Plásticos, as, detergentes, produtos de higiene e beleza como esmaltes, sombras e protetor solar. São várias as peças as quais usam ingredientes químicos em sua composição que, no contato cotidiano, são transferidos para o corpo humano e mudam interações hormonais importantes para o organismo. Os efeitos podem ser vários, entre eles a infertilidade.

Além de estarem nos produtos que usamos cotidianamente, químicos como alguns bisfenois, ftalatos e alquilfenóis são ingredientes encontrados também nas águas, como explica a engenheira química e professora aposentada da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina), Sonia Corina Hess.
“Quando descartados, todos esses produtos vão parar em algum lugar, em geral no mar ou no rio. Esses rios servem de mananciais de abastecimento para as cidades e as águas estão vindo contaminadas com essas substâncias”, conta a professora.
Explicando a disrupção endócrina 394z5p
Esses ingredientes produzidas industrialmente são capazes de enganar os hormônios do nosso corpo, como afirma Sonia. “Eles afetam determinado comportamento hormonal, impedindo a ação ou entrando na célula, fingindo ser aquele hormônio e essas substâncias se desequilibram, sobretudo as sexuais”.
A questão é resumida em um termo chamado disrupção endócrina que, segundo o pneumologista e coordenador clínico do CIATox (Centro de Informações e Assistência Toxicológicas de Santa Catarina), Pablo Moritz, trata de substâncias que interferem no sistema que controla a reprodução, a função da tireoide, o humor e uma série de outras coisas.
A maioria dos cosméticos- não todos- têm o poder de perturbar o bom funcionamento do organismo. “O sistema endócrino é regido por hormônios, substâncias que trabalham em doses muito pequenas, com grandes efeitos no nosso sistema hormonal”, explica o médico.
“É uma loucura”, definiu a engenheira química, Sonia. Substâncias artificiais, como os ftalatos, são capazes de alterar o comportamento em animais de laboratório. “Macho se comporta como fêmea e fêmea se comporta como macho. Eles mudam o equilíbrio dos hormônios sexuais mas não só isso- eles afetam todo o funcionamento do organismo”.
Que a exposição à esses químicos gera infertilidade, tanto masculina quanto feminina, é sabido desde a década de 1970, quando foi publicado o livro “O nosso futuro roubado“. Com o aprofundamento das pesquisas no setor, descobriu-se que outros problemas podem ser causados: câncer de mama, de próstata, obesidade, diabetes, malformações congênitas e alterações psiquiátricas.
Reduzindo o contato com esses ingredientes 49x4t
Pablo Moritz conta ainda que há fases críticas, quando esses químicos possuem maior chance de influenciar o organismo. Pessoas em desenvolvimento, como crianças, adolescentes e grávidas precisam ter cuidados maiores e evitar alguns comportamentos que ampliam o contato com bisfenois e ftalatos.
“Uma recomendação expressa dos órgãos ambientais da Europa e dos Estados Unidos, quanto às gestantes e crianças, é quanto aos tipos de peixes que devem ou não ser consumidos. Atum e sushi, por exemplo, não deve ser consumidos em nenhuma quantidade”, afirma Pablo.
Entretanto, o médico lembra que pescados são uma fonte alimentar importante para a saúde das gestantes e das crianças. “Deve-se usar, mas dando preferência para aqueles peixes pequenos, que têm vida menor e são criados longe de grandes centros industriais”.
Existem outras recomendações, como os cuidados quanto ao tipo de protetor solar e demais cosméticos escolhido pelas gestantes. É importante evitar armazenar alimentos quentes e gordurosos em embalagens ou potes de plástico e nunca usá-los para aquecer alimentos.
as antiaderentes velhas também podem liberar químicos com função de desrupção endócrina. Com esses cuidados, segundo o médico, é possível reduzir o impacto destes químicos na vida das pessoas.
Apesar de existirem opções para reduzir o contato, não há muitas maneiras de eliminá-lo, como explica Sonia Hess enquanto lembra que as águas estão contaminadas com essas substâncias, mesmo as tratadas. Algumas das sugestões deixadas por ela são: consumir a menor quantidade possível de alimentos industrializado e jamais usar plástico em contato com alimento quente.
“A gente vê nas festas o pessoal servindo sopa, coisa quente, em embalagem plástica. Isso é muito perigoso. Tomar cafezinho direto em coisa de plástico, coisa quente e gordurosa, é um perigo porque aumenta a transferência dessas substâncias que estão na embalagem para o alimento”, explica a engenheira química.
Para Moritz, outra questão importante é as agências reguladoras começarem a ouvir a ciência e tomar atitudes em relação ao problema. Essas instituições são as únicas com poder para medir o tamanho do estrago desses químicos no Brasil, para que os cientistas possam escolher aqueles ingredientes menos danosos e orientar melhor da população.