De acordo com a ONU (Organização das Nações Unidas), o o à higiene menstrual é tido como um direito e deve ser tratado como uma questão de saúde pública e de direitos humanos. É o que mostra o relatório Livre para Menstruar, elaborado pelo movimento Girl Up, que busca o o gratuito a itens de higiene e condições básicas de saneamento para as mulheres. No Brasil, uma em cada quatro adolescentes não possui um absorvente durante seu período menstrual.

É caracterizada como pobreza menstrual, a falta de o não somente a itens básicos de higiene durante o período de menstruação, mas também de informação, de dinheiro para comprar absorventes e, principalmente, de apoio.
O relatório estima que uma pessoa que menstrua gasta entre R$ 3 mil e R$ 8 mil reais ao longo da vida com a compra de absorventes, o que para as pessoas que se encontram em situações de vulnerabilidade social, representa aproximadamente quatro anos de trabalho para custear todos os absorventes que serão usados na vida inteira.
A estudante de Direito Gabriela*, de 21 anos, nasceu e cresceu em um bairro pobre de Florianópolis. Hoje, ela estuda e trabalha, porém, parte de sua adolescência foi marcada pelo constrangimento e pela falta de cuidados quando o assunto era menstruação.
“Minha mãe já é uma mulher mais velha, então, esse assunto não era falado, apenas explicado que aconteceria e as formas de não deixar vazar. Só que ao mesmo tempo, a gente não tinha nem dinheiro pra comida direito, então, eu nem tinha o que precisava para resolver esse “problema””, explica ela.
Hoje, no Brasil, os absorventes não são considerados por lei itens de higiene básica, e sim, cosméticos, o que impede que eles façam parte do conjunto de itens essenciais em cestas básicas.
“Eu usava absorvente quando conseguia na escola ou sobrava algum dinheiro, se não eram pedaços de pano. Às vezes, eu deixava de ir aos lugares, até a escola eu já faltei. As coisas mudaram quando eu consegui meu primeiro emprego e pude eu mesma comprar”, conta Gabriela*.
Saúde íntima não é ‘normal’ para todas 2r1h43
Gabriela* também destaca a falta de informação sobre saúde íntima. Ela conta que viveu momentos constrangedores conforme crescia e adoecia em decorrência de infecções, sem saber que poderia ser pela falta de cuidados adequados.
“Eu fui ao ginecologista pela primeira vez aos 18 anos. Sozinha, no posto de saúde. Foi apenas lá que eu entendi sobre pH vaginal e ciclo menstrual de forma certa. Depois que entrei na faculdade e tive o à internet, aí pude pesquisar muita coisa e descobri que existem pessoas falando sobre isso abertamente, lutando pela causa. Eu nem sabia que era uma causa”, finalizou a estudante.
Como consequência de mobilizações de grupos, movimentos ativistas e instituições, o tema começa a ganhar visibilidade nos projetos de políticas públicas. Um dos principais motivos da ausência de itens para higiene íntima é de natureza financeira.

A ginecologista Fernanda da Silva afirma que muitas mulheres que chegam ao consultório relatando uma adolescência com menos recursos e orientação, destacam o problema financeiro como o principal motivo para não terem ado o item quando mais novas.
“Eu não tinha percebido esse padrão, até que uma paciente contou sua história e eu pude entender o difícil histórico dela”, conta a médica.
A falta de o faz com que muitas mulheres improvisem para atravessar o ciclo menstrual. Muitas permanecem com o mesmo absorvente por muitas horas ou utilizam pedaços de pano, roupas velhas, jornal e até miolo de pão, resultando em problemas que variam de alergia e candidíase à síndrome do choque tóxico, potencialmente fatal.
Mas o problema não se restringe à saúde pública, uma vez que causa impacto direto na educação dessas adolescentes. De acordo com o relatório “Pobreza menstrual no Brasil – Desigualdades e violações de direitos”, elaborado pelo Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância), cerca de 321 mil alunas, 3% do total de meninas nas escolas, estudam onde não há banheiro em condições de uso.
A saúde emocional que a pobreza menstrual acarreta contribui para o aumento de evasão escolar. A psicóloga Adriana Carvalho conta que ar por momentos de vergonha com o próprio corpo pode ser comum em uma certa idade, mas não deve ser normalizado.
“A vergonha, além de física, muitas vezes vem desse lugar, onde você não quer que ninguém saiba que algo diferente está acontecendo com o seu corpo. Quando menstruamos é assim, e se não tem como esconder, pode virar um trauma”, explica Adriana.
Quando a escola se torna um lugar de acolhimento 1g344h
As irmãs Bruna*, de 15 anos e Jéssica*, de 17, moram na linha Vitório Rosa, em Chapecó. As duas vivem apenas com o pai, que foi quem as orientou nessa nova fase da vida.
Na escola, as duas morriam de medo de manchar a roupa, pois nem sempre tinham outro absorvente para trocar. Elas também tinham receio de as pessoas verem que elas estavam menstruadas.
“Nosso pai meio que explicou tudo. Só que foi rápido e confuso, e a gente pediu ajuda a uma professora pra entender melhor”, comenta Jéssica.
As duas adolescentes contam que nem sempre tiveram dinheiro para comprar absorventes, mas que uma vizinha levava alguns para elas quando podia.
“Bem no começo, a gente recebia ajuda, às vezes. Hoje tem distribuição no bairro, daí nós pegamos para o mês. Na escola tivemos uma aula só para tirar dúvidas, uma aula só para meninas”, explica a irmã mais nova.
A assistente social Samanta Rolloff trabalha há 10 anos na área e explica a importância da educação menstrual para empoderar as mulheres sobre o próprio corpo e decisões, além de torná-las protagonistas de suas histórias.
“A pobreza menstrual, para além da menstruação, é um tema que vai impactar diretamente em outras áreas da vida das mulheres”, aponta Samanta.
Após anos na profissão, Samanta resolveu, enquanto participante da comunidade na cidade de Xanxerê, criar um projeto chamado “Virei Lua”, que orienta e conscientiza sobre a pobreza menstrual, além de distribuir 50 kits por mês contendo itens de higiene pessoal.

“Além de ajudar, o projeto quer levar mais educação, orientação e cuidado às mulheres”, conta ela. “A parte política também é importante, por isso, a aprovação do Projeto de Lei Nº ,4.304/2021, um programa municipal de promoção da saúde menstrual, é tão necessário, uma vitória contra a pobreza menstrual”, afirma.
Muitos municípios de Santa Catarina colocaram em pauta a criação de projetos de lei para discutir e achar a melhor forma de cada cidade contribuir com adolescentes e mulheres que precisam de ajuda. Confira neste link a lista de municípios e suas ações.
O Diário Oficial da União publicou na última sexta-feira (18) a Lei 14.214/2021, que cria o Programa de Proteção e Promoção da Saúde Menstrual. O Congresso Nacional derrubou o veto do presidente Jair Bolsonaro sobre a lei no ano ado.
A lei determina que estudantes dos ensinos fundamental e médio, mulheres em situação de vulnerabilidade e presidiárias recebam, de forma gratuita, absorventes para sua higiene pessoal.