Uma semana. Esse é o tempo que milhares de pessoas selecionadas pela Justiça Eleitoral levavam para contabilizar os votos dos eleitores. Até a década de 1960, o processo era inteiramente feito de forma manual no Brasil em cédulas depositadas em urnas de madeira.
As únicas máquinas envolvidas no processo eram calculadoras de mão. Matemáticos, banqueiros e indivíduos que lidavam com dinheiro e tinham habilidades para cálculos eram selecionados para trabalhar no processo de contagem.
Naquela época, juízes eleitorais e as pessoas que organizavam a contabilidade buscavam alternativas para agilizar e tornar mais preciso o processo.

Mas os computadores ainda não tinham chegado no Brasil e a única alternativa disponível era reforçar as equipes de contagem e ampliar os turnos de trabalho de apuração manual.
Já na década de 1970, o cenário começou a mudar com a chegada dos computadores no país. A apuração continuou manual, mas os setores de tecnologia dos Tribunais Regionais aram a utilizar os equipamentos de forma experimental para auxiliar na checagem da contagem.
A contabilidade se tornou técnica e precisa. Era a Ciência Exata mostrando que aquele trabalho manual não precisava mais ser manual, já poderia existir tecnologia para isso.
Os primeiros movimentos de um ‘boom tecnológico’ da década de 1980 impulsionou uma corrida pela criação da urna. Foram diversas iniciativas em vários Estados. A ‘máquina de votar’ já estava prevista na Constituição Federal de 1932.
Se o que faltava ao longo de décadas era tecnologia, isso não faltava mais. Foram inúmeros projetos de desenvolvedores e empresas. Em 1995, o Tribunal Superior Eleitoral montou uma comissão técnica para definir os requisitos funcionais que a urna deveria ter e abriu processo licitatório para escolher a melhor proposta.
Três empresas apresentaram propostas: a IBM, que fez um projeto de urna semelhante a um notebook, a Procomp, que apresentou um modelo semelhante a um quiosque de atendimento e a Unysis, que desenvolveu o modelo semelhante ao utilizado até hoje.
A cada eleição a urna a por processos de revisão e aprimoramento até chegar no modelo atual que é ível para pessoas com deficiência visual e auditiva e que possui diversos mecanismos de verificação. A rede e o sistema da urna eletrônica são fechados para conexões externas.
Os testes de segurança envolvem o chamamento de pessoas da área da computação para tentar desenvolver códigos e estratégias para quebrar a segurança da urna e expor falhas, mas até hoje, nenhuma falha foi apontada e publicizada. Até que se prove o contrário, a urna é segura.
O pioneiro de Brusque k5j5y
A contagem demorada dos votos era apenas um entre tantos problemas que as eleições por cédulas apresentavam. O advogado Carlos Prudêncio, de 79 anos, que era juiz eleitoral em 1982, foi um entre tantos outros que presenciou as dificuldades na apuração. Incomodado com a contagem lenta decidiu que o cálculo seria eletrônico, utilizando um computador da época.
“O que a gente ouvia na época era a questão das fraudes eleitorais e a demora para apurar os votos, com o objetivo de evitar isso eu aprimorei os esquemas de fiscalização e apuração”, conta Prudêncio.
Seis anos mais tarde, percebendo que poderia usar as novas tecnologias em favor do processo eleitoral, avançou com os estudos técnicos e, em 1989, Brusque realizou pela primeira vez a votação eletrônica.
“Eu queria fazer uma votação eletrônica e meu irmão, Roberto Pedro Prudêncio, me ajudou a adaptar um projeto para o computador. Com o tempo fomos incorporando as novas tecnologias, testando e aprimorando o software”.

No primeiro turno das eleições daquele ano, os 372 eleitores da seção em que Prudêncio atuava, se tornaram os primeiros a votar em um computador.
A inovação tecnológica só foi utilizada nas demais cidades brasileiras durante as Eleições Municipais de 1996, quando 32 milhões de brasileiros tiveram o primeiro contato com o voto eletrônico, coletados por 70 mil urnas.
A partir de 2000 as eleições no país foram 100% informatizadas. “As garantias (de segurança) estão vinculadas às s digitais, a criptografia dos dados e a tabela de correspondência. Além desses, o sistema tem muitos outros mecanismos que garantem a segurança”, diz o diretor-geral do TRE-SC, Gonsalo Ribeiro.