Vamos começar a coluna desta semana imaginando a seguinte cena:
Você está sentada no sofá, pronta para assistir sua série favorita na TV. Enfim, chegou o momento de descansar o corpo e distrair a mente, até que começa a ar na sua cabeça o que não fez durante o dia. Será que pagou a conta de luz? E aquele trabalho ainda está no prazo? Respondeu sua mãe? E aquele e-mail?
Esta é uma cena clássica do termo que conhecemos como “carga mental” que se refere ao trabalho de organização e tomada de decisão em relação à casa, criação dos filhos e vida profissional, que costuma recair sobre as mulheres.

Esta carga invisível resulta em sobrecarga e exaustão que impede as mulheres de avançar nos objetivos e focar no que realmente importa. O descanso e ajuda são partes fundamentais do progresso, mas com tanta coisa para resolver fica cada dia mais difícil “desligar”.
Somos bombardeadas de informações, compromissos, padrões a serem cumpridos, tendências a serem seguidas, do momento em que acordamos até a hora que enfim deixamos o celular – ou qualquer outra tela – de lado e tentamos dormir. Não tem como não ser exaustivo!
> Invisível e não remunerado: como o trabalho doméstico provoca carga mental e afeta as mulheres 184n71
Dados também apontam esta sobrecarga: mulheres dedicam quase o dobro do tempo aos cuidados ou afazeres domésticos em relação aos homens. São 21,4 horas semanais contra 11 horas, segundo a pesquisa “Estatísticas de Gênero: Indicadores Sociais das Mulheres no Brasil”, do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), divulgada no ano ado.

Isso tem reflexo nos consultórios psicológicos. Sara Cuba, psicóloga, explica que no último um ano e meio tem ouvido mais relatos desse cansaço, em sua maioria das mulheres, mas isso não significa que este peso está a nós e sim que procuramos mais ajuda especializada.
“As mulheres vêm principalmente com a queixa de sobrecarga, isso se deve ao fato do acúmulo de atividades durante a pandemia de Covid-19 que sobrecarregou ainda mais a rotina delas, aumentando o número de estressores. Ter que dar conta dos filhos na aula online, o próprio trabalho online e das coisas dentro de casa, muitas vezes tudo ao mesmo tempo, estendendo até aos finais de semana”, explica Sara.
Sara destaca ainda que outro fator que colaborou com o aumento da ansiedade foi o afastamento de pessoas próximas, por conta do confinamento.
“As consequências notadas ainda serão vistas mesmo com o fim do isolamento. Como foi por muito tempo, isso fez mudar os hábitos das pessoas, tanto de sair, ear, quanto de receber visitas. As pessoas acabam ficando mais em alerta”, salienta.
Os sintomas desta carga mental muitas vezes se dão em hábitos nocivos como fuga, comer de forma compulsiva ou em excesso, usar mais tabaco e medicamento sem prescrição médica. Tudo isso, sem usar estratégias efetivas para a resolução de problemas.
E como resolver? 728i
Não há resposta simples para o que de fato é uma conjunção de fatores que não estão sob nosso controle. Uma pandemia aconteceu e infelizmente levou pessoas queridas e trouxe muitos problemas. Então, amiga, parece clichê, mas vai pra terapia!
E não sou eu que estou falando, Sara destaca que o atendimento psicológico é essencial para prevenir os agravamentos dos sintomas causados por esta carga invisível.

“Além disso, desenvolver estratégias de resolução de problemas diante dos primeiros estressores. Estratégias essas que consiste em primeiro reconhecer o problema, afinal se ele existe também pode ser resolvido. E num segundo momento, gerar soluções mesmo as que parecem óbvias ou aquelas mais inusitadas e finalmente decidir por uma delas”, indica a psicóloga.
“Estar ciente que mesmo se a ação escolhida não resolver o problema, podemos tentar uma outra coisa. Precisamos continuar a resolver o problema até encontrar uma solução adequada”, completa.
Peça ajuda 3m524b
Muitas vezes estamos tão focadas em lembrar do que precisa ser feito e nos livrar das demandas que nem paramos para pensar no que poderia nos ajudar. Pedir ajuda muitas vezes é difícil, mas criar uma rede de apoio, de ajuda, pode ser fundamental nesse período.

“Buscar uma rede de apoio, seja familiares, amigos ou igreja, pessoas com as quais se pode contar nas mais diversas situações, seja para ouvir um desabafo, para ajudar com a rotina da casa ou cuidado dos filhos, também contribui para minimizar o impacto dos efeitos nocivos da pandemia para saúde mental”, finaliza Sara.