‘Cidade de 15 minutos’ é solução para problemas de mobilidade? 665238

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Revisão do Plano Diretor sugere desenvolvimento em diferentes centros da cidade para promover autossuficiência nos bairros; professor aponta desafios do conceito

Ir para o trabalho, estudar, fazer as compras, ter o momento de lazer e realizar qualquer outra atividade do dia a dia sem precisar ar horas no trânsito é o sonho de qualquer morador, ainda mais para quem habita o Norte da Ilha de Florianópolis.

A movimentação diária entre o Centro e bairros importantes como Canasvieiras e Ingleses, por exemplo, pode ser um verdadeiro martírio.

Resolver as atividades cotidianas sem ar horas no trânsito é sonho de consumo de quem mora nos centros urbanos; idealizadores da revisão do Plano Diretor propõem bairros autossuficientes para melhorar a mobilidade – Foto: Anderson Coelho/NDResolver as atividades cotidianas sem ar horas no trânsito é sonho de consumo de quem mora nos centros urbanos; idealizadores da revisão do Plano Diretor propõem bairros autossuficientes para melhorar a mobilidade – Foto: Anderson Coelho/ND

Vira e mexe, moradores e turistas ficam reféns de longas filas e engarrafamentos na SC-401, SC-403 e até mesmo nas vias internas dos bairros.

Na proposta de revisão do Plano Diretor, a Prefeitura de Florianópolis defende que o adensamento populacional e a verticalização podem ser meios efetivos para ajudar a reduzir o intenso volume de veículos que transitam por longos trajetos na cidade.

A ideia a por fomentar as multicentralidades, para que as regiões da cidade fiquem mais próximas de um conceito como “a cidade de 15 minutos”, ou seja, um desenvolvimento de comunidades autossuficientes onde todas as atividades podem ser realizadas em uma curta distância, sema necessidade de grandes deslocamentos.

Neste contexto, o Norte da Ilha é um ponto fundamental. O secretário municipal de Mobilidade e Planejamento Urbano, Michel Mittmann, aponta que um dos objetivos do adensamento é fazer com que os moradores tenham facilidades nos arredores do bairro, desafogando o trânsito com a diminuição do uso de carros.

“A partir do momento que a gente a a ter bairros mais autônomos, que a gente tem um pouco mais de usos diversificados com mais densidade nos corredores ou eixos onde a o transporte coletivo, a gente agrega mais eficiência e facilitação”, afirma.

Segundo o secretário, a distribuição atual de Florianópolis obriga muitos moradores a utilizarem seus veículos para realizar qualquer atividade.

“Hoje, os nossos bairros não têm uso suficiente, e as pessoas têm que acabar utilizando automóvel ou outro veículo para fazer compras cotidianas, por exemplo”, diz Mittmann.

Ele reforça, no entanto, que o adensamento populacional “só virá com incentivos”.

E é nesse caminho que a prefeitura pretende utilizar os espaços para aplicar novas políticas de mobilidade.

A intenção é colocar dentro do Plano Diretor os critérios e objetivos que permitam implementar a infraestrutura ao longo do tempo, de acordo com o crescimento dos bairros e das vias, esclarece Michel Mittmann.

Além dessas medidas, outras providências elaboradas visam criar condições para uma mobilidade sustentável.

Entre estas ações, a proposta cita gerar espaço para a implantação de infraestruturas para o transporte ativo como calçadas, ciclovias e paraciclos.

Outra providência, segundo a prefeitura, é a menor exigência por vagas de estacionamento em edificações e áreas específicas da cidade.

Professor contesta revisão: “falácia” t33d

O professor do Núcleo de Geociências da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina) e doutor em Planejamento e Desenvolvimento Urbano, Elson Manoel Pereira, não concorda com os planos apresentados pela prefeitura.

Ele afirma que “há uma falácia” na proposta de alteração do Plano Diretor, ao destacar que o aumento de densidade e o uso misto nos bairros – ou seja, áreas de ocupação com funções de moradia, trabalho e recreação – não resolvemos problemas de deslocamentos.

Elson argumenta que os lugares onde as pessoas trabalham, moram ou estudam não dependem apenas de escolhas individuais. Segundo ele, existem diversos fatores, “principalmente econômicos”, que influenciam nesse cenário.

O professor ressalta que a Capital catarinense é uma cidade com dificuldades mais complexas, que não seriam resolvidas com o adensamento, que segundo ele pode até provocar problemas maiores.

“É verdade que as cidades que estão num nível mais desenvolvido de urbanismo têm procurado cada vez mais adensar seus territórios, mas são cidades sem vazios urbanos. Florianópolis é multicêntrica com grandes áreas vazias. Adensar o Sul e o Norte vai levar a mais circulação entre essas áreas e o Centro”, raciocina, ao considerar que nem todo morador conseguiria de fato manter suas atividades no bairro onde mora.

Mas qual seria a solução? u4c5k

De acordo com Elson Pereira, a organização estrutural deve vir antes de se planejar qualquer aumento populacional.

Dessa forma, sugere que os planos de mobilidade urbana precisam ser pensados a partir da ideia do DOT (Desenvolvimento Orientado pelo Transporte), conceito que reúne modelos e recomendações que visam oferecer espaços dinâmicos, sustentáveis e integrados.

Isso significaria que o sistema de transporte coletivo de massa orientaria as áreas íveis de ocupação e maior adensamento.

O professor Elson destaca que o único plano metropolitano de mobilidade existente em Florianópolis nos dias atuais é o Plamus (Plano de Mobilidade Urbana Sustentável da Grande Florianópolis), que segundo ele, tem de ser melhor executado.

“Mesmo não sendo perfeito, precisa ser assumido de maneira metropolitana”, diz Elson.

Na visão do profissional, portanto, o aumento populacional e o adensamento de Florianópolis deveria ser pensado e aplicado somente depois de um sistema de transporte de massa implantado em sua plenitude.

Como funciona o Plamus 276h2l

Foi desenvolvido entre 2014 e 2015 pelo governo de SC, com apoio do BNDES (Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social).

As diretrizes e conceitos acolhidos pelo Plamus como definidores das propostas de intervenções e políticas públicas são: 

  •  Desenvolvimento urbano orientado para o transporte coletivo
  • Sistema estrutural de transporte coletivo metropolitano integrado
  • Priorização de modais não-motorizados– em especial nas regiões mais centrais
  • Gestão de demanda
  • Regulação de transporte de mercadorias
  • Expansão da capacidade viária e gestão de tráfego

Macro critérios:

  • VIABILIDADE – como os benefícios se comparam com os custos de implementação da alternativa
  • IMPACTO SOCIAL – intensidade dos impactos distributivos da solução proposta, privilegiando soluções que beneficiem com maior intensidade segmentos menos favorecidos da população ou habitantes de regiões mais distantes.
  • SERVIÇO AO USUÁRIO – qualidade do serviço prestado pelo sistema de transporte público proposto.
  • PERFIL DOS MODAIS – capacidade da solução proposta de promover a migração do transporte individual motorizado para o transporte público.
  • IMPACTO AMBIENTAL – intensidade das alterações no meio ambiente provocados pela implantação das soluções.
  • IMPLEMENTABILIDADE – possibilidade e prazo necessário para que a solução proposta seja implementada.