
Na análise de especialistas consultados pelo portal ND Mais, a viagem à Rússia do presidente da República do Brasil reforça a parceria entre Lula e Putin. Por um lado, o presidente Lula pode trabalhar a imagem de liderança global em busca da paz no conflito na Ucrânia. Porém, por outro lado, a aproximação de Lula e Putin expõe as contradições de posicionamentos do chefe de Estado brasileiro.
Nesta sexta-feira (9), Lula e Putin estiveram juntos durante as celebrações dos 80 anos da vitória soviética na Segunda Guerra Mundial. Além do brasileiro, estavam presentes no desfile militar desta sexta-feira (9) o chefe de Estado chinês, XI Jinping, e ditadores reconhecidos como Nicolás Maduro (Venezuela), Díaz Canel (Cuba) e Aleksandr Lukashenko (Belarus).
Ao comparecer à Praça Vermelha, em Moscou, Lula reforçou o compromisso do Brasil com os acordos comerciais entre os países, destacando interesses em áreas como energia, ciência e tecnologia.
Implicações geopolíticas e críticas internas 18461m
A presença de Lula ao lado de Putin gerou críticas da oposição, que questiona a proximidade do presidente com um líder acusado de autoritarismo. Analistas políticos apontam que, embora a visita não deva afetar significativamente a imagem internacional do Brasil, pode ser explorada politicamente no cenário doméstico.
Em relação à guerra na Ucrânia, Lula reafirmou o compromisso do Brasil com a promoção da paz e destacou a iniciativa conjunta com a China para a criação do “Grupo de Amigos da Paz” na ONU. Putin demonstrou interesse na proposta, embora ela já tenha sido rejeitada pela Ucrânia e seus aliados ocidentais.
Aproximação de Lula e Putin 2c4t4i
A comitiva brasileira embarcou para a Rússia na quarta-feira (7), para cumprir agenda incluindo reunião bilateral entre Lula e Putin. No entanto, a primeira-dama do Brasil, Janja, está no país desde sábado (3) com o papel de representação cultural.
A ida de Lula à Rússia pode diminuir a possibilidade do presidente do Brasil se posicionar como mediador, visto que até o momento ele não foi à Ucrânia. Segundo o Planalto, o chefe de Estado brasileiro espera um convite do presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky.

Especialistas avaliam cenário internacional 4w6v30
No entanto, na análise do cientista político Waldir Pucci, da Universidade de Brasília (UnB), a imagem de Lula e Putin juntos não prejudica a diplomacia com a Ucrânia.
“A relação Brasil-Ucrânia já está afetada há muito tempo. Não vai ser a visita de Lula a Putin que vai mudar essa situação”, comentou Pucci ao ND Mais.
Considerando o cenário global, Pucci também avalia que a aproximação de Lula e Putin não vá interferir na imagem internacional do presidente brasileiro.
“Internacionalmente, não vejo que a imagem de Lula vá ser prejudicada. São dois líderes de Estado, de países que integram o BRICS. Outros líderes também mantêm diálogo com Putin, como a China e até Donald Trump”, afirmou Pucci.
Por outro lado, o cientista avalia como alta a probabilidade de repercussão em território nacional. Se, por um lado, o presidente brasileiro pode afirmar que busca o diálogo pela paz, a oposição de apontar as contradições da relação Lula e Putin.
“Agora, internamente, sim, isso pode ser explorado pela oposição, principalmente na narrativa de que Lula está se aproximando de um dos autocratas mais conhecidos do mundo”, avaliou o pesquisador da UnB.
O professor de relações internacionais da Ibmec Marcelo Suano compartilha da avaliação de que Lula busca, no cenário doméstico, ar a imagem de liderança global e de potencial mediador do conflito na Ucrânia.
“Internacionalmente, Lula se mostra parcial ao lado da Rússia, o que o desqualifica como mediador. Mas ele seguirá tentando transformar essa aproximação em capital político interno”, afirmou Marcelo Suano, sócio-fundador da consultoria Ceiri (Centro de Estratégia, Inteligência e Relações Internacionais).

Protagonismo no BRICS e agenda internacional 395i1c
A visita de Lula à Rússia antecede sua participação na cúpula da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (CELAC) na China, onde também realizará uma visita de Estado. Neste sábado, (10), Lula embarca para Pequim.
Assim, o Brasil deve buscar fortalecer sua posição no BRICS, que recentemente expandiu para incluir países como Egito, Irã e Arábia Saudita. A presidência brasileira do bloco será exercida em julho, durante encontro no Rio de Janeiro.
A avaliação de Marcelo Suano é que a visita à China e a aproximação de Lula e Putin são tentativas do presidente brasileiro de se mostrar independente. No entanto, o professor alerta que a relação entre os países é de subserviência por parte do Brasil.
“Lula tenta, com essa visita, projetar uma imagem de protagonismo no BRICS. Mas, na prática, o Brasil é apenas um ório dentro do jogo geopolítico da China e da Rússia,” avaliou Suano.
Como exemplo, o professor cita a recondução da ex-presidente Dilma Rousseff para o comando do Novo Banco de Desenvolvimento (NBD), conhecido como Banco do Brics, em março de 2025.
A continuidade no cargo foi recomendada e avalizada pelo chefe de Estado russo. A indicação para a presidência do banco era da Rússia, mas Putin escolheu a brasileira Dilma Rousseff para um novo mandato frente à instituição.
“É muito melhor um despachante russo lá no banco do Brics do que a Rússia propriamente dita colocar uma personagem lá, já que a Rússia está sob sanções internacionais, desenvolvendo constrangimentos internacionais”, exemplificou Marcelo ao comentar a relação de Lula e Putin.