Vice-campeão do BBB 24, o estudante Matteus Amaral se declarou negro para ingressar no curso de Engenharia Agrícola do IFFar (Instituto Federal Farroupilha). É o que indica um documento repercutido nas redes sociais nesta sexta-feira (14).

A lista dos aprovados no instituto em 2014 revela que o candidato Matteus Amaral Vargas se autodeclarou preto. O ex-BBB, portanto, teria garantido uma vaga no campus de Alegrete mediante fraude nas cotas raciais.
Um resultado preliminar publicado em 17 de janeiro de 2014 apontava que Matteus tinha sido desclassificado por zerar a redação.
Contudo, outro edital divulgado semanas depois mostra o candidato aprovado no curso de Engenharia Agrícola na categoria de cotas para alunos pretos egressos de escola pública.

Faculdade confirma a inscrição 1b2f5e
Em nota ao ND Mais, o IFFar confirmou que Matteus Amaral se inscreveu nas vagas destinadas a candidatos pretos e pardos. O único documento exigido na época era a autodeclaração do candidato.
A instituição não dispunha de mecanismo para verificar ou comprovar a declaração, então possíveis fraudes eram apuradas apenas se houvesse denúncia. Leia o pronunciamento do IFFar ao fim da matéria.
Natural de Alegrete, no Rio Grande do Sul, o estudante chegou a falar sobre a faculdade durante o BBB 24. Ele itiu que trancou a matrícula no quinto semestre para cuidar da sua avó.

O gaúcho conquistou o segundo lugar no pódio do BBB 24, ao lado da namorada Isabelle Nogueira e do campeão Davi Brito. O casal se conheceu no reality show e levou o relacionamento adiante.
O ND Mais entrou em contato com a assessoria do ex-BBB, que respondeu apenas após a publicação desta matéria. Segundo Matteus, a inscrição no curso foi realizada por outra pessoa, que selecionou a modalidade de cota racial sem o seu consentimento.
“Lamento profundamente qualquer impressão de que eu teria buscado beneficiar-me indevidamente dessa política, o que nunca foi minha intenção”, esclareceu em nota.
“Se eu me declarei negra, eu sou negra” diz mãe de Matteus em vídeo 373u5z
É possível escutar a mãe de Matteus Amaral conversando sobre cotas raciais ao fundo de um vídeo publicado no story do Instagram dele.
“Já soube que isso aí não dá nada. É só esquecer, isso aí não vai dar nada. Se eu me declarei negra, eu sou negra”, afirma a mãe.
🚨AGORA: Matteus do Alegrete posta story onde é possível ouvir sua mãe falando sobre o caso de fraude por cotas no Instituto Federal
“Já soube que isso aí não da nada. É só esquecer, isso aí não vai dar nada. Se eu me declarei negra, eu sou negra” pic.twitter.com/avMwp7tfKo
— Alfinetei (@ALFINETEI) June 13, 2024
Leia a nota do IFFar a respeito do caso de Matteus 5v2e25
Segue o posicionamento enviado pelo IFFar ao ND Mais na íntegra:
NOTA SOBRE POLÍTICA DE AÇÕES AFIRMATIVAS NO IFFAR
“Em 2014 o estudante Matteus Amaral Vargas ingressou no curso de bacharelado em Engenharia Agrícola oferecido em conjunto com a Unipampa. A inscrição dele foi feita nas vagas destinadas a candidatos pretos/pardos. Essas informações constam no Edital no046/2014, que é público e traz o resultado da seleção desse curso naquele ano. Esse curso, oferecido em conjunto com a Unipampa, não é mais ofertado pelo IFFar desde 2021. O Matteus Amaral Vargas também não é mais estudante do IFFar.
Em relação ao ingresso pelas cotas, é importantíssimo ficar claro que, naquela época, de acordo com a Lei de Cotas de 2012, o único documento exigido para a inscrição nas cotas era a autodeclaração do candidato. Assim como em outras instituições federais de ensino, não havia mecanismo de verificação ou comprovação da declaração do candidato. Os editais, contudo, continham a informação de que, “a constatação de qualquer tipo de fraude na realização do processo sujeita o candidato à perda da vaga e às penalidades da Lei, em qualquer época, mesmo após a matrícula”.
Não havendo nenhum mecanismo específico de verificação de autodeclaração implantado, possíveis fraudes eram apuradas apenas se houvesse denúncia. Ou seja, alguém deveria fazer uma denúncia formal na Ouvidoria da instituição. Nesse caso, a questão poderia ser investigada internamente, por meio de um processo istrativo normal, que assegurasse ampla defesa de todas as partes. Nenhuma denúncia desse tipo foi feita na época.
Também é fundamental esclarecer que a política nacional de cotas foi sendo aperfeiçoada com o tempo, principalmente em razão de denúncias de possíveis fraudes terem surgido em várias instituições, várias delas recebendo ampla cobertura midiática. Um dos mecanismos implantados é a heteroidentificação, adotada pelo IFFar desde as seleções realizadas em2022 para ingresso em 2023. Atualmente, cada campus do IFFar possui uma comissão composta por três pessoas titulares e duas suplentes que atua em todos os processos de seleção dos estudantes. Mais informações sobre o processo de heteroidentificação podem ser verificadas neste link”
Segue o posicionamento enviado por Matteus:
“Recentemente, surgiram informações de que, em 2014, fui inscrito no curso de Engenharia Agrícola no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Farroupilha sob a modalidade de cotas para pessoas negras.
Esta nota tem como objetivo esclarecer as circunstâncias dessa inscrição e expressar minha posição a respeito.
A inscrição foi realizada por um terceiro, que cometeu um erro ao selecionar a modalidade de cota racial sem meu consentimento ou conhecimento prévio.
Entendo a importância fundamental das políticas de cotas no Brasil. Por isso, lamento profundamente qualquer impressão de que eu teria buscado beneficiar-me indevidamente dessa política, o que nunca foi minha intenção.
Reafirmo meu arrependimento por quaisquer transtornos causados e meu compromisso contínuo em ser um defensor ativo da igualdade racial e social.
Agradeço a oportunidade de esclarecer este assunto e peço desculpas por qualquer mal-entendido que possa ter ocorrido.”