Ainda que tenham se ado mais de 500 anos de uma história tão importante de luta e resistência dos povos indígenas, é um desafio valorizar e entender a imensidão da cultura indígena.
Na Escola Municipal Professor Avelino Marcante, em ville, as turmas dos sétimos anos em que a professora de Geografia Gilcelânia Marli de Borba de Moura leciona, o aprofundamento do tema provocou uma série de apresentações para mergulhar na história das tribos originárias do Brasil.

“A questão de a gente aprender e entender como foi a mudança do nosso território, a estruturação regional e trazer um pouco dessa cultura deles para o nosso dia”, destaca a professora sobre a importância do assunto.
A diversidade desses habitantes nativos que já estavam por aqui antes mesmo de Pedro Álvares Cabral chegar com suas caravelas na costa brasileira e gritar “Terra à vista”, no ano de 1500, ainda deixam marcas.
Um exemplo é a herança na culinária. Graças aos indígenas que feijão, mandioca, milho, batata doce e outras produções da terra ainda enriquecem nossos pratos, assim como as palavras indígenas que estão presentes até nos nomes de cidades, estados e municípios, como Jericoacoara, Piauí, Paraná e Ubatuba.
Na pesquisa feita por Heloisa de Paula Rampazio, 11, por exemplo, o nome do mar Caribe é originário dos povos caraíbas. Para a estudante, o estudo ampliou o conhecimento, que se limitava aos estereótipos vistos em desenhos e histórias. “Eu só pensava nas pessoas com cabelos escuros, ocas e que viviam da caça.”
Para aprofundar o tema, Gilcelânia escolheu oito tribos indígenas para que os alunos pudessem ampliar seus conhecimentos sobre a regionalização do Brasil, desde a chegada dos europeus até os dias atuais.
“Existem alguns povos que eles estudaram que não existem mais, então, eles vão estudando e desmistificando, porque quando você fala sobre indígena no Brasil, remete a oca, aldeia, caça, tomar banho no rio, e não é bem assim” diz a professora.
Afinal, quem descobriu o Brasil? 1f1b38
Não eram poucos os indígenas que já estavam por aqui, antes mesmo da chegada da trupe europeia: dados da Fundação Nacional do Índio (Funai) apontam que cerca de 3 milhões de nativos já povoavam nossas terras.
De lá para cá, devido a vários fatores que afetaram o desenvolvimento das tribos, esse número reduziu para 800 mil indígenas, de acordo com dados do Censo 2010.
Espalhados por todo país, a região Norte é onde estão em maior número: são mais de 300 mil indígenas, divididos em diferentes tribos. Aqui no Sul, os dados apontam um menor número, com estimativa de pouco mais de 5.000 indígenas.
Aprofundar o conhecimento sobre os povos nativos do Brasil, além de desenvolver o respeito, é importante para preservação da cidadania e garantia dos direitos daqueles que, até os tempos atuais, têm sua cultura reverberada nos nossos hábitos, costumes e alimentação.
E, se por anos os livros didáticos reproduziram a ideia de que a história do descobrimento do Brasil começou com os portugueses, as informações que trouxemos aqui já mostram que estávamos imersos diante de uma enorme fake news (notícia falsa).
Para desconstruir todo esse imaginário reproduzido por anos é preciso dar um o a mais nos estudos sobre as histórias dos povos indígenas que estão muito além de se resumir ao período da colonização portuguesa.

5 curiosidades que você precisa saber sobre a língua indigena 1e5l5e
Se você acredita que o povo indígena fala apenas um idioma e compartilha dos mesmos costumes, essa ideia está prestes a mudar. Imagine que cada tribo ou grupo foi capaz de desenvolver a própria comunicação, utilizando termos e sons para conversar.
As mudanças interferiram na construção das frases e no sentido das palavras, colocando o nosso país em evidência – acredita-se que por aqui surgiram dois grandes troncos linguísticos: o tupi e o macro-jê.
Para se ter uma ideia da diversidade linguística, os troncos estão acima das famílias de idiomas que foram criadas, todas com a mesma origem. É a partir dessa formação que cada tribo se adaptou aos termos, colocando as próprias características nas conversas.
Foi assim que surgiram as 274 línguas, faladas por indivíduos que pertencem a 305 etnias, de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Além dos idiomas desenvolvidos a partir dos troncos, ainda existem aqueles que não possuem familiaridade com nenhum dialeto, ou seja, que não possuem parentesco linguístico.
Aproveite para conferir cinco curiosidades que comprovam a riqueza e diversidade da língua indígena:
Tikuna: palavra + som 6m6c64
A língua tikuna é a mais falada, sendo utilizada por 34 mil indígenas. Uma das principais características está no som que os termos ganham, já que a entonação de cada sílaba muda o significado da palavra, característica principal de um idioma tonal.
Você conseguiria incluir os sons nas palavras que está acostumado a dizer? Já pensou como deve ser essa conversa?
Guarani kaiowá, um dos guaranis 3712x
Conhecida por muitos, o guarani é a segunda língua mais falada, com 26,5 mil praticantes. Além dos brasileiros, o idioma também é utilizado pelos paraguaios, colombianos e venezuelanos. Engana-se quem pensa que a língua é a mesma em todos os locais. Existem variações do dialeto, de acordo com a tribo e localização. O idioma faz parte do tupi-guarani, termo utilizado para definir um grupo linguístico.
Kaingang e a origem macro-jê 1o1y7
Lembra da ideia de troncos? O kaingang pertence ao lado dos macro-jês, sendo um dos dialetos mais falados, com 22 mil indivíduos. Os kaingangs representam quase metade dos povos que utilizam essa língua, sendo um dos propulsores da cultura e costumes.
Xavante, comunicação própria 65k2b
Tema de música, os xavantes são figuras conhecidas na história. Com 13,3 mil falantes, esse povo desenvolveu uma comunicação única, criando as próprias canções e arte. Os integrantes vivem em uma sociedade independente, que sobrevive do plantio e da colheita.
Yanomami e as variações da língua e385e
Você já deve ter lido sobre os Yanomamis, certo? As tribos estão nas florestas brasileiras, com 12,7 mil pessoas conectadas pela mesma língua: Ninám, Sonumá, Yanomán e Yanomami são os quatro dialetos que podem ser encontrados.
Vale destacar que esse povo tem proximidade com as plantas, utilizando a natureza para produzir alimentos e remédios e construir casas.
Por que existem várias línguas no mundo? b4e6y
Depois de conhecer algumas línguas indígenas, você deve ter se perguntado como um idioma pode ser modificado tantas vezes, não é mesmo?
A explicação está na evolução da sociedade e na forma como os grupos e povos foram conhecendo novos lugares. Sendo assim, a língua foi ando por alterações, criando um novo padrão.
Esse movimento aconteceu em todos os cantos do mundo, aplicando na comunicação as características de cada grupo. Basta pensar no português, levando em consideração as variações que existem no dialeto falado no Brasil e em Portugal.
O mesmo aconteceu com a cultura indígena, que foi se espalhando pela Europa e pelas Américas.