Com ares de abandonada e um quê de mistério, uma casa localizada no bairro Jurerê Internacional, área nobre da região Norte de Florianópolis, virou alvo de fiscalização da prefeitura. Isso porque a vegetação tomou conta da fachada da residência e invadiu até o eio público, impedindo a agem de pedestres.

Há anos a situação da casa chama a atenção de vizinhos e moradores da região. A empresária Marceli Arantes, de 43 anos, morou em Jurerê Internacional de 2011 a 2017, quando se mudou para Minas Gerais.
Certa vez, em um eio de bicicleta pelo bairro do Norte da Ilha, ela se deparou com a residência localizada na rua dos Robaletes. “A casa foi ‘engolida’ pela vegetação. Mal conseguimos enxergá-la”, aponta.
Em um primeiro momento Marceli acreditou que a casa pudesse estar abandonada. Mas, em meio ao mato denso, ela percebeu um carro antigo na garagem. Trata-se de um Ford/Royale prata, modelo 1994.
Arantes denunciou a situação à prefeitura em julho de 2015. À época, a ouvidoria respondeu que o proprietário “estava sendo intimado” a proceder a limpeza do imóvel no prazo de 15 dias a contar do recebimento da notificação. Em meados de agosto o órgão informou que o serviço de limpeza havia sido executado.
No entanto, durante uma visita ao bairro em 2020, Marceli encontrou a casa na mesma situação de anos atrás. Na ocasião viu um entregador de gás saindo do terreno e o abordou. “Perguntei se ele sabia se alguém morava lá. Ele disse que era orientado a deixar o gás na porta, pegar o dinheiro e sair.”
“A situação da casa choca porque a vegetação tomou conta. Preocupa também porque é uma questão de saúde pública. Não só para quem mora na casa, mas para toda a vizinhança”, considera a empresária cujos sogros ainda moram no bairro.
Moradora reclusa 6j5k5g
Helena* mora na rua dos Robaletes há 22 anos e diz que, há pelo menos três décadas, uma senhora de cerca de 80 anos mora na casa em questão.
A moradora revela que a idosa, que mora sozinha, é reclusa e chega a ar meses sem sair de casa. Ainda de acordo com Helena, a senhora ocupa somente o térreo da casa, pois um problema no joelho a impede de se deslocar ao segundo pavimento.
Esporadicamente ela recebe visitas de familiares. Segundo Helena, o latido de um cachorro pode ser ouvido vindo dos fundos do terreno.
Helena diz que, certa vez, pediu para que o seu jardineiro fosse até a casa da senhora ajudá-la com a poda da vegetação. O funcionário, no entanto, teria sido expulso pela moradora.
“Tanto eu quanto outros vizinhos já tentamos conversar com ela várias vezes para que limpe o mato que invade a calçada, mas nunca fomos atendidos. Ela faz escândalo e não deixa de jeito nenhum tocarem na vegetação.”, revela.
Casa misteriosa virou atração do bairro 306o5i
Juliana* se mudou recentemente para a rua dos Robaletes. A casa com ares de abandonada também chamou a atenção dela.
“Os vizinhos se incomodam com a situação porque visualmente não é legal, e também tem a questão da segurança. Fica muito escuro na área da casa. Alguém pode se embrenhar no mato e ninguém vê”, observa.
Juliana conta que já houve tentativas de poda do matagal, mas que a senhora que mora na casa sempre impede. “Ela coloca um banquinho na rua e fica de ‘tocaia’. Já tentaram cortar pouca coisa, mas ela ‘bota pra correr’”, revela.
Segundo a vizinha, de tempos em tempos a senhora recebe a visita de uma diarista. Mas, se a limpeza acontece, fica restrita ao interior da casa.
“Nada se resolve na questão da vegetação do lado de fora. Se fosse somente dentro do quintal dela, tudo bem. Mas o mato invade a calçada e implica na vizinhança como um todo”, diz Juliana.
A “casa misteriosa” já virou até uma espécie de ponto turístico de Jurerê Internacional. “As pessoas am, param, ficam olhando e se perguntam se alguém mora lá. Se a casa tem dono. É a atração do bairro”, diz.
Veja fotos da casa:
Providências para a limpeza 2b1717
A reportagem tentou contato com familiares da moradora da casa, mas não obteve retorno.
O presidente da Ajin (Associação de Moradores de Jurerê Internacional), Sérgio Rodrigues da Costa, informou estar ciente da situação e acrescentou que o caso envolvendo a casa se arrasta por anos. Mas, por se tratar de uma senhora idosa, a situação se torna ainda mais delicada.
O presidente disse ainda que a Ajin pretende entrar em contato com a proprietária, familiares e vizinhos para recuperar o eio público, sem trazer incômodos à moradora.
A Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano informou que um fiscal será encaminhado ao local para falar com a proprietária e tomar as providências para a limpeza.
O proprietário tem até 15 dias para efetuar a ação. No 16º dia, a moradora está sujeita a multa e nova autuação, caso nada tenha sido feito até lá.
Se for observado risco à saúde pública, como água acumulada, por exemplo, os fiscais vão solicitar a limpeza à Comcap (Autarquia de Melhoramentos da Capital) e o valor será debitado no IPTU (Imposto Predial e Territorial Urbano) da proprietária.
*Os nomes foram alterados a pedido das fontes.