A Polícia Civil de Santa Catarina prendeu quatro suspeitos no âmbito da segunda fase da Operação Presságio, que apura contratos supostamente fraudulentos na Prefeitura de Florianópolis. Os mandados foram cumpridos nesta quarta-feira (29).

Quem são os quatro presos na Operação Presságio 6b2x34
- Ed Pereira, ex-secretário de Turismo, Cultura de Florianópolis;
- Cleber Ferreira, apontado como operador financeiro do esquema;
- Lucas da Rosa Fagundes, ex-gerente de Projetos da Fundação Municipal de Esportes, vinculada a Secretaria Municipal de Turismo, Cultura e Esporte; e
- Renê Raul Justino, ex-diretor de projetos da Fundação Franklin Cascaes.
O papel de cada preso no esquema da Operação Presságio 736e10
Cleber Ferreira 3k5f9
Segundo a Polícia Civil, Cleber José Ferreira, contador, supostamente desempenhava um papel crucial como articulador e operador no esquema de desvio de verbas que deveriam ser aplicadas em projetos sociais.
“Sua atuação é comparável à de Renê Raul Justino, sendo considerado o braço direito de Renê nas operações fraudulentas. Cleber é responsável por angariar ‘laranjas’ para a emissão de notas fiscais utilizadas na prestação de contas de projetos que eles chamam de ‘nossos’”, escreve a Polícia Civil no relatório obtido pelo ND Mais.
Nas conversas entre Cleber e Renê, fica evidente que as notas fiscais se referem a serviços não prestados ou materiais nunca fornecidos. Renê geralmente solicita a emissão das notas fiscais a Cleber, informando o valor e o objeto da nota.
Cleber, então, é apontado como alguém que providencia a emissão e encaminha para Renê. Após a apresentação da nota, ocorre o pagamento ao suposto prestador de serviço. Imediatamente após o recebimento, Cleber transfere o dinheiro via PIX para a conta bancária de Renê ou para outra pessoa indicada por ele.
Para corroborar que a liderança do grupo é exercida por Ed, uma conversa entre Renê e o ex-secretário, datada de 10 de março de 2023, foi apresentada como evidência.
Segundo a polícia, na mesma data, Renê conversou, por meio de mensagem de texto com Cleber, solicitando que ele encaminhasse seu currículo para enviá-lo a Ed.
Em mais um desdobramento das investigações sobre o esquema de desvio de verbas públicas, novas evidências apontam para a atuação sistemática e coordenada de Cleber José Ferreira e Renê Raul Justino.
De acordo com a Polícia Civil, ambos são acusados de praticar crimes de peculato.
Outra evidência crucial surgiu em 31 de março de 2023, quando Renê enviou três comprovantes de transferência bancária para Cleber. Os comprovantes totalizavam R$ 20.200, tendo como beneficiária uma mulher. Na sequência, Renê solicitou a emissão das notas fiscais correspondentes.
Cleber prontamente atendeu ao pedido, enviando uma nota fiscal emitida pela mesma mulher no valor de R$ 20.200. A nota descrevia diversos serviços supostamente prestados para Abiesc (Associação Brasileira de Incentivo ao Esporte e Cultura deSanta Catarina), embora tais serviços nunca tenham sido realizados.
Outro episódio revelador ocorreu em 31 de maio de 2023, quando Renê cobrou de Cleber a emissão de uma nota fiscal para a AMA (Associação dos Pais e Amigos dos Autistas). Esse padrão de emissão de notas fiscais fraudulentas e transferências bancárias fictícias reforça as acusações contra os envolvidos.
Em outra data, em 1º de junho de 2023, A polícia explica que Cleber informou a Renê que o dinheiro estava na conta e perguntou se deveria transferi-lo. Após a confirmação de Renê, Cleber enviou o comprovante de pagamento, transferindo R$ 1.922 para Renê, após descontar uma taxa municipal.
As mensagens trocadas entre Cleber e Renê mostram claramente como o grupo operava. Em uma conversa de 7 de agosto de 2023, Renê detalhou para Cleber como emitir notas fiscais falsas, referindo-se à técnica como “NOSSO MEI LARANJA”.
Essas evidências reforçam o modo como os envolvidos desviavam dinheiro público, usando notas fiscais falsas e transferências bancárias para esconder suas atividades ilícitas, considera a Polícia Civil.

O que diz a defesa de Cleber Ferreira:
A defesa de Cleber Ferreira afirmou que só irá se manifestar quando tiver o a todos os autos do processo.
Renê Raul Justino e Ed Pereira 1b3b4z
De acordo a Polícia Civil, com base nas análises realizadas até o momento, localizou-se evidências que apontam que o investigado Renê Raul Justino é outro operador financeiro da organização criminosa.
A explicação da participação de Renê no esquema se dá perando também a participação de Ed Pereira.
A investigação aponta uma fraude na contratação de uma empresa especializada em fornecimento de estruturas metálicas para a construção temporária da Cidade do Samba.
Em uma conversa iniciada em 24 de novembro de 2023, Ed e Renê discutiram como direcionar a licitação para que a empresa Tendas Catarinenses fosse a vencedora.
O contrato nº 959/FMT/2023 foi firmado entre a Secretaria Municipal de Turismo, Cultura e Esporte e a empresa, representada por Henrique Beckenbauer Alves Bosso, que colaborou no esquema fraudulento. A conversa evidenciou a manipulação dos termos da licitação para eliminar concorrentes.
Ed enviou para Renê orçamentos de locação de tendas, incluindo um da empresa vencedora e outro de uma empresa concorrente com valor mais alto.
Em seguida, Ed enviou um áudio com instruções para alterar a descrição do material na licitação, eliminando a menção de lona e indicando o uso de ferro galvanizado, elevando os custos e afastando outros concorrentes. Confira a transcrição do áudio feita pela Polícia Civil:
“Esse último aí que eu mandei a descrição do material, você vai tirar essa lona G320, não vamos colocar que é de lona! Certo? Vamos colocar só um galpão de armazenagem galvanizado a fogo, entendeu? Não vamos falar que é de lona, entendeu? E prazo de entrega até dia 10 de janeiro, entendeu? Tem que entregar esses oito módulos de 15×15, entendeu? Não vamos colocarlona! Porque aí nós tira muita gente da parada, entendeu? E o local de montagem no centro sul, na beira da praia tipo assim, que aí o povo fica com medo, entendeu?”
Em 1º de junho de 2023, Cleber Ferreira, um dos envolvidos, avisou Renê que o valor do contrato estava na conta e perguntou se deveria transferir. Renê confirmou, e Cleber enviou o comprovante de pagamento.
No mesmo dia da conversa sobre a licitação, Renê discutiu rapidamente o processo com uma servidora responsável pelo certame. Ele enviou orçamentos de outras empresas, mas todas tinham ligação com os envolvidos no esquema, indicando um claro conluio, aponta a investigação.
A licitação ocorreu por meio de um pregão eletrônico, mas somente a Tendas Catarinenses participou, pois os termos manipulados afastaram outros concorrentes. O contrato firmado foi de R$ 980.000 por um ano, prorrogável por cinco anos, totalizando R$ 5.750.000 aos cofres públicos.

Fotos das tendas mostraram que a estrutura é de metal, mas a cobertura e as laterais são de lona, o que foi omitido no termo de referência para direcionar a licitação. A perícia será solicitada para verificar se o serviço entregue corresponde ao que foi orçado.
O que dizem as defesas de Renê Justino e Ed Pereira:
A defesa de Ed Pereira, Claudio Gastão da Rosa Filho, disse em nota que:
“Acompanhei meu cliente hoje de manhã no interrogatório na DEIC. Como ainda não tivemos o ao inquérito, ele optou por permanecer calado, não para exercer o direito constitucional, mas sim porque pretende prestar todos os esclarecimentos a partir do momento em que ele conhecer o conteúdo de toda a investigação”.
Por meio de nota enviada ao ND Mais, a defesa de Renê afirma que recebeu a nova medida contra ele.
“Vamos avaliar os autos e as provas na sua integralidade. O que tivemos o até agora foi ao despacho da prisão preventiva e apenas com base nele não teríamos elementos necessários para trabalhar com eventual recurso. Vamos nos aprofundar no conteúdo dos autos”, afirmou o advogado Francisco Ferreira, do escritório Ferreira Schaefer Martins Advogados.
Lucas da Rosa Fagundes 4f2m1p
Lucas da Rosa Fagundes ligado à Secretaria Municipal de Turismo, Cultura e Esporte, também coordena projetos para a organização social ABERECIC (Associação Beneficente, Esportiva, Recreativa, Educacional e Cultural Irmão Capoeira), que firmou diversos contratos com a secretaria.

De acordo com a investigação, Lucas desempenha um papel multifacetado nos projetos da ABERECIC: ele elabora os projetos, coordena a execução, presta contas e ainda analisa essas prestações de contas. Este ciclo completo de atividades realizado por uma única pessoa elimina a possibilidade de fiscalização independente e facilita a ocorrência de irregularidades.
A situação aponta para um claro conflito de interesses, permitindo que Lucas controle todas as etapas dos projetos sem supervisão adequada, o que favorece o desvio de recursos destinados a iniciativas sociais e esportivas. As investigações continuam para determinar o alcance total do esquema e a responsabilidade de todos os envolvidos.
De acordo com as investigações, no projeto “Sul Americana Handebol Floripa 2022”, Lucas recebeu R$ 2.000 como auxiliar técnico. Entre 2022 e parte de 2023, ele emitiu notas fiscais possivelmente fraudulentas que somam R$ 89.500.
O relatório de investigação aponta que Lucas não apenas coordenava os projetos, mas também analisava suas prestações de contas, o que levanta sérias suspeitas sobre a integridade do processo. Segundo a polícia, sua jornada de trabalho diária de oito horas torna improvável que ele pudesse desempenhar todas essas funções de forma eficaz.
Em nota, a defesa de Lucas da Rosa Fagundes informou que o nome do investigado é citado apenas uma vez no inquérito, e que ele desconhece os fatos que envolvem os demais acusados. A advogada Zenilda Eduvirgem Cardoso afirmou ainda que entrará com pedido de revogação da prisão.
“Estas notas foram emitidas por ser o mesmo formado em educação física e ministrou aulas de Handebol. No celular dele apreendido nada consta conversas relacionadas com os envolvidos, colocou a conta bancária à disposição da Justiça, bem como colaborou ao prestar depoimento na delegacia.”
Prestação de contas fraudulenta 3p1n39
O esquema envolveu até a manipulação do sistema Bússola, que mostra os valores reados para projetos sociais dados pela Prefeitura de Florianópolis. Mensagens de áudio indicam que o sistema foi editado para evitar a detecção de irregularidades. Além disso, houve preocupação em apagar vestígios incriminadores, como documentos físicos e arquivos eletrônicos.
A polícia descreve que Renê Raul Justino teria encaminhado para Ed Pereira o seguinte áudio (transcrição feita pela Polícia):
“Não beleza só que a gente vai botar as coisas amanhã, tá? Eu fiz uma pequena sacanagem de propósito para facilitar nossa vida, eu coloquei o nome dos projetos e não o nome da entidade, até para não aparecer o nome das entidades que foram contempladas três vezes. O nome dos projetos a gente muda no Bússola com uma facilidade absurda. Muito fácil de fazer isso! Eu fiz isso de propósito para poder fazer jogo, porque eu sabia que poderia dar uma m*rda porque né, todo ano dá, então eu fui esperto nisso”
De acordo com a Polícia, a preocupação com a segurança dos sistemas e a destruição de evidências físicas torna evidente a magnitude e a sofisticação do esquema de corrupção. As autoridades continuam a investigar para identificar todos os envolvidos e levar os responsáveis à Justiça.