Uma ponta a outra do Estado ligada por 680 quilômetros de asfalto deteriorado, acostamentos inexistentes ou precários, pista simples e trafegabilidade comprometida. Esse é o cenário da principal rota para o litoral, onde ficam os portos responsáveis por movimentar a produção catarinense, que será enviada para todos os cantos do mundo.
A BR-282 tem sinais claros de que as cidades cortadas pela rodovia podem simplesmente parar no tempo e perder oportunidades de crescimento por falta de infraestrutura.

A rodovia 282 vai de Florianópolis até Paraíso, na fronteira com a Argentina. No trajeto permeia a Serra, se encontra com a BR-470 e coleciona reclamações de quem conhece de perto a sua realidade. “Isso é uma vergonha, é uma coisa que o catarinense não pode mais aceitar”, lamenta Valdemar Antônio Schmitz, empresário e vice-presidente regional da Fiesc.
Ela é também uma estrada de contrastes. De Ponte Serrada a Xanxerê, parece um tapete preto. É só andar alguns quilômetros para a ilusão terminar. Entre Nova Erechim e Nova Itaberaba, o asfalto liso e nivelado some quase como em um e de mágica. Os transtornos estão em vários trechos entre São Miguel do Oeste e Campos Novos no entroncamento com a BR-470. De acordo com Schmitz, o custo do frete de um container entre o litoral e o oeste é o mesmo valor de um frete internacional de navio. “Então, veja só como é difícil produzir por aqui”, ressalta.
A rodovia é o único modal para circulação de cargas para o litoral. Só a Aurora Alimentos movimentou US$ 667,8 milhões nas rodovias catarinenses. Responsável por 10 mil funcionários e outros 40 mil empregos diretos em sistema de cooperativismo, a cooperativa teme que as dificuldades visíveis na BR-282 comprometam e possam travar os negócios.
O presidente da Aurora, Neivor Canton, lembra das exportações que a empresa realiza para centenas de países e que não podem ser perdidas por causa de uma rodovia sem condições de atender as necessidades dos catarinenses. “Nós não dispomos mais de muito tempo para pensar. Se resolve isso com relativa agilidade, com prioridade de fato, ou o rumo dos próximos investimentos não serão mais aqui e, pior que isso, nós não vamos consegui nem manter o status atual da agroindústria no Oeste de Santa Catarina”, alerta.
O anseio por melhorias na rodovia é compartilhado por todos os setores. “Se você tem uma infraestrutura ruim, as pessoas realmente não vêm para a região. Se você tem uma boa rodovia, uma boa malha rodoviária, logística muito boa, isso se chama pontos fortes para atrair investidores”, compartilha o presidente da Associação Comercial e Industrial de Chapecó, Nelson Akimoto.
Obras
Em agosto de 2017, o governo federal autorizou o início dos reparos em 190 quilômetros entre Chapecó e São Miguel do Oeste. Um mês depois, o trabalho acabou paralisado por decisão judicial e reiniciado em dezembro do mesmo ano. O contrato prevê obras de adequação da capacidade, restauração, melhoramentos e eliminação de pontos críticos entre o km 534,8, próximo do o a Chapecó até o o a São Miguel do Oeste, no km 650,7.
Neste mesmo contrato está prevista a recuperação da BR-158 do km 98,9 em Maravilha até o km 147,3, próximo à divisa com o Rio Grande do Sul. Porém, as obras na 282 estão a os lentos. Segundo o DNIT, até o momento 40% dos serviços foram executados. A previsão é concluir esse trecho em maio de 2022, se tiver disponibilidade de recursos. O valor da obra é de R$ 217 milhões.
INVESTIMENTO PÚBLICO FEDERAL
BR 282 – SC
Adequação da capacidade
Descrição: Projeto e início das obras de adequação da capacidade, melhoria da segurança e eliminação de pontos críticos da BR-282, nos segmentos entre Chapecó e São Miguel do Oeste, contemplando a BR-158 no segmento entre o entroncamento com a BR-282 e a divisa de SC/RS.
Valor Estimado Total: R$ 144,2 milhões
Valor Estimado Anual: R$ 36 milhões
Melhoramentos
Descrição: Obras para atenuar os índices de acidentes rodoviários na BR-282 (Restaurações de pavimentos, implantação de terceiras faixas, interseções de os e sinalizações).
Valor Estimado Total: R$ 200 milhões
Valor Estimado Anual: R$ 50 milhões
SC não pode parar
A Fiesc e o Grupo ND lançaram, no mês ado, a campanha “SC não pode parar”. O movimento, que iniciou pela BR-101, agora entra em nova fase, contemplando as BRs-163 e 282. Com o slogan “Do jeito que está não dá para ficar”, a iniciativa pretende chamar a atenção de toda a sociedade para a gravidade dos problemas nas duas principais rodovias federais do Oeste e buscar soluções para que as obras necessárias e os prazos de execução sejam cumpridos.
“O Oeste tem parcela de contribuição muito importante para o desenvolvimento econômico de Santa Catarina. Precisamos fazer com que as nossas indústrias tenham custos logísticos compatíveis com nossos concorrentes. Então, o setor de transportes tem parcela importante na composição de custos logísticos, de forma que a melhoria nas rodovias vai melhorar a competitividade da competente indústria catarinense”, destaca o presidente da Fiesc, Mario Cezar Aguiar.
Durante 12 meses, o Grupo ND está envolvido na produção de conteúdo em todas as plataformas – TV, jornal, internet – como forma de sensibilizar as autoridades da importância de melhorias na infraestrutura catarinense. Para o presidente do Grupo ND, Marcello Corrêa Petrelli, a união entre a Fiesc e o Grupo ND é um marco na busca por soluções práticas para o desenvolvimento do Estado.
“Então, essa aliança entre o projeto econômico e a comunicação, que faz realmente a grande diferença da compreensão da população para que possa exercer a pressão devida ao poder público das soluções necessárias. E isso é fazer comunicação do bem, comunicação propositiva, a pauta positiva para o desenvolvimento econômico de forma prática, objetiva, consistente e real”, destaca Petrelli.
GRANDE OESTE E CONTESTADO EM NÚMEROS
População: 2,9 milhões (IBGE, 2020)
Economia: agronegócio, indústrias de alimentos, móveis, metal, borracha, plástico, minerais, máquina, equipamentos, confecção e construção civil.
PIB
2015: R$ 17,9 bilhões
2018: R$ 59,2 bilhões
+ 229,8% (2005/2018)
INDÚSTRIAS
2006: 6,3 mil
2019: 10,4 mil
+ 65,1% (2006/2019)
ARRECADAÇÃO
Tributos Federais
2020: R$ 7,9 bilhões
Tributos Estaduais (ICMS)
2020: R$ 1,9 bilhão
Fontes: IBGE, Ministério da Economia, Receita Federal do Brasil, Sefaz/SC, FIESC/GETMS