A UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina) divulgou nesta terça-feira (18) detalhes sobre o esqueleto encontrado em agosto, nas obras para construção do elevado do Rio Tavares, que foi encaminhado ao MarquE (Museu de Arqueologia e Etnologia Professor Oswaldo Rodrigues Cabral) e ou por análises da empresa Geoarqueologia Pesquisas Científica.

Segundo os estudos, o esqueleto era de um homem que tinha baixa estatura, comia bastante peixe e suas atividades diárias deveriam estar voltadas muito mais para o mar. É possível que não sentisse dor ou incômodo por conta de dois de seus caninos permanentes que permaneceram inclusos. Quando morreu, ao que tudo indica, com mais de 25 anos, teve o corpo pintado com pigmento vermelho, o ocre, e enterrado estendido de barriga para baixo e com a face voltada para o chão, presumivelmente antes de Cristo, e talvez um dos primeiros a ser sepultado no sítio arqueológico chamado Sambaqui do Rio Tavares III.
O relatório final sobre o esqueleto, encontrado no entroncamento das rodovias SC-405 e SC-406, trará detalhes sobre outros dois esqueletos encontrados na primeira etapa das escavações. O estudo será enviado ao Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) em 2019, explicou a arqueóloga da UFSC Luciane Zanenga Scherer.
O documento incluirá todas as metodologias utilizadas para estimativa de sexo, idade, e estatura, bem como a descrição de patologias ósseas e dentárias, caso constatadas, e análises de marcadores de estresse ocupacional. Além disso, os materiais associados ao sepultamento, incluindo os artefatos e ecofatos evidenciados e coletados durante a escavação, serão analisados pela empresa Geoarqueologia Pesquisa Científica, responsável pela pesquisa arqueológica. Uma amostra de osso será separada para a realização de datação por radiocarbono.

Posteriormente, pretende-se realizar análises isotópicas (Isótopos de carbono e nitrogênio e isótopos de estrôncio), bem como DNA humano antigo e por isto a arqueóloga do MArquE está buscando parcerias com outras instituições nacionais e estrangeiras.
Após o relatório ser entregue, o esqueleto e todos os materiais encontrados no sambaqui Rio Tavares III ficarão sob guarda do MArquE, com o acervo em Reserva Técnica e disponível para outros pesquisadores. Além disso, o acervo, futuramente, poderá ser utilizado para uma exposição sobre o tema arqueologia funerária e bioarqueologia.
Estimativas
O esqueleto quase completo poderá dar diversas informações sobre a pessoa que viveu no período pré-colonial na Ilha de Santa Catarina, explica a arqueóloga. O formato da pelve aponta que o esqueleto era de um homem. A idade, ainda a ser estimada de forma mais acurada, indica que ele era adulto possivelmente jovem (aparentemente com mais de 25 anos). “Porém, somente a utilização de outras metodologias poderá proporcionar pistas sobre a idade quando morreu, firmando um intervalo de tempo possível”, diz Luciane. “Chama a atenção a robustez observada nos ossos dos braços. Talvez em suas atividades cotidianas àquelas voltadas para o ambiente marinho fossem mais importantes. Isto já foi observado em esqueletos de outros sambaquis, incluindo lesões por esforço indicativas de atividades de remar”, competa.

Já a idade do esqueleto será determinada por uma datação por radiocarbono. Luciane irá separar fragmentos de costelas para serem enviados ao Laboratório Beta Analytic, nos Estados Unidos, especializado neste tipo de análise. A arqueóloga acha possível que o resultado irá revelar uma datação antiga, que vai além de dois mil anos atrás. Para a Ilha de Santa Catarina as datações mais antigas são do Sambaqui Porto do Rio Vermelho 01, escavado por De Mais, com datação inicial em 5.020 anos A.P (Antes do Presente), e o Sambaqui Pântano do Sul, escavado pelo Padre Rohr, com uma datação de 4.460 anos A.P..