A BR-280 é o principal eixo de ligação entre o norte, nordeste e extremo norte de Santa Catarina. É o caminho de veranistas e turistas para os balneários da região e trajeto até um dos principais terminais graneleiros do país localizado em São Francisco do Sul.

É uma artéria vital para a chegada de matéria-prima nas cidades cortadas pela rodovia e para o transporte das riquezas produzidas no Estado.
No percurso de 316,4 km entre São Francisco do Sul e Porto União, são movimentadas safras agrícolas e produtos industrializados como máquinas, equipamentos, madeira, móveis, metalurgia, têxtil, borracha, plástico e alimentos.
De uma única empresa de Jaraguá do Sul saem diariamente 20 caminhões carregados, em média, com 30 betoneiras cada. A indústria é referência na produção desses equipamentos exportando 15% da fabricação para 25 países.

A BR-280 é a rota para os maquinários chegarem até outros estados e aos portos de onde são entregues no mercado internacional. Com a rodovia engarrafada, a logística é comprometida e a competitividade fica pelo caminho.
Segundo o diretor de operações da Menegotti, Fábio Lopes, pela manhã a saída dos carregamentos é mais tranquila porque segue o contrafluxo. A partir das duas horas da tarde a situação se inverte com problemas já na saída da cidade com o risco do caminhoneiro ficar parado na estrada. “Ele tem que dormir em um posto, algo nesse sentido, e seguir em frente só no outro dia”, comenta.
Outro problema enfrentado pelo setor produtivo por causa da atual condição da BR-280 está ligado à chegada de matéria-prima. A lentidão e os gargalos da rodovia dificultam o planejamento dos processos e o gerenciamento das fábricas.
Algumas vezes, o ritmo da linha de produção precisa diminuir ou até parar porque os insumos estão presos nos congestionamentos. “Nós já chegamos a ficar em torno de dois ou três dias parados e nos gerou um custo interno de hora extra. Como a gente tem o compromisso com o cliente muitas vezes tem que gerar algum custo interno “, afirma Lopes.
Duplicação: promessa antiga 2j2f31
Em 2013, a da ordem de serviço para a duplicação de 73 quilômetros entre São Francisco do Sul e Jaraguá do Sul, incluindo a construção de um contorno rodoviário com dois túneis na região de Guaramirim, encheu de esperança as cidades castigadas pela falta de infraestrutura logística.

No ano seguinte, as obras começaram a sair do papel e na época a expectativa do governo federal era concluir tudo em quatro anos. Até agora, nenhum quilômetro do trecho federal a ser duplicado está liberado para o trânsito.
“A nossa sensação enquanto gestor público é de frustração. A gente se sente limitado, impotente porque quer ver essa obra acontecer”, desabafa o prefeito de Araquari, Clenilton Carlos Pereira.
A duplicação da BR-280 não é uma questão meramente econômica, mas social e de segurança. “Nós já perdemos muito. Perdemos vidas, desenvolvimento, o turismo, e a tendência é que esse prejuízo só aumente”, afirma Pereira.
Em 2014, a obra dividida em três lotes estava orçada em quase R$ 1 bilhão. A data de entrega foi apagada das placas fixadas em cada um dos lotes da duplicação. Na maior parte dos canteiros de obras nem sinal de máquinas e operários.

De acordo com o DNIT (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes), no lote 1 foram executados 12% dos serviços e nos lotes 2.1 e 2.2, 53% em cada. O DNIT atribui essa lentidão à falta de recursos.
Ainda conforme o departamento, havia uma previsão de que o governo federal investisse este ano R$ 115 milhões, o que não se confirmou. O DNIT desconhece o orçamento federal para a continuidade da obra em 2021.
O lote 1, em Araquari, só não está totalmente parado porque o governo de Santa Catarina colocou R$ 50 milhões de recursos próprios por meio de um convênio assinado no mês ado com o Ministério da Infraestrutura.

No total o governo catarinense destinou R$ 465 milhões para obras em rodovias federais que cortam o estado. A maior parte do dinheiro, R$ 300 milhões, foi para a duplicação da BR-470 no Vale do Itajaí. Outros R$ 100 milhões para a recuperação da BR-163 no oeste, e R$ 15 milhões para a BR-285 na Serra da Rocinha.
Outro entrave na duplicação da BR-280 são os 570 processos de desapropriações ainda pendentes de solução, além do projeto e do licenciamento ambiental no Canal do Linguado em São Francisco do Sul, fechado em 1935.
Segundo o DNIT, referente ao canal, existe uma demanda do Ministério Público aguardando uma definição judicial para posterior decisão sobre o projeto.
O trecho estadualizado da BR-280 entre Guaramirim e Jaraguá do Sul também está sendo duplicado. São nove quilômetros de responsabilidade do governo catarinense que aplicou até agora R$ 163 milhões.

A previsão da Secretaria de Infraestrutura de Santa Catarina é concluir toda a parte de competência estadual em 2023. Na parte estadual duplicada e liberada para o trânsito moradores e comerciantes começam a perceber os benefícios de uma infraestrutura adequada.
“O fluxo contínuo gera menos stress, o usuário da rodovia fica menos estressado, os caminhoneiros ficam mais aliviados, é menos engarrafamento, menos trânsito parado, e pra gente também é mais saudável ter uma rodovia que tenha um fluxo do que uma rodovia parada no nosso negócio”, pondera o gerente de marketing da Agricopel, Lurran Souza.
Outros pontos da rodovia também precisam de atenção. A maior parte da rodovia depois de Jaraguá do Sul é de pista simples. Na Serra do Mar, em Corupá, por exemplo, existem registros constantes de deslizamentos de terra em épocas de chuvas.
Importância socioeconômica da região tu61
Nas cidades do entorno da BR-280 vivem um milhão e 600 mil pessoas. Em 2020, os municípios em um raio de 50 quilômetros da rodovia arrecadaram quase R$ 19 bilhões em impostos federais e geraram para os cofres estaduais mais de R$ 5,5 bilhões em ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços). O PIB (Produto Interno Bruto) superou a marca de R$ 74 bilhões.
“Somos altamente arrecadador de impostos e não estamos tendo esse olhar de devolução dos tributos que nós merecemos que sejam aplicados aqui para que a gente possa continuar crescendo, continuar desenvolvendo e continuar gerando empregos”, conta Célio Bayer, vice-presidente da Fiesc na região do Vale do Itapocu.
Segundo o presidente da ACIJS (Associação Comercial e Industrial de Jaraguá do Sul), Luis Hufenüssler Leigue, a atual infraestrutura da rodovia representa um freio no crescimento da região com a perda de negócios, capacidade limitada de escoar a produção, dificuldade para o morador se deslocar, aumentando os custos para toda a sociedade e trazendo riscos para a geração de oportunidades.
“Perigo das empresas migrarem e tirar emprego daqui. E daí tem toda uma transformação do tecido social que também vai ser impactado com isso”, alerta.
Em 2020, Jaraguá do Sul teve o sétimo PIB do estado contribuindo para o fortalecimento e a relevância econômica catarinense no cenário nacional.
“A diversidade da nossa economia, o crescimento que o nosso estado tem que é certamente o melhor estado da federação, nós precisaríamos de um olhar muito melhor por parte dos nossos governos”, reforça Antidio Lunelli, prefeito de Jaraguá do Sul.
ville, a cidade mais populosa do estado com 604.708 habitantes conforme dados do IBGE, também sente os reflexos dos os lentos da duplicação.
“Se deve sim esse olhar estratégico para a 280 porque a economia vai continuar crescendo e o problema da 280 vai permanecer e só piorar”, alerta Adriano Silva, prefeito de ville.
Campanha SC Não Pode Parar 1g701
Lançada em julho pela Fiesc (Federação das Indústrias de Santa Catarina) e pelo Grupo ND, o movimento tem discutido as principais deficiências das rodovias federais no Estado.
Um grupo de especialistas e engenheiros avaliou a atual condição das BRs 101, 163, 280, 282 e 470 e possíveis soluções para melhorar a capacidade viária, a eficiência e a segurança dessas infraestruturas essenciais para o desenvolvimento do estado.
A duplicação da BR-280 e as obras de restauração, além da manutenção rotineira, am a integrar a pauta da campanha com as reivindicações que serão levadas até o governo federal.

“A BR-280 tem um papel fundamental pra economia atende um município muito forte economicamente que é o município de Jaraguá do Sul e liga ao porto de São Francisco do Sul que está em alto crescimento com uma demanda muito forte de carga de grãos e fertilizantes. Então é importante que tenhamos essa rodovia duplicada o mais cedo possível”, ressalta Mario Cezar Aguiar, presidente da Fiesc.
A iniciativa tem como objetivo mobilizar toda a sociedade catarinense na busca conjunta de soluções e cobranças por obras necessárias para o desenvolvimento do estado. Até o próximo ano serão publicados conteúdos especiais em todas a plataformas do Grupo ND.
“O papel real da imprensa é formar opinião, trazer a sociedade, fazer a boa aliança do poder econômico, boa imprensa. A sociedade entendendo para que a gente possa fazer a legítima cobrança, a reivindicação aos gestores públicos e priorizar algumas coisas que são importantes, neste caso a BR 280”, enfatiza Marcello Corrêa Petrelli, presidente do Grupo ND.