Com a oferta de tantas telas na rotina das crianças, como computadores, celulares e tablets, é cada vez mais comum a chamada intoxicação digital. No último fim de semana, foi lançada uma campanha de conscientização sobre o tema em Santa Catarina. Confira o que é intoxicação digital e o que médicos falam sobre o assunto.

Aos 5 anos de idade, o celular é o companheiro de Antonela Rabelo Carneiro ao menos duas horas por dia. Basta a mãe, a jornalista Juliana Rabelo, entregar o aparelho, para o olhar não desgrudar da tela.
“Quando não tá com o celular, aí, é aquele furacão”, disse Juliana.
A preferência de Antonela é pelos jogos virtuais e vídeos na internet. “Gosto de ver o canal do Vinibug, canal da Belinha, gosto de Maria Clara e JP”, contou a menina.
Quando o tempo de uso estipulado termina, é sempre a mesma história. Antonela sempre quer ficar mais um pouco com o aparelho. Mas o pai dela, o fotógrafo Felipe Carneiro, sabe o quanto o excesso do aparelho pode ser prejudicial.
Para Carneiro, “na pandemia, onde as crianças tiveram que ficar muito tempo dentro de casa, o o à tela ficou muito maior e isso traz uma certa preguiça de fazer alguma brincadeira, de inventar alguma coisa, pra poder ficar no celular ou na televisão. O Heitor sempre foi muito criativo e isso se deve ao fato de sempre ter muito contato com outras crianças. Ele continua sendo criativo, mas o que eu enxergo é que a criatividade diminui”.
Uma pesquisa da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) ouviu mais de 6 mil crianças no país e concluiu que a pandemia aumentou o uso da tecnologia dessa turminha. Entre os pais e responsáveis, 51% responderam que os filhos am mais de quatro horas por dia usando telas. Outros 24% ficam de três a quatro horas.
O recomendado pela SBP (Sociedade Brasileira de Pediatria) é que as crianças com mais de 5 anos em no máximo duas horas por dia diante de uma tela de celular; de 2 a 5 anos, uma hora; e menores de 2 anos nem devem pegar no celular.
É que ao usar o aparelho, o cérebro ativa um neurotransmissor chamado dopamina, responsável pela sensação de prazer. O problema é quando essa ativação ocorre com muita frequência.
Com o uso excessivo das telas, as atividades ao ar livre, que envolvem o uso do corpo na exploração do ambiente, se tornam raras. Isso implica em crianças mais sedentárias, com pouca interatividade social até com os próprios pais. Sem a convivência presencial, os efeitos aparecem: dificuldades de concentração, atraso na linguagem, não saber como lidar com os próprios sentimentos e por aí vai.
A dependência pode prejudicar o processo de formação do cérebro e interferir na aprendizagem da criança em sala de aula. Segundo a pedagoga Nicole Alvim, “essas vivências iniciais vão afetar diretamente nessa questão da socialização das crianças. Se a criança a muito tempo na tela, acaba perdendo o contato com o outro. A energia que era para estar sendo gasta brincando, ampliando a criatividade, fica restrita a só um tipo de linguagem, que é receber informações da televisão, do tablet, do celular”.
No fim de semana, a S (Sociedade Catarinense de Pediatria) reuniu diferentes especialistas em Blumenau para lançar uma campanha estadual que busca prevenir a intoxicação digital de crianças e adolescentes.
A presidente da S, Nilsa Medeiros Perin, contou que a instituição “pretende fazer outros eventos e aumentar essa divulgação do que a gente pode fazer para evitar”.
O amadurecimento saudável, apontam os especialistas, vem das experiências reais, longe dos eletrônicos. Prazeres raros nos dias atuais.
Confira mais informações na reportagem do Balanço Geral Florianópolis!