Três entidades médicas a Sociedade Brasileira de Imunizações, a Sociedade Brasileira de Infectologia e a Sociedade Gaúcha de Infectologia divulgaram neste sábado (11) uma nota técnica com a recomendação de vacinar as vítimas e equipes que trabalham nas operações de busca e salvamento em todo o Rio Grande do Sul.
Segundo a nota, a população e os socorristas estão em risco de doenças infecciosas de transmissão, além de mordeduras de animais e doenças de transmissão respiratória por aglomeração de pessoas.

“Devido à exposição à água de enchentes, a população exposta e os socorristas estão em risco aumentado de doenças infecciosas de transmissão hídrica ou ambiental, além de mordedura de animais, traumatismos diversos, contaminação de feridas por lama ou água contaminada, e doenças de transmissão respiratória por aglomeração de pessoas. Várias dessas doenças podem ser evitadas ou prevenidas por meio da vacinação.”
Recomendações listadas pelas entidades médicas: 395n4w
Carteira de vacinação
As crianças, adolescentes, adultos, idosos, gestantes e pacientes com doenças que tenham a carteira de vacinação disponível devem somente completar doses não realizadas para a faixa etária, ou conforme a situação clínica.
Já as crianças, adolescentes e adultos que não tenham carteira de vacinação disponível devem ser considerados não vacinados para doses recomendadas.

Vacinas de rotina
Para a vacinação de rotina em períodos de enchentes, crianças e adolescentes sem registro de vacinação devem ser tratados como se estivessem em dia com vacinas e receber somente doses indicadas para a idade atual.
As famílias devem ser informadas sobre necessidade de comparecer a uma unidade de saúde para avaliação da carteira e necessidade ou não de atualização da vacinação.
Gestantes
As mulheres grávidas devem receber vacinas inativadas, especialmente indicadas a pessoas deslocadas por desastres e enchentes, desde que não contraindicadas para esse grupo.
Contraindicações
As gestantes, imunocomprometidas ou em uso de drogas imunossupressoras não devem receber vacinas virais vivas atenuadas como a dose contra varicela, tríplice viral, como sarampo, rubéola e caxumba, a tetra viral contra sarampo, rubéola, caxumba e varicela e dose contra a febre amarela e dengue.
As crianças com condições de imunossupressão também não devem receber as doses contra o rotavírus e a poliomielite oral.
De acordo com as entidades, essa triagem deve ser feita por autorrelato.
Soros
Os soros e imunoglobulinas devem ser usados caso haja necessidade de proteção imediata contra raiva e tétano, ou seja, quando não é possível esperar o tempo para que o indivíduo responda às doses com anticorpos.
São indicados inda para gestantes e indivíduos imunocomprometidos no caso de contraindicação às vacinas vivas atenuadas.
BCG
A vacina BCG não deve ser istrada fora da unidade de saúde e necessita de profissional capacitado para aplicação, evitando eventos adversos graves.
Aplicação concomitante de vacinas
A aplicação concomitante de vacinas pode ser realizada desde que em locais diferentes do corpo. É preciso se atentar às especificações de intervalo a depender da combinação de doses.
A vacina contra a dengue não deve ser aplicada no mesmo dia que qualquer outa vacina. A orientação é respeitar o intervalo de 24 horas para doses inativadas e 30 dias para as vivas atenuadas.
Gripe e Covid-19
Pessoas com 6 meses ou mais vítimas de enchentes ou que trabalham em operações de resgate devem receber a vacina contra a gripe e Covid-19, exceto aquelas com contraindicações.
As doses são importantes para evitar surtos em abrigos. “No entanto, ambas am a ter sua eficácia cerca de duas semanas após sua aplicação e, portanto, outros cuidados, para mitigar a transmissão desses vírus respiratórios devem ser adotadas.”
Tríplice viral
A tríplice viral contra sarampo, rubéola e caxumba deve ser aplicada em pessoas entre 12 meses e 59 anos de idade vítimas de enchentes ou que trabalham em operações de busca e salvamento.
Exceto aquelas com contraindicações para a dose ou que tenham o registro documentado na carteira de vacinação.
Hepatite A
Desde 2014, a vacina contra hepatite A é recomendada pelas entidades médicas que todas as crianças aos 12 meses de vida ou até os 5 anos, se não foram vacinadas.
A dose também é disponibilizada para pacientes imunodeprimidos e pessoas com doenças crônicas especificas.
No caso do Rio Grande do Sul, a indicação ocorre devido ao risco de surtos durante e após períodos de enchentes, quando há “alto risco de exposição ao vírus”.
Tétano
Adolescentes, adultos e idosos devem receber uma dose de reforço antitetânico no Rio Grande do Sul, se não tiverem sido vacinados contra o tétano nos últimos cinco anos ou se não tiverem a carteira de vacinação disponível.

As vacinas dT (tétano/difteria) ou dTpa (tétano/difteria/coqueluche acelular) podem ser utilizadas conforme recomendações do Programa Nacional de Imunizações – dTpa para grávidas a partir de 20 semanas de gestação e dT para adolescentes, adultos e idosos. Na falta de dT, a dTpa pode ser usada.
As crianças sem a carteirinha de vacinação contendo o componente tetânico (penta, DTP, DTPa ou DT) devem ser vacinadas com DTP ou DTPa.
“Em situações de inundação, o contato com água e objetos contaminados pode aumentar o risco de feridas e cortes, aumentando o risco de tétano. Por isso, é importante assegurar que todos estejam com a vacinação antitetânica atualizada, especialmente se estiverem envolvidos em trabalhos de resgate, limpeza ou reconstrução.”
Raiva
A vacina antirrábica só deve ser usada para profilaxia pós-exposição em caso de acidente de risco para a raiva.
O esquema inclui uma série de doses da vacina e uso de soro antirrábico e deve ser istrado o mais breve possível.
“Em caso de desastres ambientais, resgates e a convivência com animais domésticos ou não, o risco de acidentes de risco para a raiva tem maior chance de ocorrer”.
“O uso de imunizante contra a raiva não deve ser feito de rotina, nem mesmo para aqueles envolvidos nos regastes. Seu uso deve ser para casos de acidentes de risco para a raiva, conforme protocolo usual para essa situação médica. Recomendar que pessoas nessas situações de risco procurem imediatamente um serviço de saúde para avaliação.”
Hepatite B
Os envolvidos em resgates, profissionais da saúde, socorristas e voluntários devem receber a vacina.
Segundo as entidades médicas, a indicação das doses depende da situação vacinal. As pessoas sem registro na carteira de vacinação de doses aplicadas ou não vacinadas devem receber uma dose e retornar à unidade de saúde para continuidade, se for o caso.
Pessoas com o registro na carteira de vacinação de esquema incompleto devem dar continuidade e respeitar intervalos mínimos entre as doses (0-2-6 meses), até a última dose.
Pessoas imunocompetentes adequadamente vacinadas com três doses não deve ser vacinadas.
Pessoas imunossuprimidas, como as que que vivem com HIV, independente do CD4; portadoras de doença hepática crônica; renais crônicas; com câncer; transplantadas de órgãos ou células hematopoiéticas; com doenças inflamatórias imunomediadas tratadas com imunossupressores potentes, entre outras devem receber uma dose de reforço da vacina.
“A imunização contra a hepatite B está recomendada para os respondedores, uma vez que estarão potencialmente expostos ao cuidado com pacientes e situações de contato com fluidos corporais. A maior parte dos profissionais já deve ter recebido essa vacina, uma vez que é exigida para profissionais de saúde, bombeiros, militares, etc. O esquema de vacinação é de três doses da vacina (0, 2 e 6 meses).”
Febre tifoide
A vacinação contra a febre tifoide é recomendada para socorristas e deve ser aplicada em uma dose caso esteja disponível.