O câncer de próstata é o segundo mais comum entre os homens, atrás apenas do câncer de pele não melanoma – Foto: DivulgaçãoRealizada durante todo este mês, a campanha Novembro Azul pretende quebrar o estigma do cuidado com a saúde masculina. Tradicionalmente, as mulheres têm se mostrado mais proativas na busca por serviços de saúde, uma realidade impulsionada por fatores culturais e pela própria dinâmica do cuidado feminino. Enquanto muitos homens procuram auxílio médico apenas quando os sintomas se manifestam, as mulheres tendem a ser mais preventivas.
Esta discrepância entre os gêneros evidencia a necessidade de adaptar os serviços de saúde às rotinas da população masculina. Uma ideia é oferecer horários flexíveis nas unidades de saúde que permitam aos homens cuidar de sua saúde sem comprometer o trabalho. Muito além da preocupação com o câncer de próstata, muito citado nesta época, a iniciativa é importante para alertar a população masculina sobre a necessidade de se cuidar melhor, alerta Ronaldo Zonta, médico de família e comunidade da Prefeitura de Florianópolis.
Fatores prejudiciais à saúde adotados como estilo de vida, como sedentarismo, tabagismo e uma dieta rica em gorduras e carnes vermelhas, por exemplo, contribuem significativamente para o agravamento de problemas cardíacos, alerta o médico.
“Na prevenção do câncer de próstata, um dos principais problemas é o sobrepeso e a obesidade. Então, se tivermos homens, principalmente acima de 50 anos, que estão com sobrepeso ou mesmo obesos, eles têm mais chance de ter câncer de próstata. Já o câncer de pele, um dos principais registrados na população masculina, pode ser prevenido por meio da proteção solar. Observamos isso principalmente no Sul do país, onde temos uma maior incidência de radiação solar devido aos problemas da camada de ozônio, o que acarreta aumento no número de casos de câncer de pele. Desta forma há a necessidade de usar proteção solar, além de evitar o sol entre 10h e 15 horas”, explica o médico.
As ISTs (infecções sexualmente transmissíveis) são outro grave problema para a saúde dos homens, alerta Zonta, especialmente na faixa etária entre 15 e 25 anos, em que a incidência do HIV tem crescido. “Desta forma há a necessidade, logo no início da vida sexual, de saber sobre a necessidade de testar o HIV e outras ISTs de rotina, pelo menos a cada seis meses, uma vez por ano e também conhecer a PEP e a PrEP como alternativas. Então se a pessoa faz uso irregular de camisinha, o ideal é fazer com frequência de três a seis meses. Já se esse uso for mais regular, pelo menos uma vez por ano ou a cada seis meses, é indicado que sejam feitos esses exames”, explica o especialista.
A PrEP consiste no uso de medicamentos anti-HIV de forma programada para evitar uma infecção pelo vírus. Já a PEP é uma medida de prevenção de urgência para ser utilizada em situação de risco à infecção pelo HIV. Deve ser utilizada após qualquer situação em que exista risco de contágio, tais como violência sexual, relação sexual desprotegida (sem o uso de camisinha ou com seu rompimento) ou acidente ocupacional (com instrumentos perfurocortantes ou contato direto com material biológico).
O médico lembra ainda a importância da prevenção contra a sífilis, doença que afeta principalmente as mulheres que estão em relacionamentos que acreditam ser monogâmicos. “O homem tem que se cuidar e se prevenir, pois durante o parto, a sífilis pode provocar problemas nas crianças, como defeitos congênitos, por exemplo. Muitos não fazem isso e acabam por infectar suas parceiras.”
Prevenção ao câncer de próstata no dia a dia 1o2y5b
O câncer de próstata é o segundo mais comum entre os homens, atrás apenas do câncer de pele não melanoma. Entre 2023 e 2025, a estimativa do Inca (Instituto Nacional de Câncer) é de 72 mil novos casos da doença a cada ano. De acordo com Zonta, para prevenir a incidência da doença, as principais atitudes no dia a dia são ter peso adequado, não fumar, controlar o uso de álcool e fazer atividade física.
Ainda sobre a prevenção à enfermidade, o médico alerta que ainda hoje há muita desinformação no Brasil, como propagandas dizendo que é preciso que todos façam os exames de toque e dosagem de PSA. “Existem vários estudos que questionam isso. Outros países não fazem campanha nesse sentido, mas fazem para deixar claro que homens entre 45 e 69 anos – porque temos pouco conhecimento sobre homens com menos de 45 e acima de 70 – podem procurar um médico de família de confiança para discutir se vale a pena fazer ou não. Porque os exames apresentam muitos falsos positivos”, explica.
Além disso, de acordo com Zonta, há uma situação em que são identificados cânceres chamados de indolentes, que não se desenvolvem. “Ou seja, esse homem, com esse tipo de câncer indolente, provavelmente não irá adoecer ou morrer pelo câncer de próstata.. Assim, ao realizarmos exames em pessoas que não sentem nada em relação ao câncer de próstata nessa idade, entre 45 e 69 anos, nós, talvez a cada mil homens, vamos submeter 100, 200 a exames desnecessários, que levariam à ansiedade, biópsias ou mesmo à retirada da próstata devido a cânceres que não evoluíram. É claro que hoje cada vez mais se discute a necessidade de diagnosticar um câncer de próstata, às vezes fazendo o que chamamos de conduta expectante, observar e realmente não intervir. Porém, o foco quando colocamos o câncer de próstata deve ser principalmente nos cuidados com o estilo de vida e entre homens entre 45 e 69 anos, ter profissionais de saúde que possam discutir as vantagens e desvantagens de fazer ou não exames”, esclarece o médico.
Ele alerta, no entanto, que a situação é outra para quem apresenta sintomas, como o jato de urina enfraquecido, dificuldade para começar e terminar de urinar ou a presença de sangue na urina. “Estes são indícios de que há a necessidade de procurar um profissional o mais rápido possível. Mas se você não sente nada, é uma discussão que você precisa ter com um médico de família de confiança. E se você focar sua saúde em parar de fumar, perder peso, ter um controle alimentar adequado, fazer atividade física e controlar o álcool, provavelmente estará prevenindo muito mais do que qualquer outro exame que vier a fazer”, afirma o profissional de saúde.
Na Capital, os homens podem procurar as equipes de saúde de família nos centros de saúde mais próximos de suas casas, para isso podem agendar a consulta pelo Alô Saúde Floripa pelo número 0800 333 3233.
Mortes violentas z6y70
Outras principais causas de morte em homens, e por isso os homens também acabam, em geral, tendo uma expectativa de vida menor que as mulheres, são as mortes violentas, seja por acidentes de trânsito ou por armas de fogo.
“Por isso há uma necessidade de uma cultura de paz no trânsito, onde possamos evitar acidentes de carro, o uso de álcool no volante, alertar para a importância do uso de capacete, cinto de segurança, além do o, controlado apenas para a Polícia e forças de segurança., de armas de fogo. Então o trabalho do Novembro Azul é dar uma conscientização geral sobre essas questões. De modo geral, as principais questões a serem observadas para a melhoria da saúde do homem atualmente envolvem principalmente problemas cardíacos, cânceres, não só de próstata, mas também de pele e de pulmão, e doenças infecciosas, HIV, sífilis e hepatites virais”, finaliza Ronaldo Zonta.
