade do desemprego brasileiro. “É importante que não se perca a noção de humanidade e que os mais abastados se insiram na luta pelo combate à fome, mesmo que seja através da doação de alimentos”, pontua.