No domingo (23), estudantes prestaram o Vestibular Unificado da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina) e do IFSC (Instituto Federal de Santa Catarina). O exame pedia que os candidatos elaborassem uma redação sobre a censura de livros nas escolas.

O Vestibular Unificado UFSC-IFSC oferece 1.086 vagas em cursos presenciais para o segundo semestre letivo deste ano. Entre os 5.623 inscritos, a prova registrou um índice de 19,3% de abstenção.
O tema da redação do vestibular abordou a proibição e censura de livros nas escolas. Os candidatos podiam escrever uma carta, uma crônica ou um conto. Nenhuma das três opções era dissertação, gênero textual mais comum em processos seletivos.
Confira as propostas de redação do Vestibular Unificado UFSC-IFSC 2s5v30

- Proposta 1: Produza uma carta aberta, direcionada ao Ministério da Educação, manifestando posicionamento sobre a censura ou proibição de livros em escolas. Escolha como: a) Professor(a); b) Pai ou mãe de estudante; c) Estudante; ou d) Escritor.
- Proposta 2: Produza uma crônica tematizando a censura ou proibição de livros na sociedade contemporânea.
- Proposta 3: Produza um conto sobre como seria o futuro da humanidade caso os livros fossem proibidos.
Os textos de apoio da redação incluíam notícias sobre a censura do livro “O avesso da pele”, do autor Jeferson Tenório, em quatro estados brasileiros. A obra, porém, não foi a única a ser suspensa na rede pública após polêmicas.
Relembre os casos de censura de livros nas escolas 55j1t

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A controvérsia em torno do livro de Jeferson Tenório, citado no Vestibular Unificado UFSC-IFSC, começou em março com um vídeo publicado por uma diretora nas redes sociais.
Janaina Venzon, diretora da Escola Estadual de Ensino Médio Ernesto Alves de Oliveira, na cidade de Santa Cruz do Sul, condenou o conteúdo sexual e o uso de palavras obscenas na obra “O avesso da pele”.
“É lamentável um governo federal mandar esse tipo de linguagem para ser trabalhado com adolescentes dentro de uma instituição de ensino”, recrimina no vídeo.

Com a repercussão, a 6ª CRE (Coordenadoria Regional de Educação), ligada à Secretaria da Educação do Rio Grande do Sul, mandou as escolas retirarem os exemplares das bibliotecas.
“O avesso da pele” está incluso no PNLD (Programa Nacional do Livro e do Material Didático) para alunos do ensino médio e foi escolhido pela própria escola estadual para compor o catálogo literário em 2023, com aval da diretora.
Vencedor do Prêmio Jabuti em 2021, o livro alvo de censura conta a história de Pedro, filho de um professor de literatura assassinado em uma abordagem policial. O personagem sai em busca de resgatar o ado da família em Porto Alegre nos anos 80.
A narrativa aborda relações sociais, identidade, racismo, violência e negritude. Em entrevista à Carta Capital, o escritor Jeferson Tenório apontou que a diretora distorceu o tema do livro.

“É um livro sobre a paternidade, sobre a difícil relação entre pais e filhos. Há também uma crítica à precariedade do ensino no Brasil. É um livro que tratará da sala de aula, do dia a dia dos professores, dos alunos. Por fim, também tratará do racismo estrutural e, consequentemente, da violência policial”, esclareceu.
O autor criticou a censura nas redes sociais: “O mais curioso é que as palavras de ‘baixo calão’ e os atos sexuais do livro causam mais incômodo do que o racismo, a violência policial e a morte de pessoas negras”.
Além do Rio Grande do Sul, a obra foi recolhida das escolas pelos governos do Mato Grosso do Sul, de Goiás e do Paraná.
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Mais recentemente, outro livro brasileiro que aborda o racismo sofreu censura. “O menino marrom”, lançado pelo escritor e cartunista Ziraldo em 1986 foi suspenso nas escolas de Conselheiro Lafaiete, em Minas Gerais.

A Secretaria Municipal de Educação tomou a medida na quarta-feira (19) após pressão dos pais dos alunos. A obra narra a amizade entre um garoto negro e um branco, que investigam o mistério das cores e aprendem sobre a diversidade racial.
As famílias consideraram o conteúdo agressivo e alegaram que o livro induziria as crianças a “fazer maldade”. Em um dos trechos polêmicos, o “menino marrom” se oferece para ajudar uma senhora a atravessar a rua, mas é rejeitado por ela com rispidez.
As crianças então assistem à idosa ar e o “menino cor-de-rosa” pergunta: “Por que você vem todo dia ver a velhinha atravessar a rua?”, ao que o “menino marrom” responde: “Eu quero ver ela ser atropelada”.

Em outra agem do livro de Ziraldo, os garotos decidem fazer um pacto de sangue para selar sua amizade. No entanto, eles não têm coragem de se ferir e acabam firmando o pacto com tinta azul em um papel.
A Secretaria Municipal de Educação lamentou as interpretações dúbias e defendeu a relevância da obra em nota nas redes sociais.
“O livro é um recurso valioso na educação, pois promove discussões importantes sobre respeito às diferenças e igualdade. Utilizando uma linguagem simples e ilustrações atraentes, Ziraldo consegue envolver as crianças e facilitar a compreensão de conceitos complexos como racismo e empatia”, esclareceu o órgão.