O assunto que há décadas rende tabu, virou pauta em Florianópolis. Para combater “aqueles dias”, um dos nomes usados para driblar a menstruação, o projeto ‘Dignidade Íntima’ vai distribuir absorventes nas escolas municipais da cidade, atendendo alunas dos 10 aos 18 anos. No total, 6 mil meninas devem ser atendidas pela iniciativa.

A distribuição dos itens de higiene começa a partir de 2022, como forma de amenizar a situação de vulnerabilidade vivida por uma em cada quatro meninas brasileiras. Em média, serão entregues, por mês, 16 absorventes a cada aluna, totalizando 96 mil itens de higiene mensais para 6 mil jovens.
A Prefeitura de Florianópolis ainda explicou que, a princípio, o projeto deve contemplar apenas meninas em idade escolar. Contudo, há intenção de atender mulheres posteriormente que também estejam em vulnerabilidade social, independente de grau escolar.
A ação desenvolvida na Capital conta com a própria Prefeitura, por meio da Coordenadoria de Políticas Públicas para Mulher, Secretaria de Educação e Secretaria de Assistência Social, além da Fundação Somar.
Um projeto mais amplo 53462
O tema que traz a pobreza menstrual ao centro do debate público não é novidade em Florianópolis. Em março deste ano, a vereadora Carla Ayres (PT) junto da Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher e da Promoção da Igualdade de Gênero protocolou, na Câmara de Vereadores de Florianópolis, um projeto que trazia uma pauta semelhante.
Neste projeto, está contemplada a distribuição de absorventes e outros itens de higiene pessoal para além das escolas, mas também nas unidades básicas de saúde, a partir de uma política de assistência social pelo Cras (Centros de Referência da Assistência Social), atendendo, por exemplo, pessoas em situação de rua ou vivendo outras vulnerabilidades, como cadastrados no CadÚnico.
A vereadora explica que há urgência nesta questão, já que o problema abarca pessoas além dos jovens em idade educacional, sendo uma demanda que atinge qualquer pessoa que menstrua e está em vulnerabilidade.
“Qualquer pessoa que, neste momento de pandemia, encontra-se sempre tendo que ‘vender o almoço para comprar a janta’. Os absorventes são produtos taxados com um imposto muito alto. Para as pessoas de classe média, pode não fazer muita diferença, mas, para quem vive em situação de vulnerabilidade, é um custo muito alto”, analisa a parlamentar.
Além disso, o projeto traz a ideia de derrubar tabus sobre o tema, levando a discussão para dentro das escolas, através de materiais informativos sobre saúde menstrual, e que também poderia ser distribuído nos postos de saúde e pelo Cras.
Ela segue defendendo o projeto, que considera mais amplo do que o proposto pela PMF e disse que seguirá trabalhando para promover a implantação completa da ideia.
“Nosso projeto é mais amplo, fizemos uma construção a partir da Comissão, encaminhamos o projeto como indicação ao executivo, para ser implementado, mas, em nenhum momento, o executivo nos chamou pra dialogar sobre e discutir a ideia”, pontua.
Vulnerabilidade em dados 1p4n1r
Em 2013, dados da Pesquisa Nacional de Saúde revelaram que meninas entre 10 e 19 anos já deixaram de fazer alguma atividade escolar como estudar, realizar atividades ou até mesmo brincar por conta da menstruação e da falta de o aos itens.
Nos 14 dias anteriores à pesquisa, 2,88% deixaram de fazer por problemas menstruais. A mesma pesquisa mostra que os índices para a não realização de atividades por gravidez e parto foi menor, somando 2,55%.
A ONU (Organização das Nações Unidas) ainda estima que uma entre dez meninas no mundo não tenham recursos para compra de absorventes durante o período menstrual na vida escolar. No Brasil, essa estatística é uma em quatro. Em 2014, a ONU reconheceu o direito à higiene menstrual como uma questão de direito humano e à saúde pública.