SILAS MARTÍ
NOVA YORK, EUA (FOLHAPRESS) – Mark Zuckerberg, enfim, rompeu o silêncio. Numa mensagem no Facebook, o presidente e cofundador da rede social reconheceu que houve uma “violação de confiança” entre a plataforma e seus usuários no episódio que permitiu que dados pessoais fossem parar nas mãos de uma consultoria política. “Temos a responsabilidade de proteger seus dados, e, se não pudermos fazer isso, não merecemos servir vocês”, escreveu Zuckerberg. “Estou tentando entender o que houve para que não aconteça de novo. Também cometemos erros e precisamos fazer mais ainda. Precisamos consertar isso.”

Essa foi a primeira manifestação do executivo desde o fim de semana, quando estourou o escândalo do uso indevido de informações pessoais de mais de 50 milhões de usuários dessa rede social. Esses dados foram parar nas mãos da consultoria política britânica Cambridge Analytica, empresa financiada pelo bilionário Robert Mercer e por Steve Bannon, ex-estragista-chefe de Donald Trump, que trabalhou para favorecer a corrida vitoriosa do presidente republicano à Casa Branca em 2016.
Na maior crise de imagem a abalar o Facebook desde o surgimento da plataforma, em 2004, Zuckerberg vinha sendo pressionado havia dias para se manifestar. Usou a sua própria rede social para explicar como ela fracassou. O executivo disse que a ideia de criar uma rede em que as pessoas e seus amigos fossem conectados de modo integral favoreceu que empresas de terceiros compilassem seus dados para fins indevidos, já que desenvolvedores de aplicativos tinham o a perfis de usuários.
Zuckerberg lembrou que há cinco anos um pesquisador, Aleksandr Kogan, da Universidade Cambridge, no Reino Unido, criou um teste de personalidade instalado no Facebook baixado então por 270 mil usuários da rede. Esse aplicativo deu a Kogan o aos dados dos amigos dessas pessoas e acabou expondo dezenas de milhões de outros perfis. Ele, então, no que o executivo chama de outra “violação de confiança”, reou esses dados à Cambridge Analytica.
Executivos dessa empresa com sede em Londres foram flagrados nos últimos meses explicando como faziam para manipular o resultado de eleições pelo mundo usando perfis desviados do Facebook, entre elas a mais recente corrida presidencial americana e o referendo sobre o “brexit”.
O escândalo trouxe à tona uma prática comum no Facebook, segundo ex-executivos da rede social, que diziam que a empresa não tinha nenhum controle sobre o que seus parceiros faziam com informações compiladas ali e que havia surgido até um “mercado negro” de dados.
Ações 6u5o
No mercado de ações, as reações foram catastróficas. Nesta semana, o Facebook perdeu US$ 50 bilhões (o equivalente a US$ 164 bilhões) em valor de mercado e papéis da empresa na Bolsa de Nova York tiveram a sua pior retração em quatro anos. Nesta quarta-feira (21), as ações continuaram em queda e só inverteram essa tendência depois do pronunciamento de Zuckerberg, chegando ao fim do dia com valorização de 0,74%.
Enquanto isso, os governos americano e britânico, além de autoridades da União Europeia, vêm cobrando explicações de Zuckerberg, que decidiu falar primeiro com os usuários que garantem ao Facebook sua enorme fortuna.
Em meio a campanhas pelo fim da rede, batizadas #DeleteFacebook e #BoycottFacebook, o executivo prometeu uma série de mudanças para evitar desvios de dados. Ele disse em seu post que a ferramenta que mostra que aplicativos têm o ao perfil do usuário ficará agora no alto da página principal e que empresas na plataforma terão o só ao nome, à foto de perfil e ao email do cliente. Zuckerberg também prometeu banir do Facebook qualquer empresa que não aceitar uma auditoria da rede sobre a forma como usou dados de seus usuários e que vai alertar todos os clientes que puderam ter suas informações expostas a essas firmas. “Eu comecei o Facebook e, em última análise, sou eu o responsável pelo que acontece em nossa plataforma”, escreveu. “Vamos aprender com a experiência e tornar a nossa comunidade mais segura para todos daqui para a frente”, afirmou.
Investigação 76049
Mas, enquanto Zuckerberg promete melhoras, autoridades querem entender a fundo a gravidade da situação. Além de cobranças de esclarecimento de parlamentares americanos e europeus, a Comissão de Comércio dos Estados Unidos abriu uma investigação contra a empresa que pode resultar em multas bilionárias pela violação da privacidade de seus usuários.
O governo suspeita que o Facebook tenha desrespeitado um termo de conduta acordado em 2011 em que se comprometia a alertar os usuários sobre o compartilhamento de seus dados com terceiros.
Cofundador do WhatsApp incentiva usuários a deletarem Facebook 5o431d
O cofundador do aplicativo de mensagens WhatsApp Brian Acton incentivou os usuários do Facebook a deletarem suas contas na plataforma, em meio à pior crise vivida pela rede social desde sua criação. Em postagem no Twitter na terça-feira (20), Acton escreveu: “It is time. #deletefacebook” (“É hora. #deletefacebook”). A manifestação de Acton tem peso porque ele e Jan Koum, fundador do WhatsApp, venderam o aplicativo para o Facebook em 2014 por cerca de US$ 20 bilhões. Mesmo depois da venda, Acton trabalhou até 2017 no WhatsApp.