Espanto: a presidência do Senado tem o condão de alinhar mandatários escolhidos entre os piores da República. O cidadão assiste, consternado, uma sucessão de presidentes empenhados em sabotar e atrasar o país. Escolham à vontade: Renan Calheiros, Jader Barbalho, Eunício Oliveira, Davi Alcolumbre e Rodrigo Pacheco, entre tantos.
Hoje qualquer um desses não se arriscaria a frequentar uma esquina, tamanha a rejeição popular.

No tempo em que os bichos falavam e os homens públicos eram muito honestos, os políticos compareciam aos bate-papos de esquina sem qualquer receio de uma vaia, um tomate podre, ou o encontro com o boneco “Pixuleco”.
O povo os recebia bem, cada um tinha a sua torcida e o direito a falar de um púlpito popular, sem ser apupado. Naqueles tempos ingênuos não constituía uma aberração falar-se bem de um Senado. Desde que fosse o Senadinho da Felipe Schmidt, é claro.
Fonte genuína da irreverência ilhoa, o Café do “Ponto Chic” era um Senado de respeito, os mandatos exercidos das 11 da manhã até a uma hora da tarde, com sessões contínuas ao longo do dia – a mais extensa depois do Angelus, entre seis e oito e meia da noite.
Os tipos folclóricos e os malucos também frequentavam o seu democrático balcão – Adolfo, vendendo os seus imaginários automóveis. Marrequinha, dirigindo o trânsito na esquina com Trajano. E o folclórico Curvina, “inticado”, atirando palavrões contra os moleques debochados.
De terno de linho branco, impecável, o “senador” Alcides Ferreira dava expediente no intervalo de outros compromissos, como o papo debaixo da figueira e o pôquer no Clube Doze.
Da rua mesmo, ordenava uma “rubiácea escaldante e liquefeita”, com a sua marca registrada: dois goles na xícara e outros tantos no pires. É que o líquido “insistia” em mudar-se para o seu e, de sorte que, depois de algum tempo, tantos eram os gestos e os solfejos de mão – havia mais café no pires do que na xícara…
Senatus vem de sênior, senil, velho, respeitável. Mereceria esta honra aquela desvairada casa de políticos que, em Brasília, abriga-se sob a cúpula de uma tigela invertida?
O Senado gozou, historicamente, seu momento de apogeu na Roma republicana, quando exercia poderes de istrar o “aerarium” – sim, o “erário”, funcionando como um tribunal do gasto público. Depois, já na Roma imperial, aviltou-se, trocando a dignidade pela sobrevivência. Para agradar Calígula, chegou a votar a nomeação do cavalo “Incitatus” para o posto de “Cônsul de Roma”.
Sua última serventia foi fornecer a escadaria para que nela escorresse o sangue de Júlio César, assassinado por Brutus.
Tão “brutos” andam os tempos – e tão lamentavelmente infame nos parece esse “moderno” Senado – que, Júlio César, hoje, somos todos nós, o povo apunhalado…