O sotaque ouvido no Centro de Florianópolis não é apenas o “manezês” ou o catarinense. O som dos falares dos outros dois Estados do Sul do país reverbera por todos os cantos, e é possível ouvir também alguns que há pouco tempo ainda não tão comuns por aqui, como os vários sotaques do Nordeste.
Hoje, a mistura de gírias regionais é uma realidade que começa a fazer parte da cidade, afinal, a população da capital catarinense saltou de 421.420 pessoas em 2010 para 537.213 em 2022, aponta o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Desde 2010, os dados do Censo mostram que mais da maioria dos habitantes da capital catarinense são não nativos.

Florianópolis foi a segunda capital brasileira que ganhou mais moradores entre 2010 e 2022. Nesse período, o aumento populacional foi de 27,53%. A outra capital é Boa Vista (RR), que viu sua população crescer em 45,4%, possivelmente impulsionada pela imigração de venezuelanos.
Não é possível comparar a capital catarinense com a roraimense. Aliás, com quase nenhuma cidade brasileira. “Florianópolis é muito peculiar. É insular, tem uma geografia composta por morros e planícies, é diferente”, afirma o superintendente de Planejamento e Gestão Territorial da prefeitura, Kaliu Teixeira. Nem mesmo com as outras duas capitais do país que também são ilhas (Vitória e São Luís) é factível uma comparação.
O superintendente adjunto do IBGE em Santa Catarina, Guilherme de Barros Coelho, comenta que em 2010, quando houve o Censo Demográfico anterior ao do ano ado, a tendência apontava para crescimento populacional de Florianópolis. Naquela década, a Capital havia crescido 23,1% em relação ao Censo do ano 2000. Ele afirma que os dados divulgados do Censo 2022 ainda não são suficientes para análises aprofundadas, mas, com base em outros estudos, é “possível intuir” que a “economia pujante e a qualidade de vida” são fatores determinantes para a atração de novos moradores.
“Floripa é meu lugar de pertencimento”, diz artista plástica
A artista plástica curitibana Beatriz Oliveira conhece Florianópolis “há muito tempo”, desde quando também era atleta profissional e participava de maratonas na capital catarinense. “Eu já era apaixonada pela cidade, pelo sol, pela natureza. Floripa sempre foi muito inspiradora para o esporte e a arte”, diz. Há quatro anos, ela mudou-se de Curitiba para o Rio Tavares, no Sul da Ilha, e desde então tem desenvolvido seu processo criativo de forma mais satisfatória.
Os pássaros são personagens principais da obra de Beatriz, que os reproduz, principalmente, em madeiras de demolição. “Gralhas, tucanos, papagaios e todo tipo de arinho estão sempre próximos, e isso é muito inspirador”, afirma.
Não foram apenas o clima acolhedor e a natureza exuberante que atraíram Beatriz para Florianópolis. “Antes de me decidir, avaliei a questão da segurança e do IDH [Índice de Desenvolvimento Humano]”, relata. Ela também aponta problemas da cidade, como falta de saneamento básico, mas isso não altera a sua escolha. “Floripa é meu lugar de pertencimento do mundo, é como se eu tivesse nascido aqui”, sintetiza.
Aumento populacional em 1 década
- Florianópolis + 27,5%
- SC + 21,8%
- Brasil + 6,5%
Fonte: IBGE
“A cidade me pegou de um jeito e resolvi ficar”: oportunidade de crescimento e vida leve atraem novos moradores
Em 2013, o engenheiro de software Jonathas Pinheiro estava com 23 anos e achou uma boa ideia aceitar a proposta de trabalho de uma empresa de tecnologia para, segundo ele, aprender a se virar sozinho em uma cidade distante mais de 3.500 km de Belém (PA), onde nasceu e morava com os pais. “Estive antes em Floripa na casa de um primo e pensei: ‘moraria fácil nessa cidade’. Então quando recebi a proposta não precisei pensar muito”, conta.

Na época, ele estava fazendo mestrado em ciência da computação e, depois de algum tempo, saiu de Florianópolis para um intercâmbio na Austrália, onde ficou por quase dois anos. “Lá eu morei em Gold Coast, uma Floripa australiana”, lembra. Estar longe do Brasil e vivendo numa cidade parecida com Florianópolis levaram Jonathas a decidir que, na volta ao país, se mudaria para a capital catarinense.

Ele conversou com a reportagem durante a mudança para o apartamento recém-comprado na Trindade. “Inicialmente, o plano era voltar para Belém, mas a cidade me pegou de um jeito e resolvi ficar”, diz. Na Capital desde 2019, Jonathas se sente parte dela. Para ele, o que mais o atraiu aqui, além das oportunidades na área profissional, é a “energia do local”. “Daqui de onde moro posso, em dez minutos, estar em locais isolados, em contato com a natureza. A cidade é linda, é multicultural. Aqui me sinto seguro”, afirma o novo florianopolitano.
Poder público de olho nas demandas
O superintendente de Planejamento e Gestão Territorial da prefeitura, Kaliu Teixeira, conta que durante a revisão do Plano Diretor de Florianópolis 2022 foi apontada a estimativa de 535 mil habitantes na Capital. Previsão aproximada do número divulgado pelo IBGE, 537.213. “Fizemos essa estimativa com base em dados internos da prefeitura. Então, as ações de planejamento deste plano já consideram a implementação populacional”, afirma.
Para atender à demanda crescente da população, um dos principais objetivos é oferecer moradia digna a todos que para cá se mudam. Por isso, o Plano Diretor 2022 estabelece o planejamento urbano com foco na habitação “no sentido de dar facilidade e condições para as pessoas comprarem imóveis de forma regular”. A centralidade prevista no plano pretende que as pessoas trabalhem e circulem no bairro ou região em que moram. “A cidade vai seguir crescendo, sobretudo porque Florianópolis tem muita visibilidade. O Plano Diretor dá conta dos próximos dez anos”, garante.
Além da quantidade de pessoas circulando e utilizando a infraestrutura do município, ele aponta o ganho na personalidade da cidade com a miscigenação cultural. “Florianópolis é uma cidade muito receptiva. Não é mais uma cidade em escala metropolitana, mas global”, avalia.
Crescimento acima da média 5u2z2w
Florianópolis é o município que mais cresceu em Santa Catarina e no Sul do país em números absolutos. A cidade é a 7ª no ranking nacional nos últimos 12 anos. A população da Capital representa 7% das 7,6 milhões de pessoas recenseadas no Estado e se mantém como o segundo município catarinense mais populoso, ficando atrás de ville, que somou 616,3 mil moradores (8%). O crescimento percentual de 27,5% da Capital superou a média estadual de 21,8%, e ville cresceu 19,6%, diminuindo a diferença entre ambos.
Nascimentos em 11 anos
A Pesquisa de Registro Civil feita anualmente pelo IBGE pode ser um indicativo de quem são os migrantes que elegeram Florianópolis como moradia. Entre 2010 e 2021 (ano do último levantamento), foram registrados na Capital 89.548 nascimentos. Tomando apenas o ano de 2021, entre os dez Estados de origens das mães dos 6.771 florianopolitanos nascidos no período estão Rio Grande do Sul, Paraná, São Paulo, Bahia, Pará, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Maranhão, Mato Grosso do Sul e Pernambuco. Além dos partos de mães brasileiras, foram registradas crianças nascidas de estrangeiras, 292 bebês.
Números – Censo IBGE
- 537.213 habitantes em Florianópolis em 2022
- Aumento de 115.793 pessoas desde 2010
- 27,53% crescimento populacional em comparação a 2010
Número de não nativos supera o de nativos

Densidade demográfica
- 796,06 habitantes por km²
- Média de 2,43 moradores por domicílio
Florianópolis é a 2ª capital do país que ganhou mais habitantes em 12 anos – a 1ª é Boa Vista (RR), com aumento de 45,4% da população desde 2010.
População de Florianópolis a partir de 1970
- 1970 – 138.337
- 1980 – 187.880
- 1991 – 255.390
- 2000 – 342.315
- 2010 – 421.240