O cenário ainda é desafiador. Ninguém saiu ileso a crise dos últimos anos. Mas o poder de resiliência da indústria catarinense é incontestável. De janeiro a novembro, a indústria de transformação gerou 35 mil postos de trabalho no Estado. Isso representa um terço das vagas abertas pelo setor em todo o Brasil. Influência da economia diversificada, da infraestrutura, da eficiência de alguns serviços, do grau de produtividade da nossa mão de obra. Envolve certamente tudo isso e muito mais.
Esta reportagem faz parte da série Acelera SC, produzida pelo Grupo ND, sobre o desenvolvimento econômico catarinense e as perspectivas de crescimento do Estado.
Da sabedoria popular há uma frase que parece simplista, mas tem lá seu fundo de verdade e influência sobre o jeito catarinense de produzir, resistir, se reinventar. “O olho do dono é que engorda o gado”. Nossas mais importantes pequenas, médias e grandes empresas – com raras exceções – nasceram aqui, e são geridas por famílias catarinenses. Ou, nas palavras do presidente da Fiesc (Federação das Indústrias do Estado de Santa Catarina), Mario Cezar de Aguiar: “A nossa economia é baseada em pessoas empreendedoras, que acreditam no seu negócio, que investem no seu negócio, e fazem com que a economia de Santa Catarina desponte em nível nacional”.
De acordo com os dados do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), do Ministério da Economia, o Estado teve onze meses consecutivos de saldo positivo. E no placar de novembro, a indústria de Santa Catarina venceu de goleada. Superou São Paulo e Minas Gerais, os dois Estados mais populosos do país. No confronto com o Paraná e o Rio Grande do Sul, vencemos de quatro a um. Enquanto a indústria catarinense gerou 35 mil vagas, os nossos vizinhos não chegaram a nove mil cada. O Rio de Janeiro nem se fala. A indústria fluminense fechou novembro no vermelho. Foram mais demissões que contratações.

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2019 foi bom e 2020 pode ser ainda melhor 474h2d
Para o presidente da Fiesc, Mario Cezar de Aguiar, 2019 foi um bom ano. “Talvez não tão bom quanto nós desejávanos lá no início de janeiro, mas ao longo dos meses a economia veio se recuperando e está chegando ao nível de crescimento, pelo menos em Santa Catarina, bastante satisfatório. Esperamos que essa curva ascendente se projete para 2020,” comenta ele.
No acumulado de janeiro a novembro, o Brasil gerou 948.344 empregos novos. Isso somando todos os setores da economia. É o melhor desempenho dos últimos seis anos. Em 2013 foram 1.546.999 vagas no acumulado de 11 meses.
Em termos gerais, Santa Catarina é o terceiro Estado do país em geração de novas oportunidades de trabalho. Só este ano foram criadas 95 mil vagas de emprego no Estado. A indústria de transformação foi o setor que mais contratou – o equivalente a 36%.

O que é a indústria da transformação 555u23
As atividades da indústria de transformação são, frequentemente, desenvolvidas em plantas industriais e fábricas, utilizando máquinas movidas por energia motriz e outros equipamentos para manipulação de materiais. É também considerada como atividade industrial a produção manual e artesanal, inclusive quando desenvolvida em domicílios, assim como a venda direta ao consumidor de produtos de produção própria, como, por exemplo, os ateliês de costura. Além da transformação, a renovação e a reconstituição de produtos são, geralmente, consideradas como atividades da indústria (ex.: recauchutagem de pneus). Os produtos novos de um estabelecimento industrial podem estar prontos para consumo ou semi-acabados, para serem usados como matéria-prima em outro estabelecimento da indústria de transformação. Por exemplo: a produção de celulose será matéria-prima para a produção de papel; por sua vez, o papel será matéria-prima para a produção de artefatos.
Retomada da economia já começou 5t1142
O economista Paulo Guilhon destaca que um terço do PIB catarinense é provido pela indústria. Ele lembra que no primeiro semestre a produção industrial catarinense cresceu 3,4% enquanto que a brasileira recuou 1,4%. “Os analistas estão falando que o Brasil vai crescer 2% no ano que vem. Se isso se confirmar, Santa Catarina vai crescer bem mais,” enfatiza ele.
Para Paulo a retomada da economia já começou. Ele cita o desempenho da última Black Friday – a data de descontos no comércio, realizada no final de novembro. “Este ano o comércio vendeu 26% a mais que no ano ado. Isso indica que as pessoas estão com mais dinheiro no bolso. A inflação projetada para este ano deve ficar em 3,5%. Os juros caíram para 4,5%. Isso tudo estimula o consumidor e move a indústria”.

Empresas aproveitam bom momento 2p452s
Enquanto muitos só reclamam, tem gente investindo e se preparando para aproveitar as oportunidades que vêm por aí em 2020. A Cebra – uma indústria de eletrônica localizada no Itacorubi, em Florianópolis – vive um momento de inúmeras transformações. O prédio está sendo ampliado, novos equipamentos chegando, e a produção crescendo num ritmo incomparável à média nacional. De acordo com o diretor da empresa, Alexandre da Cunha, as vendas cresceram 15% este ano e a empresa espera crescer o dobro no ano que vem. O PIB Brasileiro deve fechar 2019 com alta de 1%.
Alexandre explica que a estratégia adotada pela Cebra é não bater de frente com as gigantes chinesas. A empresa produz fontes chaveadas e conversores especiais, mas só trabalha por encomenda. Se produzisse para abastecer o mercado comum de computadores, por exemplo, não teria fôlego para disputar com empresas asiáticas, que possuem mão de obra mais barata e uma capacidade de produção muito maior. Segundo ele, a decisão desde o início foi projetar, desenvolver e fabricar os produtos conforme a necessidade específica dos clientes. “Nós buscamos novos nichos de mercado, onde a tecnologia começa a ser mais demandada e nos preparamos para a internacionalização também. Os investimentos que nós fizemos estão nos preparando para ser uma indústria de classe mundial”, destaca Alexandre.
De olho na retomada do crescimento, a empresa investiu R$ 8 milhões só na ampliação da estrutura física. Alexandre conta que queria ter feito isso ainda em 2012, mas o projeto de ampliação foi adiado por conta de mudanças na legislação e a crise financeira. ada a turbulência, a diretoria não pensou duas vezes: comprou novos equipamentos, dobrou a capacidade de produção, voltou a contratar. Antes eram 45 funcionários, hoje já são mais de 90 profissionais. E agora a empresa está investindo mais R$ 1 milhão em uma nova máquina.
“Eu diria que a hora de investir é agora, não dá para esperar o mercado acontecer ou crescer pra investir. Aí vai ficar mais caro e difícil de acompanhar o crescimento. É que nem olimpíada. Quem quer competir tem que estar preparado. Você precisa estar em forma antes… O Brasil crescendo 3% ano que vem, a gente cresce 30%, com certeza”, diz Alexandre.