Obesidade não era o problema da professora de tênis aposentada Cláudia Senos de Oliveira, de 58 anos, mas mesmo assim foi receitado a ela um medicamento inibidor de apetite numa dosagem alta. Cláudia sempre praticou atividade física e teve uma alimentação regrada, mas nos últimos anos, por questões familiares, não conseguiu manter a sua rotina de bem-estar. Além disso, entrou na menopausa, o que fez com que o seu peso começasse a aumentar.
Insatisfeita com o corpo atual, buscou inúmeras alternativas para emagrecimento, mas nenhuma delas surtiu efeito. “Minha mãe sempre teve um porte atlético e, por isso, decidiu ir ao médico e recorrer a alguma medicação para acelerar o processo de emagrecimento”, revela a filha de Cláudia, a fisiatra Ana Paula Senos de Oliveira Mendes.

Ana Paula conta que sua mãe estava com o peso pouco acima da média, mas mesmo assim foi orientada a tomar a medicação. “Minha mãe teve inúmeros efeitos colaterais, como dor de cabeça, tontura, náuseas, zumbido, inchaço, dor de garganta, dores físicas, perda de massa magra e fraqueza. Ademais, apresentou um quadro de hepatite medicamentosa e quase precisou ser internada”, relata a filha.
Em pouco tempo, a aposentada perdeu seis quilos, contudo os seus índices de colesterol e glicose subiram muito, o que a levou a um quadro de pré-diabetes. Preocupadas com o resultado decorrente do uso do inibidor de apetite, mãe e filha foram procurar uma endocrinologista experiente que prescrevesse de modo seguro um tratamento de emagrecimento saudável e uma reposição hormonal adequada. “Infelizmente, na área de emagrecimento a maioria das pessoas anseia por resultados rápidos e não leva em conta os danos que isso pode causar à saúde e à perda da qualidade de vida”, alerta Ana Paula.
Novo medicamento traz resultado real
Sempre que um novo medicamento para perda de peso chega ao mercado, as expectativas por emagrecimento rápido e milagroso aumentam. Assim está sendo com o Wegovy, medicamento recentemente liberado no país pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) para tratar obesidade e sobrepeso com comorbidades.
O Wegovy é o primeiro injetável semanal e tem o mesmo princípio ativo do medicamento já utilizado para diabetes, Ozempic, a semaglutida. O Wegovy vem com a semaglutida em dosagem maior, por isso ou a ser chamado de “caneta emagrecedora”, já que a perda de peso é superior quando comparado a outras medicações.

A endocrinologista Cristina Schreiber explica que o uso do medicamento semaglutida para pacientes com diabetes e obesidade, “tem sido uma experiência única, uma forma de ver o resultado real do tratamento completo da obesidade com uma medicação segura e eficaz”. Ademais, “existem múltiplos benefícios como a redução de gordura hepática e visceral, além da diminuição de eventos cardiovasculares como infarto e derrame”, complementa. Após a liberação com doses maiores para o tratamento de obesidade no Brasil, a médica acredita que “veremos respostas ainda melhores no emagrecimento em pessoas que possuam obesidade sem necessariamente já terem diabetes”.
Benefícios de uma equipe multidisciplinar
“Qualquer medicamento que ajude a emagrecer não faz milagre, é apenas complementar a um tratamento que deve englobar a prática de atividade física regular e uma alimentação saudável, ou seja, é preciso mudar o estilo de vida,” destaca a endocrinologista Cristina Schreiber. O acompanhamento médico deve ser integrado a uma equipe multidisciplinar, como nutricionista, educador físico e psicólogo, para que assim o medicamento possa agir da melhor forma: com todos os pilares da perda de peso.
A médica explica que perder peso é apenas um dos aspectos da mudança no estilo de vida. Enquanto a prática regular de atividade melhora a funcionalidade física, o psicólogo ajuda a diagnosticar possíveis transtornos de ansiedade ou depressão que levam o indivíduo a abusar de álcool ou comer a mais do que necessário, ou ainda transtornos de compulsão alimentar.
Para ela, as orientações de uma nutricionista também são indispensáveis, pois possibilitam que “o paciente tenha uma nutrição de forma gentil e real, sem modismos, principalmente sem ‘diet culture’, que é o excesso de restrições alimentares e de fórmulas milagrosas para emagrecimento.
O paciente deve evitar também o uso de suplementos e fórmulas para emagrecimento, priorizando o que realmente funciona em estudos científicos ”, destaca Schreiber. “Muitos manipulados vêm com anfetaminas, diuréticos e hormônios em sua fórmula para que o paciente emagreça rapidamente, porém este caminho pode ser sem volta”, alerta.

Preocupação exagerada com a estética corporal e o transtorno de imagem
A psicóloga Mérope Vedana explica que a imagem corporal distorcida pode comprometer a saúde física e a autoestima do paciente. “Para algumas pessoas, restringir o consumo de alimentos e perder peso pode ser uma tentativa de coordenar áreas da vida que estão fora de controle ou uma maneira de expressar emoções percebidas como muito complexas ou assustadoras, como dor, estresse e ansiedade”, ressalta.
Ela explica que as razões por trás do desenvolvimento de um transtorno de imagem ou transtorno alimentar diferem de pessoa para pessoa. As causas conhecidas incluem predisposição genética e uma combinação de fatores ambientais, sociais e culturais.
Assim como a endocrinologista, Mérope também concorda que o tratamento para perda de peso deve ser acompanhado por uma equipe multidisciplinar, incluindo médico, psicólogo, nutricionista e psiquiatra, que precisam caminhar juntos com o paciente.
“Quando falamos em saúde mental, há que se ter um cuidado ampliado, ou seja, estar atento ao que o paciente diz, assim como prestar atenção a pensamentos e emoções velados, e muitas vezes disfarçados de uma preocupação exagerada com o corpo”, pontua Vedana.
Comprovação científica para emagrecimento saudável
Segundo a endocrinologista Cristina Schreiber, atualmente a quantidade de ofertas de tratamento para emagrecimento é imensa e apelativa, e na maioria das vezes as pessoas entram em programas que não se baseiam nas melhores evidências científicas, o que faz com que se frustrem e comprometam a sua saúde.
“Conscientizar as pessoas para aderirem a uma mudança de estilo de vida é um desafio, contudo isso compreende todos os aspectos da saúde do indivíduo, entre eles a prevenção de doenças crônicas fatais”, afirma Schreiber.
A médica pontua que enquanto as medicações fazem a sua parte, previnem derrame, infarto, reduzem a pressão e a glicemia (açúcar no sangue), o exercício, a nutrição adequada e a terapia comportamental vão propiciar um envelhecimento saudável por mais tempo, diminuindo as chances de quedas na terceira idade, amenizando a quantidade de crises de ansiedade, melhorando o humor e o sono, e também diminuindo significativamente a incidência de doenças neurodegenerativas, como o Alzheimer e o Parkinson, reduzindo a chance de se ter câncer ou da recidiva do mesmo. Além de todos estes fatores positivos, a mudança do estilo de vida, prolonga a vida com mais qualidade e disposição.
Composição corporal é mais importante do que a perda de peso
Segundo o educador físico Cristiano Baka, a composição corporal é mais importante do que o peso corporal total, pois identifica como está a relação entre massa muscular e gordura corporal. “No processo de emagrecimento, o importante é manter níveis adequados de massa muscular, já que é um fator determinante para as condições de saúde, contribuindo para a melhora nos processos metabólicos. Além disso, ter massa muscular ativa, ajuda na redução da quantidade de gordura corporal”.

Além disso, Baka explica que é sempre importante entender que o acúmulo de gordura visceral, localizada na região abdominal, afeta o funcionamento de vários órgãos, como coração, fígado, intestino e estômago, e por isso está associado ao desenvolvimento de algumas doenças.