Todos os anos as taxas de violência contra negros aumentam assustadoramente. Todos os anos, os casos de racismo se multiplicam dentro e fora de campo e, em 2021, o time catarinense que mais ascendeu nos últimos anos, denunciou mais um desses casos.

Era janeiro quando Jefferson Renan foi mais uma vítima de racismo no futebol brasileiro. A partida ainda era válida pela Série C do Campeonato Brasileiro e o time fez o que deveria, registrou um boletim de ocorrência contra o dirigente do Vila Nova, que chamou o jogador do time catarinense de ‘macaco’.
Acontece que os casos, infelizmente, continuam acontecendo. Em pleno ano de 2021, atletas que entram em campo para trabalhar e para aquecer o coração de milhares de torcedores ainda são atacados e violentados. E, no sábado (28), mais um caso. Desta vez, no Augusto Bauer, em Brusque. Mas, desta vez, o time que, de maneira correta denunciou um caso de racismo contra o seu jogador, acusou o atleta do time paranaense de uma maneira que é até difícil de acreditar.
Celsinho denunciou o caso de racismo e apontou o culpado, um dirigente do clube. O árbitro relatou parte da denúncia na súmula, Celsinho fez o que, nessa situação, deveria fazer. Fez o que não deveria precisar fazer porque ele não deveria sequer ar por essa situação.
O Brusque demorou um dia inteiro para se manifestar e só veio a público na noite de domingo (29) “falar” sobre o caso. A nota publicada pelo clube é, talvez, a coisa mais absurda que um clube poderia fazer quando um dirigente, um atleta, um membro da comissão técnica, qualquer ser humano que carregue o escudo do clube pratique o crime de racismo.
O clube catarinense acusa o atleta de mentir. O Brusque acusa Celsinho, a vítima, de ser “reincidente”. Isso mesmo, o time acusou o jogador do Londrina de ser uma vítima reincidente. O absurdo é tamanho que a diretoria conseguiu piorar ainda mais – se é que isso é possível. “Racismo é algo grave e não pode ser tratado como um artificio esportivo, nem, tampouco, com oportunismo”, diz a última frase de uma nota abjeta.

O Brusque, que tem uma bonita trajetória dentro de campo saindo do buraco da quarta divisão para a Série B, conseguiu a façanha de tornar ainda pior uma situação já muito grave. O time catarinense conseguiu ter uma atitude mais vergonhosa do que qualquer resultado dentro de campo, qualquer queda, qualquer goleada.
Acusar uma vítima de racismo de reincidência, de oportunismo, não assumir suas responsabilidades não é só pequeno, é crime. E fazer isso meses depois de ver o seu próprio jogador sentindo a dor do racismo é ignorar a história dos seus próprios atletas.
Ao Celsinho e a todos os atletas negros que sofrem diariamente, minha solidariedade. Aos jogadores negros que leram esta nota, minhas desculpas de quem ama e acompanha o futebol e divide a mesma vivência com pessoas capazes de pensar, escrever, pensar e agir como cada linha desta nota.
Ao Brusque, meu repúdio.