Depois que o governo de Santa Catarina resolveu abdicar da construção de hospitais de campanha, na semana ada, ainda não se sabe qual estratégia será adotada para garantir a disponibilidade de leitos de UTI para casos de Covid-19.

Sem o apoio extra dessas unidades, a pressão recai sobre os hospitais já existentes. Já que absorvem o fluxo de pacientes de cidades pequenas e desguarnecidas de unidades de tratamento intensivo.
Questionada desde a última sexta-feira (22) sobre as ações para enfrentar essas questões, a Secretaria de Estado da Saúde não respondeu, até o fechamento desta reportagem. O MPSC (Ministério Público Estadual) acompanha as ações do Estado e a situação dos municípios catarinenses no enfrentamento à pandemia.
Além da necessidade de leitos para abrigar infectados em estado grave da Covid-19 (além de doentes de outras enfermidades), as cidades maiores podem ter de lidar com o aumento da demanda por ambulâncias.
“Não é um problema que temos agora. Mas, se a demanda for muito alta, pode haver dificuldade não só com ambulâncias para transferência de pacientes de uma unidade para outra, como também com os trabalhadores que terão de se afastar caso sejam infectados”, analisa Cyro Soncini, presidente do Simesc (Sindicato dos Médicos do Estado de Santa Catarina).
Investimentos e respiradores 706jr
Para fins de enfrentamento à doença, o Estado dividiu Santa Catarina em sete macrorregiões de saúde, nas quais são acompanhados os números de casos, mortes e disponibilidade de leitos de UTI.
No total, são 1.210 leitos de UTI (SUS e privados), distribuídos em 49 hospitais. Segundo dados do boletim epidemiológico divulgado pelo Governo do Estado nesta quinta (28), a taxa total de ocupação de leitos de UTI do SUS é de 63,2%.
Para Soncini, ainda é um percentual confortável, mas o cenário pode mudar, daí a importância do monitoramento diário que vem sendo feito pelo Estado.
No caso de um aumento expressivo da demanda, o investimento que seria feito em hospitais de campanha poderia ser direcionado para criar mais leitos nas unidades já existentes.
“Pode ser que seja mais fácil construir hospitais de campanha, mas o Simesc sempre defendeu o investimento em áreas ociosas dentro de unidades hospitalares já existentes no Estado, e elas existem em todas as regiões”, afirma.
Contudo, além dos leitos de UTI, são necessários também os respiradores para casos graves de Covid-19. “Não adianta termos leitos de UTI novos sem os respiradores. Cabe aos gestores públicos estudarem a quantidade necessária para suprir essa necessidade de equipamentos”, diz Soncini.
Para o presidente do Simesc, a decisão de reclusão compulsória em Santa Catarina, logo no início da pandemia, foi muito acertada.
“Defendemos as orientações oficiais, pois acreditamos que são tomadas com base em informações da saúde. Assim, também achamos adequada a reabertura, com todos os cuidados necessários, pois não podemos ficar em casa para sempre”, avalia Soncini.
UTIs começam a lotar k726r
Mesmo com o cenário de pouco mais de 60% de ocupação dos leitos de UTI, Santa Catarina apresenta alguns gargalos.
No recorte por região, a Foz do Rio Itajaí (que inclui Balneário Camboriú, Balneário Piçarras, Bombinhas, Camboriú, Ilhota, Itajaí, Itapema, Luiz Alves, Navegantes, Penha e Porto Belo) conta com 89 leitos ativos, cuja taxa de ocupação é de 85,4%, a mais alta em todo o Estado.
Essa região é a terceira em número de casos confirmados no Estado (1.255), atrás da região Meio-Oeste e Serra (1.281) e Grande Oeste (1.511). Também é a terceira em número de mortos pelo novo coronavírus, com 24 registros (a primeira é o Planalto Norte e Nordeste, com 30, e a segunda a Sul, com 28 óbitos), segundo dados desta quinta (28).
Apenas duas cidades da região contam com leitos de UTI: Itajaí e Balneário Camboriú. Em Itajaí, dos 40 leitos de UTI disponíveis pelo SUS no hospital Marieta Konder Bornhausen, 15 estão habilitados para Covid-19.
Leitos lotados em Itajaí 6933h
No fim de semana ado, havia 18 pacientes precisando de UTI, por isso o hospital teve de usar três leitos não credenciados (isolados, mas não recebem verba para manutenção). Dois pacientes foram transferidos para Balneário Camboriú.
Na terça (26), os 15 leitos ainda estavam lotados, mas o número baixou para 14 pacientes em UTI nesta quinta (28). Outros 17 infectados estão internados em isolamento no Marietta, totalizando 31 pacientes hospitalizados com Covid-19.

O Marieta deve receber 20 dos 100 novos respiradores pulmonares do lote de 500 unidades adquiridas da WEG S.A. pelo governo do Estado. Os equipamentos começaram a ser entregues nesta quarta (27).
Leia também: 47a47
- Governo de SC entrega 13 respiradores ao Hospital Tereza Ramos, em Lages
- Instituto Federal de Concórdia produzirá respiradores de baixo custo
- Ministério da Saúde orienta construção de hospitais de campanha em último caso
Em Balneário Camboriú, a situação é um pouco mais leve, mas pode piorar devido à sobrecarga regional, tendo em vista a lotação do Marieta. Conforme a prefeitura, nesta terça (26), dos 20 leitos de UTI dedicados ao atendimento de pacientes com coronavírus, 60% estavam ocupados (12).
O hospital ainda conta com outras 10 vagas de UTI para atendimento a pacientes em geral, e todas estavam ocupadas. Na quinta, a taxa de ocupação dos leitos de Covid-19 caiu para 15% (3).
Outras regiões 2g4g3y
Na Grande Oeste, que engloba 78 cidades e lidera o número de casos confirmados da doença, a taxa de ocupação na UTI é de 71%.
Dos 105 leitos ativos em quatro hospitais, 19 estavam ocupados por pacientes com Covid-19 (18%) e 56 por pessoas com outras enfermidades (53%), nesta quinta. Restavam 30 leitos do SUS disponíveis na região, que deve receber 20 novos respiradores pulmonares.
Por fim, na macrorregião Sul, que contabiliza agora o segundo maior número de mortes e soma 45 municípios, 76% dos 136 leitos espalhados em cinco unidades hospitalares estão ocupados.
Destes, 11 estão sendo utilizados por pessoas com Covid-19 (8%) e 92 devido a outras doenças (68%). A cidade de Criciúma deve receber 10 respiradores.
MP acompanha a situação 2k6759
Com esse cenário, o MPSC (Ministério Público de Santa Catarina) acompanha o planejamento do governo do Estado sobre as tentativas de compras de respiradores, taxa de ocupação de leitos e ampliação da rede de atendimento hospitalar.
De acordo com o promotor de Justiça Douglas Roberto Martins,que integra o Comitê Gestor de Crise do MP, um grande aumento no número de casos pode pressionar o sistema de transporte feito por ambulâncias entre hospitais.
“Temos 49 hospitais com leitos de UTI no Estado e o governo deve estudar o aumento no número de ambulâncias para dar conta de uma possível demanda extra. Nesse sentido, os hospitais de campanha não resolveriam o problema, porque seriam instalados em grandes cidades, por causa da infraestrutura de apoio como lavanderias e outros serviços, além de mão de obra. A demanda por ambulâncias também existiria”.
Para o promotor, equipar os hospitais já existentes pode ser uma solução melhor, já que posteriormente a população poderá usufruir da estrutura, pós-pandemia.
“Vemos com preocupação a taxa de ocupação de leitos na Foz do Itajaí, pois um aumento descontrolado no número de casos pode pressionar o sistema”, diz Martins.
“Além disso, acompanhamos com cautela a situação nas regiões do Médio Vale, Alto Uruguai e Oeste. A entrega dos respiradores já dá um ‘respiro’ na situação , mas há dificuldades em adquirir mais equipamentos como esse no mercado”, afirma.
Até esta quarta-feira (27) foram instaurados 2.520 procedimentos istrativos para acompanhar ações de prevenção e combate à pandemia, em todo o Estado.