O aquecimento global causado pela atividade humana atingiu níveis alarmantes, gerando implicações irreversíveis para as próximas gerações.
Por conta disso, os climatologistas destacam a necessidade urgente de ação e preparação para enfrentar décadas de mudanças climáticas, pois os oceanos mais quentes podem aumentar os eventos extremos.

Os especialistas enfatizam ainda o papel crucial dos oceanos no sistema climático global, que levará décadas ou até um milênio para se resfriar, após o acúmulo de calor desde a Revolução Industrial.
Esses alertas ganham destaque diante do registro, em julho de 2023, de temperaturas médias globais da superfície do mar 0,51°C acima da média entre 1991 e 2020, conforme dados do SMCC (Serviço de Mudanças Climáticas Copernicus, traduzido em português) da União Europeia.
Aquecimento do oceano exacerba eventos climáticos extremos 3c1717
Segundo a professora Regina Rodrigues, do Departamento de Oceanografia da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina), 90% do excesso de calor armazenado no sistema climático devido às atividades humanas e emissão de carbono na atmosfera é absorvido pelos oceanos.
“Como consequência, os oceanos estão esquentando muito e isso afeta a circulação atmosférica, resultando em tempestades mais fortes e eventos climáticos extremos, como os que recentemente afetaram Santa Catarina”, acrescenta.

Rodrigues também ressalta os efeitos do aquecimento dos oceanos na vida marinha e nos ecossistemas, incluindo recifes de coral e gelo na Antártida.
“O impacto desse aquecimento é devastador, especialmente na Antártida, onde o derretimento do gelo devido ao aquecimento oceânico está contribuindo para o aumento do nível do mar”, alerta.

Furacões e tufões intensificados 152419
A pesquisadora destaca ainda que os oceanos aquecidos estão intensificando furacões e tufões, causando impactos significativos nos padrões climáticos, incluindo secas e incêndios florestais.
“Tufões e furacões encontram seu combustível em temperaturas oceânicas mais altas, e esses eventos climáticos estão se tornando mais intensos e rápidos, dificultando a previsão e aumentando a devastação”, conclui.
Importância da distribuição de calor nos oceanos 5k713z
A professora também detalha os impactos dessas mudanças climáticas, em particular o colapso iminente da AMOC (em português, Circulação Termoalina Meridional do Atlântico), de acordo com estudos baseados em modelos matemáticos.
“A análise considerou mais de 20 modelos climáticos, rodados várias vezes para garantir robustez estatística”, explica a professora Rodrigues.
A AMOC é vital para a regulação climática da Europa, distribuindo calor do Atlântico Sul para o Atlântico Norte. “Ela é super importante na regulação climática, não só na Europa. Tem consequências muito grandes aqui, mas como a maior parte da mídia é internacional e do hemisfério norte, eles falam muito do impacto na Europa”.
“Mas o que acontece é que ela leva calor do hemisfério Sul, aqui do Atlântico Sul, lá para o Atlântico Norte; é esse transporte de calor que essa circulação faz”.
“É uma redistribuição de calor principalmente da região tropical, onde é mais quente”, esclarece a professora.
Esse desequilíbrio na circulação de calor marítima pode não ser mais reversível, o que deixa especialistas de todo o mundo em alerta sobre os efeitos cada vez mais devastadores das mudanças no clima.
É possível reverter esse cenário? 1b1y37
De acordo com a professora, a solução está em reduzir imediatamente as emissões de CO2 (dióxido de carbono), cortar o quanto antes.
“Portanto, é essencial reduzir essas emissões e fazer a transição para fontes de energia limpa, livres do uso de petróleo”.
Mas aqui está o ponto crucial: mesmo que tomássemos medidas drásticas agora, levaria um longo período para que o oceano se recuperasse.
Isso se deve ao fato de que o oceano já absorveu uma quantidade significativa de calor, e essa energia armazenada levará anos para ser redistribuída e liberada gradualmente, desde que não continuemos a emitir CO2 em excesso.
“Se não cortarmos as emissões e permitirmos que esse excesso continue, a situação se complicará ainda mais”.
O problema com os oceanos é que a única maneira eficaz de parar esse processo é interromper a emissão de CO2, o que se chama mitigação.
“Mitigação envolve reduzir essas emissões de CO2. Por outro lado, a adaptação refere-se às medidas que os seres humanos devem tomar para lidar com as mudanças climáticas já em curso, como ventos fortes, tempestades e secas”, afirma a pesquisadora.
De acordo com a especialista, “precisamos adaptar nossa infraestrutura e sistemas a essas mudanças que já estão acontecendo e não podem ser revertidas”, afirma.
“No entanto, a ideia principal é interromper o ciclo de emissões para permitir que as coisas voltem ao normal. Esta é a abordagem essencial para lidar com a situação dos oceanos, a mitigação. É isso que precisamos fazer para ajudar os oceanos a se recuperarem”, defende a pesquisadora.