Não foi fácil a sexta-feira para quem aprecia a cultura catarinense. Morreram no mesmo dia Mauro Júlio Amorim, Armando Gonzaga e Salim Miguel. “Dia pesado”, como definiu a amiga Giane Severo. [Na parte de baixo da coluna deste fim de semana escrevo um pouco sobre o Mauro e o Armando, duas figuras fantásticas de Florianópolis].
Convivemos durante dois ou três anos no jornal e também nos papos de botequim, frequentávamos a Kibelândia, ponto de referência dos jornalistas e intelectuais. Ele trouxe a turma do Pasquim – Jaguar, Ziraldo – e outros artistas e escritores para Florianópolis. Nunca me esqueço da presença de Darcy Ribeiro, que voltara do exílio, e concedeu uma das melhores entrevistas publicadas no semanário.
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Isso de trazer gente do Rio e São Paulo para cá, com o objetivo de compartilhar conhecimento e cultura, era algo muito próprio de Salim. Ele fazia questão de colocar os jovens em contato com as feras. Trouxe também o brasilianista Malcom Silvermann, da universidade de San Diego (EUA), especializado em literatura brasileira. Eram encontros marcados pela generosidade e pela inquietação intelectual.
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Tempos depois de sair do jornal, Salim assumiu a direção da Editora da UFSC, que até então era quase inexpressiva do ponto de vista de mercado. Salim deu impulso ao trabalho da editora, publicando não apenas trabalhos acadêmicos, mas também obras de ficção e crítica.
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Sempre disposto a inovar, e com uma incrível visão de marketing cultural, aproximou-se da Fiat, fabricante de automóveis, e conseguiu incluir Santa Catarina no programa “O Livro Até Você”, que consistia numa peregrinação de escritores pelo interior do Estado, em eventos especiais e sempre atendidos por uma Fiorino lotada de obras literárias. O carro foi doado depois para a Editora da UFSC. Participei do projeto junto com Jair Francisco Hamms, Chandal Meirelles Nasser, Oswaldo França Júnior, Flávio José Cardozo, Adolfo Boos Júnior, entre outros.
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Não dá para sintetizar toda a história de Salim nestas escassas linhas. Ele foi um dos intelectuais mais brilhantes de Santa Catarina no século 20 e parte do século 21. Com espírito de liderança, encarnou o papel de coordenador do Grupo Sul, o movimento modernista que sacudiu o Estado entre 1948 e 1957. Foi vítima da perseguição de maníacos de extrema-direita em 1964. Os fanáticos anticomunistas retiraram os livros de sua livraria e colocaram fogo nas imediações da Praça 15. Por causa da pressão dos fascistas, ele e a mulher Eglê – então professora do Instituto Estadual de Educação – acabaram rumando para o Rio de Janeiro, com os filhos pequenos, para recomeçar a vida. Só voltaram após a anistia política.
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Santa Catarina deve muito a Salim. Qualquer homenagem que se faça será insuficiente para reconhecer tudo o que fez pela cultura e pelo jornalismo, sempre com coerência, dignidade e fraternidade. Valeu, amigo!
Ícone da Capital
O empresário Armando Gonzaga, ex-presidente da Acif (Associação Comercial e Industrial de Florianópolis), morto na sexta-feira, atuou durante muito tempo pelas nossas grandes causas, como a recuperação das fortalezas da ilha, a ampliação do Aeroporto Hercílio Luz, a recuperação da Ponte Hercílio Luz e o tombamento nacional da Procissão do Senhor Jesus dos os. Foi secretário na istração de Angela Amin (1997-2005). Era filho do lendário ar Gonzaga (da construtora A. Gonzaga).
Cultura e elegância
Outra morte sentida na cidade, na sexta-feira (22), foi a de uma de nossas personalidades mais elegantes e cultas, o jornalista e relações públicas Mauro Júlio Amorim. Atuou em O Estado – onde escreveu crônicas durante muitos anos – e foi um dos pioneiros na televisão catarinense. Ligado ao teatro e à música, Mauro cultivou amizades com grandes personagens da cultura nacional, como Tônia Carrero, Paulo Autran, Maria Della Costa, entre outros. Era irmão de Maurício Amorim, que morreu no mês de março deste ano.
Saúde sem folga
Não teve feriado prolongado para grupo de funcionários da saúde municipal de Florianópolis no combate à dengue. Mesmo com tempo ruim na sexta-feira, equipe se dividiu em visitas domiciliares no entorno das ruas Manoel Leôncio Sousa Brito, Francisco Germano da Costa (trecho da histórica estrada Virgílio Várzea) e SC-401, onde foi identificado foco do Aedes aegypti. Orientação básica é evitar acúmulo de água parada e lixo.
Mudar o final
A questão política invade os palcos, mas, no nosso caso, de maneira culta e elegante. Num dos trechos do espetáculo 1717, apresentado pela Dois Pontos na abertura do Baila Floripa, um texto lido em off menciona a questão do combate à corrupção e como isso é relativizado pela opinião pública, do tipo “vem desde os tempos do descobrimento do Brasil”. O belo texto conclui: “Se não podemos mudar o começo, podemos mudar o final”.
Recata e dólar
“Perfil da mulher do Cunha: bela, recatada e dólar”. José Simão, no Twitter (@jose_simao), marcando sempre em cima do lance.