Um estudo colaborativo internacional, com participação da Univille (Universidade da região de ville) analisou amostras de DNA de 200 mil pacientes ao redor do mundo com AVC e 2,5 milhões de indivíduos-controle de diferentes etnias.
O resultado: conseguiu identificar 61 novas posições no genoma que têm relação com o Acidente Vascular Cerebral. Ou seja, quem tem esse tipo de mutação genética tem grande propensão a desenvolver a doença. E mais uma descoberta: essas pessoas podem vir a sofrer AVC mesmo não tendo os principais fatores de risco, como hipertensão, obesidade, uso de fumo e sedentarismo.

“Na verdade, foram encontradas 89 posições no genoma que têm relação com o AVC. Destas, 61 são novas, nunca antes descobertas”, explica pró-reitor de Pesquisa e Pós-Graduação da Univille, professor Paulo Henrique Condeixa de França.

Este estudo fornece informações fundamentais para futuras pesquisas biológicas sobre o desenvolvimento do AVC e seus subtipos, entendendo, por exemplo, o comportamento da doença, das formas mais leves às mais severas.
Revela, ainda, quais genes potenciais alvos para medicação que previne AVC tanto na primeira vez quando a recorrência da doença, explica França.
Além disso, fornece ferramentas de previsão de risco genético para AVC, aprimoradas e validadas pela primeira vez em populações de ascendência não-europeia.
“O mais importante é que que a partir do estudo podemos fazer a previsão de risco para ocorrências do AVC em populações muito variadas, inclusive latino-americanas, pois antes as pesquisas eram mais concentrados nos europeus”, acrescenta o pró-reitor.
Segunda principal causa de morte no mundo 291s6c
O AVC é a segunda principal causa de morte em todo o mundo, responsável por aproximadamente 12% do total de mortes e um dos principais contribuintes para anos de vida perdida ou vivida com deficiência.
A incidência e a gravidade do AVC são particularmente altas em países de baixa e média renda, onde ocorrem 70% do total de mortes por acidente vascular cerebral. Por isso, segundo pesquisadores, torna-se extremamente importante adotar uma perspectiva global nos esforços de pesquisa destinados a melhorar a prevenção e tratamento do AVC.

Como foi feito o estudo 423r4d
Os participantes eram de ascendência europeia, asiática, africana, sul-asiática e latina-americana (um terço dos pacientes com AVC não era europeu).
Eles foram derivados de inúmeros estudos e biobancos, como o da Univille, em ville, único do Brasil de AVC, com mais de 8 mil amostras e dados clínicos, demográficos e socioeconômicos. O biobanco tem, inclusive, a aprovação do Ministério da Saúde e Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP) há mais de dez anos.
Informações coletadas pela universidade contribuíram para fazer um cálculo de predição de risco, ou seja, uma fórmula matemática para prevenir riscos na população latino americana em relação à doença.
“É uma pesquisa que abarca populações com ascendências genéticas muito diversas. Incluiu, portanto, populações latino-americanas, como é o nosso caso, além de africanas e asiáticas. Então, o estudo tem enorme relevância porque amplia a investigação de variantes genômicas que possam ter relação com o risco ao AVC para outras populações”, explica o professor.
O estudo foi conduzido por integrantes do Gigastroke Consortium, envolvendo vários consórcios e redes internacionais, como ISGC e CHARGE, e investigadores de mais de 20 países. Foi co-liderado por dois centros de pesquisa na Universidade de Bordeaux (França) e na Universidade LMU em Munique (Alemanha), juntamente com departamentos de pesquisa da Universidade de Tóquio (Japão), Universidade de Tartu (Estônia), Universidade de Ibadan ( Nigéria), o VA Boston Healthcare System e Harvard Medical School (EUA).
“A contribuição dos participantes do estudo em diversas etnias aumentou a capacidade de detectar novas associações genéticas, refinando nossa compreensão de seus fundamentos biológicos e permitindo melhorar a transferibilidade da previsão de risco poligênico de AVC entre os continentes, avaliou a doutora Stephanie Debette, professora de Epidemiologia e Neurologista da Universidade de Bordeaux, Inserm, e Hospital Universitário de Bordeaux, e diretora do Centro de Pesquisa em Saúde da População de Bordeaux, uma das líderes do presente estudo.
Anos de investimento 5440g
“É um orgulho! São muitos anos de investimento contínuo com recursos próprios da Univille e dos parceiros de financiamentos, como a Fapesc e o CNPq, e isso tem gerado muitas teses e dissertações no Programa de Pós-Graduação em Saúde e Meio Ambiente, assim como trabalhos de estudantes de graduação. Um acúmulo de conhecimento e produção científica que nos dá visibilidade a ponto de sermos chamados a integrar equipes internacionais, pois a relevância do vasc e do Biobanco é reconhecida para fora dos nossos muros. Em termos de legado, geramos ciência com o foco na nossa população (pesquisadores, pacientes, equipes multidisciplinares), que é sempre disposta a participar”, finaliza Paulo França.